Estava no trabalho quando notei que já era quarta-feira e ainda não tinha lido o texto do Felipe no jornal, ansiosa e com um pouco de culpa, esperei a página carregar, aguardando o que estava por vir.
Diferentemente das outras vezes, naquele dia, achar sua coluna foi um pouco mais difícil, por estar alguns dias atrasada. Procurava desesperadamente sua foto em meio aquele monte de notícias e textos que não queria ler. Até que finalmente o achei. Cliquei e para minha surpresa, a página carregou mais rápido que o normal. Talvez até a internet estaria colaborando com nós dois naquela manhã. Pulei a introdução e fui direto para o texto, ansiando para ver suas palavras.
Notícias de um domingo ensolaradoIncrível como nunca sabemos como um domingo ensolarado acabará.
Naquela manhã, acordei animado, com o sol irradiando na janela do meu apartamento, ou melhor, tentando, sendo ofuscado pelo prédio da frente. Acabara de ter uma noite maravilhosa e era como se nada pudesse estragar meu dia. Levantei sem preguiça, tomei um café completo e resolvi pegar um livro para ler, ironicamente, acabei achando um romance antigo. Viajei nas palavras daquele autor apaixonado e em certos momentos, confesso que me identifiquei com algumas histórias. Tinha tudo para ser um dia perfeito.
Porém, o infortúnio da vida, acabou fazendo aquele dia acabar em lágrimas, não minhas, mas de pessoas com quem me importo, o que é praticamente a mesma coisa.
Um acidente acabou levando à outros acidentes e quando menos percebi, estava deitado esperando a insônia passar, pensando no meu, no seu, no nosso significado no mundo, ou melhor, na nossa insignificância. Em como, de um dia para o outro, uma pessoa simplesmente some, deixa de existir, de viver, de respirar, de amar. Em como a vida era injusta.
Finalmente dormi e após algumas horas acordei. Novamente animado, acreditando, pronto para passar por tudo novamente e brincar mais um pouco nesse nosso jogo diário que chamamos de vida.
Novamente me surpreendi com aquelas palavras, incrível como ele conseguia se expressar de uma maneira que fazia meu coração acelerar e parar de novo em questão de segundos. E novamente, me identifiquei, cheia de dúvidas. Aquele domingo seria o nosso domingo? Ou algo apenas inventado? Aquele acidente, seria o que contei? Ou apenas algo para conseguir mais uma reflexão de boteco?
Incrível como milhares de perguntas passavam pela minha cabeça toda vez que pensava nele.*
Após o almoço, resolvi mandar uma mensagem para Felipe, afinal, apenas havíamos trocado mensagens de bom dia até o momento.
"Oi, tudo bom?"
Enviei cheia de dúvidas e incertezas. Dois minutos depois ele respondeu.
"Oi, tudo e vc? Como tá o dia?
Confesso que sorri ao ver a notificação na tela do meu celular. Era bom conseguir sorrir por alguém novamente.
"Tudo certo e o seu?"
"Também" - respondeu em menos de um minuto.
"Que bom!! Você não sabe, li seu texto só hoje! Adorei, parabéns!" - enviei, incerta de qual seria a reação dele, não sabia se ficaria contente por ter lido ou bravo por ter demorado tanto para fazê-lo
"Fico feliz que tenha gostado! Acho que consegui outra 'fonte de inspiração divina'" - mandou ele, me zoando pela forma que havia falado no dia em que nos 'conhecemos'. Fiquei aliviada pela resposta ter vindo no sinal positivo e não me condenando pela demora.
"Hahaha. Bom, preciso voltar pros compromissos! Bom restinho de dia!"
"Obrigado, você também, quando der conversamos mais."
Levando a conversa como encerrada, me levantei e fui ao banheiro me arrumar para o restante do dia. Me olhei no espelho, me sentindo bem novamente, acho que finalmente estava me reencontrando depois que você se foi. Estava voltando a ser aquela menina de sorriso fácil, ou talvez as circunstâncias estavam me fazendo sorrir com mais frequência, não sei.
Feliz, porém com preguiça, peguei minha bolsa para o restante do dia, sai do apartamento e tranquei a porta sem sequer olhar para frente. Quando estava a caminho do elevador, ouvi um assovio e olhei para trás.
Ali estava Felipe, com uma calça jeans, camisa rosa bebê e sapatos sociais. Seu cabelo estava meio bagunçado e a camisa um pouco amaçada, o que me fez presumir que ele estivesse aproveitando seu horário de almoço para ficar de bobeira deitado no sofá ou na cama.
- Não vai me falar oi? - disse olhando para mim enquanto eu, como de costume, reparava em tudo.
Sem graça, fui até ele e o cumprimentei.
- Desculpa, não tinha te visto. - disse, com sinceridade.
- Sem problemas. Ainda tenho mais um tempo de almoço, só vim pra conseguir te falar um oi mesmo. Bom restinho de dia!
Tocada com suas palavras, novamente sorri, dei um abraço nele, agradeci e fui embora, alegando estar atrasada, o que realmente estava, pra variar.
No caminho para o trabalho, tudo que pensava era nele, em como tudo tinha mudado depois daquele dia em que um estranho havia invadido meu apartamento.
Talvez estivesse tão distraída em meus pensamentos que não percebi o homem que me seguia na calçada do lado. Só o notei quando ele passou correndo do meu lado, levando consigo minha bolsa.
- Volta aqui!! Ajuda! Ladrão, ladrão! - gritei desesperadamente, mas era como se ninguém me escutasse, apesar da rua cheia.
Desesperada e sem saber o que fazer, segui meu caminho para o trabalho com lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Me senti perdida, minhas pernas tremiam, meu corpo estava perdendo os sentidos. Corri o mais depressa que pude para não cair ali na rua, recebendo alguns olhares por onde passava.
O destino só podia estar de brincadeira comigo.
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Quando você se foi - pausado
RomancePerder alguém que se ama nunca é fácil, mas Bianca vai mostrar, nesse romance incomum, cheio de saudades, que é possível se recuperar de uma grande perda. Por mais difícil e doloroso que seja, sempre haverá um outro alguém, uma outra esperança. ...