No dia seguinte acordei mais calma, o ar parecia mais limpo, o sol, mais brilhante. O dia me chamava e eu ansiava para vivê-lo. Eu ainda estava sozinha no meio daquela cidade tão grande e sabia que você não iria voltar, mas apenas o fato de começar a confiar em alguém novamente e ter pra quem ligar quando minhas forças se esgotassem, já me davam esperanças para seguir em frente e enfrentar mais um dia.
Ao mesmo tempo que me sentia bem e leve, tinha uma ponta de preocupação, ainda não conhecia Felipe bem o suficiente para contá-lo meus sentimentos mais profundos, e ainda tinha medo de confiar em alguém novamente e perder tudo de uma hora pra outra. Todas as possibilidades passavam pela minha cabeça, e eu precisava de parar, precisava parar de pensar, de imaginar apenas coisas negativas, precisava começar de fato a acreditar.
Respirei fundo e fui tomar um banho, na esperança de que todas as minhas inseguranças escorressem ralo a baixo, junto com a água.
Enquanto me trocava para o trabalho, recebi uma mensagem do Felipe.
"Bom dia! Espero que esteja se sentindo melhor."
Não pude evitar o sorriso que se formou em meu rosto, talvez eu estava certa, talvez eu realmente estava começando a ter um amigo verdadeiro novamente. E só eu sabia o quanto isso significava para mim.
"Bom dia! Estou sim, obrigada!"
Sai de casa com um sorriso no rosto, admirando o sol, os prédios, tudo parecia mais brilhante e iluminado.
Disse bom dia a todos os clientes no trabalho, ouvi atenta cada história que contavam, por mais banal que fossem. Eu estava feliz, estava bem, e nada poderia tirar aquilo de mim, pelo menos não naquele dia.
Voltei para o prédio na hora do almoço, já pensando no que poderia comer, provavelmente o mesmo misto quente de sempre. Mas nem mesmo a ideia de ter que comer qualquer porcaria que tivesse em casa me desanimou naquela manhã.
Entrei no prédio e já fui apressada pegar o elevador, como estava sozinha ali, logo cheguei ao meu andar. Quando me deparei com algo que definitivamente não esperava.
Felipe estava sentado no chão em frente sua porta, sobre uma toalha, com uma cesta fechada a sua frente. Logo que me viu, levantou e veio em minha direção. Enquanto andava, reparei na sua roupa: calça jeans e uma camisa de botões roxa, a barba estava começando a crescer novamente, dando a ele aquela aparência de adolescente com pelos falhos no rosto.
Ao chegar na minha frente, me cumprimentou com um beijo no rosto.
- Tem planos para o almoço? - disse ele, enquanto andávamos novamente em direção a nossas portas.
- Bom, estava pensando em comer qualquer bobeira que achasse em casa. - assumi - Por que?
- Ah, nesse caso, então acho que você poderia se juntar a mim. - falou apontando para o lugar onde a toalha e a cesta estavam posicionados. Foi quando reparei, além da cesta, sobre a toalha haviam dois pratos. - O que me diz?
- Claro! Se não for atrapalhar.
- Me acompanhe donzela- disse ele com uma referência que me fez rir.
Sentamos um em cada lado da toalha, de acordo com a posição dos pratos, com a cesta no meio.
- Vamos agora revelar o que tem na caixa! - disse ele, imitando a voz daqueles apresentadores de programas de tevê sensacionalistas, me causando risos novamente. Tudo estava tão leve.
Felipe abriu vagarosamente a caixa e fez uma cara de espanto ao ver o que havia dentro, como se não soubesse o que havia preparado.
- Comida japonesa! - exclamou ele tirando uma caixinha com dez sushis - Dois sanduíches! - falou ao retirar dois sanduíches naturais embrulhados em plástico transparente. - Hmmm! E o que será isso? Doces! - disse, mostrando uma outra caixinha com alguns doces sortidos dentro.
- Desde quando você está programando isso? - falei entre sorrisos.
- Bom, na verdade, foi tudo muito corrido. Resolvi te fazer uma surpresa e te fazer esquecer todo aquele assunto pesado de ontem. Queria ter arrumado uma coisa melhor, mas foi tudo que consegui comprar em meia hora, não podia correr o risco de chegar quando você já estivesse entrado.
- Muito obrigada! - falei indo em direção à ele para um abraço - Realmente, não precisava de tudo isso!
- Ah, para de ser humilde e vamos comer, porque estou com fome e não tenho muito tempo. - disse sorrindo.
Comemos e jogamos conversa fora durante os 40 minutos que ainda tínhamos de almoço.
- Bom, por mim, passaria a tarde toda aqui falando com você, mas infelizmente o trabalho me chama! Tenho que ir. - disse Felipe levantando.
Levantei também e o ajudei a guardar as coisas, entrei no seu apartamento atrás dele segurando a toalha e os pratos enquanto ele levava a cesta com os lixos e sobras.
Foi quando percebi, era a primeira vez que entrava num apartamento no prédio, que não fosse o meu. As diferenças eram notáveis: apesar da mesma disposição de espaço e quantidade de cômodos, a decoração e os móveis traziam um ar totalmente diferente para o apartamento dele. Na sala, um pequeno sofá preto estava disposto em frente a uma televisão de umas 32 polegadas, que era acompanhada de um sistema de som relativamente grande pelo tamanho do apartamento. Na cozinha, havia uma pia de mármore claro acompanhada por um fogão e uma geladeira. Tudo era bem organizado, tirando alguns livros. Esses, estavam presentes em todo canto: na cômoda embaixo da tevê, no braço do sofá, até mesmo na cozinha se via alguns livros culinários, me levando à conclusão de que ele gostava de cozinhar.
Sem graça pela minha maneira de reparar em cada detalhe, coloquei os pratos e a toalha em cima de uma mesa branca posicionado no centro da cozinha, me despedi, e sai, sem olhar para os lados e tentando não reparar nos porta retratos pendurados na parede.
Continuei meu dia como previsto: mais trabalho e depois faculdade, rezando para que ele não tenha percebido meu olhar clínico pela sua casa e agradecendo por ter alguém por perto novamente, depois de tanto tempo.
A noite, cheguei em casa cansada, tirei meus sapatos e deitei na cama com a roupa que havia usado o dia todo, encarei o teto, tomando coragem para levantar e tomar um banho.
Antes de dormir, chequei meu celular. E daquela vez, além das mensagens rotineiras de boa noite da minha mãe, havia também algumas do Felipe, agradecendo pela companhia no almoço e me desejando uma boa noite. Novamente, em vez de dormir, fiquei um tempo pensando, era inevitável pensar em você depois de um dia como este, lembrar da época em que os seus boa noites me faziam companhia antes de dormir.
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Quando você se foi - pausado
Storie d'amorePerder alguém que se ama nunca é fácil, mas Bianca vai mostrar, nesse romance incomum, cheio de saudades, que é possível se recuperar de uma grande perda. Por mais difícil e doloroso que seja, sempre haverá um outro alguém, uma outra esperança. ...