Capítulo 3

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  Era uma quinta-feira de novembro e, como de costume, já estávamos fazendo planos para o final de semana. Sempre procurávamos por alguma programação diferente, conhecer lugares novos: desde o bar que abriu na esquina, até uma viagem mal planejada. Tínhamos sede de aventura.
  - O que você acha de irmos para São Paulo? Vai ter uma apresentação fantástica esse fim de semana que não posso perder.
  - Que apresentação? - perguntei curiosa
  - Uma junção de compositores e músicos contemporâneos, vão ter novas bandas que ainda não estão famosas, e alguns compositores. Não estou falando de compositores quaisquer, verdadeiros compositores, poéticos.
  - Você e essa sua paixão por letras de músicas... Mas,tudo bem! Eu topo. Quando começa?
  - Então, o festival começa amanhã à tarde e vai até domingo, eu queria chegar bem no começo mesmo, pra conseguir ver tudo. E antes que você fale alguma coisa, sei que trabalha o dia todo, por isso pensei, se você não se importar, de ir sozinho na sexta de manhã, e eu te encontrar lá à noite. O que acha?
  - Por mim tudo bem, fechado. Vai ser bom sairmos da cidade por um tempo, pra esquecer certas coisas...
  - Ei senhora Bianca, nem te falo nada! - disse me abraçando e rindo.
  E assim seria, estava tudo certo para irmos no dia seguinte para São Paulo, curtir um pouco e nos afastarmos dos problemas... Na manhã seguinte, enquanto estava no trabalho, recebi sua mensagem, porém estava ocupada e acabei não olhando de imediato, com a certeza de que só estava falando que estava saindo de casa.
  Minutos depois outra mensagem, depois outra, preocupada, pedi licença ao meu chefe para respondê-lo. Mas claro, tinha esquecido como era exagerado.
  "Bi, to saindo de casa. Bjs"
  "Bianca? Você passa na minha casa antes de sair e pega minha jaqueta, que está em cima do sofá? Acabei esquecendo, a chave está no mesmo lugar de sempre, embaixo do vaso."
  "BIIIII"
  "Cadê você? Me responde! Já estou na pista."
  "Bianca, querida, você sabe que eu te adoro, mas dá pra me ligar por favor?"
  "BIANCAAAA"
  Rindo do seu desespero, liguei.
  - Oiii
  - Ai meu pai! Bianca! Graças a Deus! Já estava enlouquecendo! Que horas você vem? Não esquece minha blusa!
  - Então, vou sair do trabalho as 17 horas e já vou direto e fica tranquilo, passo na sua casa e pego sua blusa!
  - Sim, obrigado. Não vou atrapalhar mais. Beijos, te amo.
  - Olha só, você falando "te amo", que milagre!
  - Se eu falo, ela reclama, se não falo, reclama também, que mulher difícil!
  - Calma, estava só brincando, eu gosto! Também te amo, boa viagem.
  - Brigadão, beijos
  E depois disso, continuei meu trabalho normalmente, até receber uma outra ligação, que mudou totalmente meus planos.
  - Alô?! - atendi desconfiada, vendo o número desconhecido.
  - Oi senhora Bianca, aqui é o Renato, sou médico de um hospital aqui de São Paulo, você conhece o senhor Diego Santana?
  - Sim, conheço, o que aconteceu?? - perguntei desesperada.
  - Acontece que o senhor Diego sofreu um acidente próximo à entrada da cidade, e está aqui sob meus cuidados, checamos seu telefone e a última ligação foi para você. A senhora, por favor, poderia avisar a família dele e vir para cá o mais rápido possível?
  - Claro, eu aviso! Mas, o que aconteceu? Ele está bem?
  - Desculpa senhora Bianca, mas infelizmente não sou autorizado a dá-la mais detalhes, espero que entenda.
  - Estou a caminho - disse, desligando o telefone.
  De repente, tudo começou a girar, sentei rapidamente para não cair no chão e comecei a chorar, não acreditava no que tinha acabado de ouvir, não podia ser verdade, meu coração estava acelerado. Sem pensar duas vezes, levantei sem avisar ninguém, sai tropeçando em tudo que aparecia em minha frente. Peguei meu carro, e sai a caminho de São Paulo.
  No caminho, liguei para sua mãe, contei tudo que estava acontecendo e ela disse que o hospital já havia ligado e ela estava a caminho também. Fiz uma segunda ligação, para minha mãe, contei tudo e pedi para ela ligar para meu chefe e explicar a situação, na correria, nem sequer pensei em avisá-lo. Estava fazendo de tudo para tentar ser racional.
  Até que, chegando em São Paulo, me deparei com um trânsito grotesco. Querendo entender o motivo, fui devagar e olhando para o lado. Foi quando eu vi.
  Era o seu carro, aquele prata que sempre fora nosso companheiro de aventuras, ali, no canto, irreconhecível. Todo amassado, quebrado e horrível. E novamente tudo começou a girar.
   Lembrei das mensagens e da ligação. Eu te amo. Você nunca falava aquilo. E, naquele momento, temia ter sido a última coisa que ouvira de você.
  De repente, comecei a chorar, não consegui segurar meus sentimentos. Tentei voltar meu foco para estrada, aumentei o volume do rádio, para tentar não ouvir meu coração. Confesso que foi difícil, de todos meus trajetos e viagens, o mais complicado.
  Era pra ser um ótimo fim de semana.

Quando você se foi - pausado Onde histórias criam vida. Descubra agora