Capítulo 2

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Melanie saiu dali. Era uma assombração, uma alucinação sua. Se não tivesse visto o olhar de Samantha antes, teria certeza disso. Mas ouvia passos no chão refinado do salão, atrás de si. Não queria se virar. Não queria ver. Ele sumira, há quatro anos. Fora para o nada, e o casamento estava acabado. Deus, então porque ela sentia aquela presença opressora perto de si?

Harry: Está bem, ma belle? – Ela cerrou os olhos. Apelidos nessa altura estavam fora de cogitação.

Melanie: Vá embora. – Rosnou, tomando outro gole do champanhe, ainda sem olhá-lo. Ela ouviu o som do riso fraco dele.

Harry: Não parece estar com saudades. – Disse, e sua voz parecia divertida. Ela continuava caminhando lentamente entre as telas, sem aparentar sua agonia, os outros não precisavam ver.

Melanie: Eu não estou. – Disse, decidida.

Harry: Você mente. – Rebateu, na mesma hora.

Melanie: O que quer? – Perguntou, atordoada. Harry observou os cachos dela, caindo pelas costas, do tom mais intenso de chocolate. Eram mais claros quando ele se foi.

Harry: Você é minha mulher. Não preciso de satisfações para vir a sua vernissage, preciso? – Perguntou, parecendo calmo.

Com essa Melanie se virou. Quatro anos depois, o verde e o azul se encontraram. Havia muito naqueles olhares para ser descrito. O coração dela acelerou desagradavelmente sob o vestido negro, ao revê-lo. Ainda pálido, os cabelos agora curtos. Os olhos de um verde esmeralda, intensos. Usava calça social, uma camisa preta por baixo de um terno também preto.

Melanie: Não sou mais. – Corrigiu, em um rosnado. – Já são quatro anos, se você não percebeu.

Harry: Percebi cada segundo. – Observou – E que mulher magnífica você se tornou, Melanie. – Ele ergueu a mão forte e tocou o rosto dela, por debaixo do cabelo e até do brinco.

Melanie se surpreendeu ao ver a aliança dos dois no anular esquerdo dele. Melanie conhecia aquela aliança. Seu nome estava gravado na parte interior dela.

Melanie: Tire a mão de mim. – Ordenou, furiosa. Harry sorriu, divertido. Mas antes que pudesse responder, interromperam.

Repórter: Melanie, uma foto? – Pediu, com a câmera na mão.

Melanie se afastou dele, exibindo seu melhor sorriso para a foto: A velha arte de sorrir quando se quer chorar.

Melanie: Espere. – Disse, quando o fotografo ia tirar a segunda foto. – Samantha?

Samantha olhou a amiga, assustada, mas logo se recompôs. As duas se abraçaram, sorrindo, e um novo flash surgiu. O fotografo saiu e Melanie se virou pra Samantha, ignorando Harry, que observou, achando graça.

Melanie: Sam, quando eu passei pela ala oeste tinha um senhor com aquela tela que nós tentamos nomear sem sucesso. – Ela riu de leve, e Samantha sorriu – Disse estar interessado. Peça a Louis para avaliar e informar-lhe o preço, por favor? – Samantha assentiu. Melanie assentiu uma vez, de leve, a pergunta muda da amiga, que implorava por sair dali. Samantha logo havia sumido.

Harry: O que há? – Perguntou, prendendo o riso.

Melanie: Olá. – O garçom sorriu pra ela, enquanto enchia sua taça – Escute, quero que procure seu superior. Diga-lhe para servir os aperitivos, sim? – O garçom assentiu – Obrigado.

Harry: Ainda com a mania de agradecer aos subordinados. – Comentou, observando.

Melanie: Chama-se educação, querido. – Disse, virando-se para ele, enfezada, para sentir um novo choque ao vê-lo em sua frente – E você seria educado saindo daqui e me deixando terminar minha vernissage em paz. Seria educado se saísse da minha vida novamente, do mesmo modo como voltou. – Sugeriu.

Harry: Pois muito bem. Eu não gosto que me interrompam quando trabalho, você bem sabe. – Melanie esperou – Vou esperar para que termine sua vernissage, que a propósito, está de parabéns. – Melanie revirou os olhos, e tomou um gole de champanhe. – E para a segunda opção, nós discutiremos depois. Até breve, ma belle. – Ele se inclinou para beijá-la, e ela automaticamente desviou o rosto. Ele sorriu, ainda próximo dela.

