Capítulo 1

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  E novamente ali estava eu, olhando para a janela naquele domingo chuvoso, ouvindo aquelas músicas que me faziam lembrar de nós, de tudo. Olhava para a janela e pensava no meu, no nosso passado, e quando percebi, aquelas lágrimas que estavam presas há tempos estavam saindo, elas deslizavam sobre meu rosto, como se acompanhassem o clima lá de fora.
   Desde aquele dia em que te perdi naquele acidente de carro tento ser forte, juro que até caí naquela baboseira de que você estava em um lugar melhor, e que não gostaria de me ver chorando, e nós dois sabemos como odeio essas fugas mentirosas que inventam para tentarem fazer aquela dor se amenizar. Ou melhor, nós dois sabíamos, de uma forma ou outra. Mas o caso é que, na verdade, tentei ser forte por mim, para me lembrar que você havia partido, mas que eu ainda tinha uma vida inteira pela frente. Você sabe que nunca fui aquelas garotas dramáticas que sofriam para chamar atenção de todos, para receber aqueles olhares de dó, piedade ou eu sei lá mais o que. Então, estava de fato sendo o que as pessoa chamavam de "forte", não queria abraços e muito menos que me oferecessem ajuda. Só queria paz, para conseguir seguir minha vida, e me levantar sozinha, então, para isso, resolvi ser "forte". Às vezes até sorria, e simplesmente apagava o fato de ter te perdido.
   E assim foram se passando os dias, juro que passei bem, mas sabe, às vezes esquecer não é tão fácil como pensamos, e às vezes a dor vinha, sem eu conseguir contê-la. "Dor", não gostava de chamá-la assim, era só saudade, de uma época feliz, de histórias, e de partes minhas que tinham ido embora junto com você.
   Então, quando ela voltava, era assim que ficava, colocava meus fones, deitava na cama e ficava olhando para a janela, sozinha, pensando; às vezes até me arriscava a escrever uns versos, como sabe, sempre fui melhor com eles do que com pessoas. E eram nesses momentos que agradecia mentalmente por ter me tornado independente e saído de casa cedo, se fosse há alguns anos atrás, minha mãe provavelmente estaria batendo na porta do meu quarto igual uma doida, perguntando se eu estava bem e me forçando a desabafar, mesmo que não quisesse falar nada.
  E ali estava eu, deitada na minha cama, ouvindo a música e a chuva e chorando um pouco, quando ouvi um barulho vindo da janela da cozinha. Assustada, levantei rapidamente, me libertando dos meus pensamentos e limpando as lágrimas.
   - Maldita hora pra janela fazer barulho, nem morando sozinha posso sofrer em paz! Merda! Espero que seja algo interessante! -gritei sozinha a caminho da cozinha.
   Quando avistei a janela soltei um grito e dei um pulo pra trás.

Quando você se foi - pausado Onde histórias criam vida. Descubra agora