Capítulo 8

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Beatrice

John estava ao lado daquele caixão paraguaio e seus olhos estavam muito arregalados. Fiquei olhando meu irmão como se os olhos dele pudessem encontrar os meus e ele o fez. Olhou para todos os lados, mas eu estava no meio de gente apavorada que corria de um lado para o outro, com certeza ele não havia me visto. Os gritos de Anna continuavam por todo o local e aquilo estava me fazendo ficar com vontade de me abaixar e ficar em posição fetal, mas eu precisava me mexer. Peguei o braço de Niccolas e o encarei nos olhos, estavam marejados... Cara, Nicco tinha Anna como uma irmã. O corpo dele tremia muito. Ele estava transtornado, mas precisávamos reagir!

— Vamos sair daqui, Niccolas! — Ele ainda não se mexia, então eu puxei com mais força e gritei — AGORA!

Olhei de novo para o campo e o menino intitulado Alucard estava ajudando a retirar as líderes de torcida em pânico. Uma delas era John, que estava desmaiado em seu ombro. Entendi o motivo: O caixão fora aberto. Anna estava exposta. Completamente queimada. E aquele cheiro... Virei o rosto pro lado e sai puxando Niccolas para fora dali, querendo sair o mais rápido possível daquelas arquibancadas e ir de encontro ao meu irmão. Ele tropeçava nos próprios pés e, no meio daquela correria toda ao nosso redor, eu deixei as lágrimas escorrerem.

Anna e eu não tínhamos tanto contato como com as outras meninas, mas sempre que eu precisei ela estava lá, cuidando de mim - literalmente - e dos outros, me ouvindo, me ajudando, revoltando-se comigo... E agora Smile a havia tirado de mim... E a exposto para todos, junto com as filmagens das outras mortes. O telefone vibrou no meu bolso e, com a mão livre, eu o peguei. Era uma mensagem de texto. Parei com Niccolas junto a parede do corredor deixando os outros em pânico passarem... A mensagem estava vazia e havia outra... Entendi na hora. Ele havia mandado outra para que eu lesse a anterior. Franzi o cenho e a abri, com as mãos tremendo a visão embaçada por conta do choro. Então eu a li em voz alta.

— "A morte caminhará. E os mártires serão queimados no fogo do inferno"... — O pânico tomou conta de mim e me sufocou, olhei para Niccolas e completei — FOGO! O assassino... Ele...

Então, ouvi a explosão. Olhei para trás e percebi que as arquibancadas estavam em chamas. Os gritos desesperados das pessoas presas nelas fizeram com que a minha garganta apertasse ainda mais. Puxei a mão de Niccolas outra vez e voltamos a correr. Smile era um genocida, assassino, psicótico e louco! Nunca corri tanto em minha vida como naquele momento. Viramos para o lado que dava acesso aos vestiários, alguns jogadores estavam lá.

— Você não pode entrar! — Gritou o treinador comigo — Aqui é somente para homens!

— Então finja que eu tenho um pinto! — Rebati, puxando Niccolas ainda em choque comigo — E me trás água, garoto da água!

O menino magricela no canto olhou assustado de mim para o treinador, então o tal Alucard tomou a dianteira e trouxe uma garrafinha de água para mim. Eu a entreguei pra Niccolas. O tal jogador sussurrou pra mim.

— Seu irmão já acordou, está deitado nas macas da enfermaria com mais uns outros. Vou pra lá. Qualquer coisa, você tem meu telefone!

E desatou a correr com outros jogadores. Olhei nos olhos de Niccolas e ele me encarou, as lágrimas escorrendo uma atrás da outra, as mãos na garrafinha sem se mexer, ele a segurava da forma que eu havia dado. Suspirei e abri a tampinha, levei a garrafa até os lábios de Niccolas e ele tomou um gole. Meu coração estava batendo com muita força e as minhas pernas estavam começando bambear... Lembrei do rosto de Anna e... Não. Eu precisava ser forte por Niccolas! Ele se aproximou de mim, encostou a cabeça no meu ombro e então começou a chorar.

Kill EverybodyWhere stories live. Discover now