Capítulo 8

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  Um dia havia se passado desde o meu primeiro encontro com Felipe e eu não tinha recebido nem um sinal dele. Nenhuma mensagem, ligação ou qualquer outra coisa.
  Cheguei a sair algumas vezes e ficar andando pelo nosso corredor, esperando que ele saísse de sua casa e me visse ali, demorei muito mais que o acostumado para pegar minhas correspondências na caixa do correio, esperando vê-lo ali também.
  A falta de notícia, do saber, me deixava tensa, fazia questionar-me milhões de perguntas sem respostas, me fazia pensar no que havia feito de errado, em algum motivo que dei para ele não gostar de mim. Não conseguia lembrar nada.
  Já era segunda-feira, e finalmente consegui lembrar de um jeito para receber notícias dele, era dia de sua coluna no jornal. Em um tempo livre no trabalho entrei no site a procura de algo que respondesse pelo menos algumas das minhas perguntas, algo que me desse uma dica, ou uma certeza.
  Esperei ansiosa enquanto o site carregava, ignorei a introdução e fui direto para o texto. A ânsia estava me dominando, precisava saber se ele havia escrito direta ou indiretamente sobre mim, sobre nós.

"A cidade acorda cedo"
Carros andando e correndo de um lado pra o outro. Luzes se acendendo, pessoas, gente, correria. São 5 da manhã. A cidade acorda cedo.
Padarias, mercados, postos, todos a postos. Escolas, restaurantes, escritórios. São 6 da manhã, a cidade acorda cedo.
Ande menina, a cidade não vai te esperar. O dia ja raiou, tudo já começou. Ande menina, o tempo já passou. E ele não vai te esperar. O tempo não vai te esperar, aquele garoto não vai te esperar, seu emprego não vai te esperar, seu futuro não vai te esperar.
Ande menina, já passou da hora de despertar.

Li e reli procurando entender sublinhas que não existiam, no fundo eu sabia que estava iludindo a mim mesma. E na realidade não sabia ao certo a razão de tanto desespero, só haviam se passado dois dias, logo ele iria aparecer. Ou não. Acontece que desde que você se foi não me relacionei com ninguém, não me dei a chance de sentir, de gostar, de conversar, isso tornou a situação ainda mais difícil, já não me lembrava com perfeição como era ter alguém, como era sair com caras que não ligavam no dia seguinte, como funcionava tudo isso.
Cinco dias depois, cheguei à conclusão de que eu realmente não era o que ele esperava, ou que ele realmente só queria sair comigo uma vez, para desculpar a indelicadeza do dia em que o conheci. Minhas esperanças de conseguir um novo amigo, ou até algo a mais já haviam se desfeito, eu tentava com afinco me convencer de que já havia passado, de que eu realmente havia enferrujado e não seria capaz de conhecer ninguém e muito menos de agradar alguém depois da sua perda.
Quando finalmente desisti de lutar comigo mesma a respeito dele, meu celular vibrou.
Era Feipe:
"Oi, tudo bem? Algum plano pro final de semana?"
  Li várias vezes aquela mensagem, não acreditando que depois de todos aqueles dias de angústia, era assim que ele falaria comigo. Sem nenhuma desculpa, sem nenhum comentário sobre aquele primeiro encontro.
Acho que havia ficado mal acostumada com a maneira em que você me dava satisfações e falava tudo que pensava, sem pudor. Seu jeito amoroso havia me deixado despreparada para os outros "caras normais".
Pensei durante algum tempo, sem saber o que dizer; se eu tivesse alguma amiga próxima o suficiente para contar minhas incertezas e inseguranças, isso provavelmente seria muito mais fácil, mas eu sabia que não adiantava nada pensar nos possíveis "se", que fantasiar uma realidade melhor não mudaria nada. Então fiquei ali sozinha encarando o celular pensando no que dizer. Não podia soar muito interessada, nem muito distante, eu realmente não sabia lidar com tudo isso, pelo menos não sem você do meu lado. Mas precisava aprender.
"Oi, tudo e você? Por enquanto não tenho nada programado, por que?"
Depois de mais alguns minutos encarando o celular, resolvi enviar.
Para minha surpresa, a resposta foi rápida.
"Estava pensando se poderíamos nos ver, sair ou fazer alguma coisa aqui no prédio mesmo, o que acha?"
"Pode ser, que dia?" - respondi sem pensar duas vezes.
"Sábado?"
"Ok, depois combinamos melhor onde vamos então"
"Beleza! Boa noite,beijos"
Senti um misto de coisas ao conversar com ele: fiquei feliz, por ele ter lembrado e por querer sair comigo de novo; fiquei tensa, com medo de ter aceitado muito rápido suas propostas; fiquei triste, por saber que havia aceitado tão facilmente depois de dias de conflitos comigo mesma. Mas no fundo, fiquei bem, sabia que esse era um novo começo, só eu sabia o quanto falar um "sim" e me deixar viver novas aventuras pesava em meu coração, só eu sabia o quanto estava progredindo apenas por falar com alguém de novo.
Eu iria vê-lo novamente, e ninguém poderia entender a satisfação e a culpa que sentia. O misto de sentimentos me fez dormir tarde aquela noite, pensando no que poderia surgir daquele próximo "encontro".

Quando você se foi - pausado Onde histórias criam vida. Descubra agora