Capítulo 5

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Me lembrava perfeitamente o dia e o horário que te vi pela primeira vez. Eram 21:30, dia 31 de dezembro, minha primeira festa de réveillon com amigas. "Festa", incrível, como a noção de festa altera quando você se muda para alguma cidade grande como São Paulo, estava no que costumava chamar de festa. Todos os jovens da cidade concentrados em um lugar só.
Eu tinha 15 anos, e estava me sentindo totalmente independente passando a virada do ano apenas com amigas, tentando ignorar o fato que teria que chegar em casa as 3 da manhã, o que, para esse tipo de festa, era extremamente cedo.
Entrei rezando para não achar um vestido igual o meu no meio de tanta roupa branca, cumprimentei alguns conhecidos e fui dar uma volta com as meninas.
Paramos na fila do banheiro, para conseguirmos tirar a básica foto no espelho, nossa tradição. Foi quando te vi pela primeira vez, apenas um estranho que passou esbarrando em mim ao ir atrás de uns amigos, me causando uma raiva momentânea. Odiava essas pessoas que saiam andando pela festa achando que eram as únicas no mundo, esbarrando em quem estivesse pela frente, sem o mínimo respeito.
  Mas claro, passou despercebido, era normal esse tipo de coisa acontecer em festas, apenas um esbarrão.
  Então finalmente chegou meia noite, hora da festa começar de fato, todos juntos fizeram a contagem regressiva e um festival de fogos invadiu o céu, fazendo com que o mesmo brilhasse colorido. Incrível como ver fogos pairando no ar me fazia sentir esperança, acredito que isso não ocorria apenas comigo, afinal, todos olhavam maravilhados, com os olhos brilhando, como se aqueles fogos levassem com eles todas as péssimas lembranças do ano que passara e deixasse esperanças para um próximo melhor.
  E ali estava eu, maravilhada olhando para cima, até o show finalmente acabar. Foi quando abaixei minha cabeça e te vi, ali, bem na minha frente. Um garoto desconhecido, alto, moreno, com grandes olhos castanhos olhando na minha direção, logo meu coração começou a palpitar e presumi que aquele seria um bom ano.
  Você foi se aproximando, andando em minha direção, eu não sabia se te olhava, desviava o olhar, fingia não vê-lo, ou se encarava-o.
  Então chegou perto suficiente para conseguirmos conversar.
  - Oi, licença, acho melhor você limpar isso aí. - disse.
  Surpresa, olhei para baixo e vi que, quando estava olhando para cima, maravilhada com os fogos, deixei meu copo virar e derrubei refrigerante em cima de mim, molhando todo meu vestido branco.
  - Nossa, nem percebi - disse sem jeito olhando para meu vestido e me encaminhando para o banheiro.
  Fiz de tudo para tirar a sujeira, mas um pouco acabou ficando ali e tive que ficar com o vestido sujo durante todo o restante da festa.
   Te vi algumas outras vezes na festa, me imaginando se você também olhara para mim em meio à multidão. O constrangimento não me deixou ir falar com você, e passei o resto da festa com minhas amigas, dançando e tentando ignorar o fato de eu estar toda suja.
  Anos depois, descobri que sim, você também ficava olhando para mim naquela festa. E que eu, sem dizer nada, havia tornado sua virada do ano mais engraçada.
   Foi a primeira vez que vi a pessoa que, após alguns meses, tornou-se uma das mais importantes da minha vida.

Quando você se foi - pausado Onde histórias criam vida. Descubra agora