Melanie prendeu a respiração, não queria sentir o hálito dele. Ele beijou o rosto dela demoradamente, e logo se afastou. Já era madrugada quando a vernissage acabou. A maioria dos quadros e das fotografias foram vendidos a ótimos preços. Melanie, Samantha e Louis fecharam o salão, combinando de voltarem amanhã e dar conta do resto. Liberaram o bufê, e os funcionários, exaustos, agradeceram. Logo Melanie entrava em seu apartamento. Não queria pensar em Harry. Aquele lugar era seu ninho, sua proteção, tudo ao seu modo. Ela deixou a chave do carro na mesinha, e caminhou, cansada, pro seu quarto. Entrou na suíte, e ligou a água da banheira.

O apartamento estava silencioso como sempre. Ela tirou os sapatos, e colocou num canto. Despejou os sais de banho na água, fechando a torneira. O vestido de seda negra deslizou até seus pés, e ela o colocou em um canto. Prendeu o cabelo, tirou a lingerie e se deixou relaxar na água fervente. O banho durou até que a água, morninha, começou a esfriar. Tudo que Melanie queria agora era cama. Ela se levantou, se secou, vestiu uma camisola curta, de seda branca. Penteou os cabelos, e os prendeu em um rabo de cavalo. Usou uma solução para livrar o rosto da maquiagem, e estava pronta pra sua cama de casal, confortável e quentinha. Apagou a luz do banheiro, e, ao sair, ouviu sua própria voz vindo da secretaria eletrônica da sala.

Olá. Você ligou para Melanie Rose. No momento não posso atender. Ligue no celular ou deixe uma mensagem, e logo responderei. Biiip.

Samantha: Mely? Sou eu, Samantha. Quando der liga pra mim, ok? Quero muito falar com você, amiga! Beijos.

Melanie: SAMANTHA! – Gritou, se atirando pelos corredores.

Melanie pensou ter ouvido um riso após seu grito histérico, e freou. Mas o silencio predominava. Ela correu até o telefone, e o apanhou.

Melanie: Sam? – Ela sorriu – Eu estava no banho. – Justificou.

Melanie avançou pelos corredores, tranquila, conversando com Samantha., e entrou em seu closet. Tinha tanta roupa que precisava de um cômodo inteiro para guardá-las.

Melanie: É um sádico. Mas não se preocupe com isso. – Tranquilizou – Eu deixei claro pra ele que quero que desapareça, que se exploda. Vou pra justiça, se for necessário.

Samantha: O que ele disse?

Melanie: Disse que não ia me interromper na vernissage, mas que em breve nós conversaríamos. – Ela revirou os olhos, se olhando no grande espelho que cobria a parede do fundo do cômodo. – É um sádico, já disse.

Então, encontrou suas pantufas brancas arrumadinhas, no canto entre uma prateleira e a porta da saída do closet. Sua voz travou.

FLASHBACK

Melanie: Porque eu não posso deixar aqui? – Perguntou, emburrada, cruzando os braços. As pantufas rosa estavam nos pés da cama, escondidinhas.

Harry: Porque o lugar delas não é ai, meu amor. – Disse ,achando graça do biquinho dela. Era manhã. Os dois discutiam porque ela deixava as pantufas debaixo da cama, e ele insistia que elas deveriam ficar no closet.

Melanie: Mas eu me acostumei aqui. – Choramingou. Harry riu, divertido, e carregou ela, enchendo-a de beijos.

FIM DE FLASHBACK

E quantas vezes haviam discutido por isso? Melanie deixava as pantufas debaixo da cama, e Harry as colocava atrás da porta do closet. Melanie tinha deixado as pantufas embaixo da cama aquela manhã. Tinha certeza absoluta disso. E agora estavam no closet. "Até breve", ele dissera.

Samantha: Mely?

Melanie: Samantha, ele está aqui. – Murmurou, com um pânico anormal a invadindo. Deixara as pantufas debaixo da cama. Tinha tanta certeza disso quanto de seu próprio nome.

P.S.: Eu Te Amo (Livro 1)  [H.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora