●Um pouco da Dor●

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Só Deus sabia o quanto sofria com todos aqueles olhares direcionados a si. As pessoas passavam e apontavam pra ela sussurrando coisas como "louca" ou "estranha" , que ela apenas fingia não ligar, mas ela ligava sim, sempre que ouvia comentários maldosos sobre si vindos de outras pessoas sentia um nó na garganta e uma vontade insuportável de chorar, mas nunca chorou...Não na frente deles, convencia a si mesma que se não chorasse seria forte...bem, tentava convencer , pois no fundo ela sabia que não era forte.
Sua família a odiava , aos 14 anos entrou em depressão pela morte da avó, a única pessoa que lhe deu amor, a partir daí criou um mundo fictício na sua cabeça pra fugir da sua terrível realidade.
Os alunos riam e faziam brincadeiras de mal gosto contra ela, era taxada de "Emily a Esquisita" , sim sofria bullying e não entendia o porque de todos se afastarem dela, era como se ela fosse uma doença contagiosa.

Andou de cabeça baixa o caminho inteiro , não suportava os olhares direcionados a ela. Como estava com a cabeça baixa só percebeu que havia se chocado com alguém quando sentiu seu corpo ir de encontro ao chão junto com todos os seus livros. Afim de pedir desculpas Emily
subiu os olhos pelo corpo da pessoa que havia esbarrado , seu corpo inteiro travou , suas orbes esverdeadas se arregalaram em total pavor , automaticamente se arrastou pra trás no chão.
"Droga meu dia já começou ruim, porque justo ela?" Lamentou.
Madison. A líder de torcida, a popular, a garota mais bonita da escola,a garota que todos desejam, a garota que odiava Emily.

-Quem você pensa que é pra ter a audácia de encostar em mim?

-N-não fiz por mal...-as lágrimas começavam a se acumular nos olhos de Emily , o medo se aposou de todo seu corpo e desejava internamente que ao menos dessa vez Madison a deixasse em paz.

-Oh, Meu Deus a Esquisita vai chorar?! Que dó de você.

-Por favor...- Madison segurava seu queixo com força e agora as lágrimas cristalinas caiam de seus olhos.

-Devia ter pensado duas vezes antes de tentar me bater.

Emily apenas teve tempo de sentir um puxão de cabelo seguido de uma dor enorme na mandíbula , no olho e um chute na barriga.

-Entenda "Emily Esquisita" ninguém quer uma aberração como você nesse colégio, pessoas como você nunca serão algo a mais do que lixo.

Assim que Madison saiu, as lágrimas começaram a cair como cascatas dos olhos de Emily, nenhuma dor física podia ser comparada a dor psicológica , isso era o que mais doía, doía saber que era indesejada, saber que era rejeitada por tudo e por todos inclusive pelos próprios pais, isso a destruia todos os dias por dentro.

Jogou a bolsa em um canto do quarto se jogando na cama, seus pais provavelmente não tinham nem percebido que ela tinha chegado , mas ela não fazia questão que percebessem.
Se levantou indo em direção ao enorme espelho na porta do seu guarda roupa , observou seu rosto, um olho roxo, uma provável mandíbula fora do lugar, e uma dor insuportável na barriga, tocou levemente gemendo de dor logo em seguida , se olhou melhor no espelho observando seu corpo magro coberto por camadas grossas de tecido.
As lágrimas involuntariamente desceram por seus olhos , odiava se olhar no espelho e ver o que não queria ver, as vezes ela só queria ser como as outras garotas,  apesar de ser bonita e ter um corpo bonito, esse era o pior de uma depressão... achar que você nunca será tão bonita ou que nunca será o suficiente.
Emily gritou socando o espelho , não se importando com o sangue e o vidro em seu dedos sentou-se no chão apoiando os braços na lateral da cama chorando em uma forma desesperada de extravasar toda a dor que sentia em seu interior. Aos poucos o choro foi embora e finalmente se entregou ao mundos dos sonhos.

Do lado de fora da enorme janela de vidro do quarto da garota duas orbes vermelho sangue observava toda a movimentação no interior do quarto.
Assim que viu que o pequeno ser havia dormido,abriu as janelas devagar pra não acorda-la colocando os pés dentro do quarto pisando no chão coberto de um tapete macio, andou lentamente até o corpo no chão o pegando no colo e depositando-o na cama macia , sentou-se do lado da garota a observando. Levou a mão até o rosto da garota concentrando todo o calor de seu corpo para a mão, evitando assim um desconforto pra menina, acariciou levemente a bochecha macia ,fazendo um leve carinho,o corpo feminino se agitou e por instinto ele se afastou, cobriu seu corpo com uma coberta quente.

-Perdão querida.- beijou a testa de sua pequena amada curando todos seus machucados,tirando sua dor, se sentia culpado por ser a causa de todo o sofrimento de seu anjo, doía na sua alma sempre que a via chorando , mas era egoísta demais para deixar que alguém se aproximasse , fazia com que todos que a olhavam com segundas intenções implorarem pra morrer, e sempre que a garota começava a se interessar por alguém fazia com que a rejeitassem, mesmo que doesse vendo sua pequena triste, era um mal necessário ela era somente dele desde o momento em que colocou os olhos nela, porém nunca deixou que algo maior do que machucados acontecesse com ela, sempre a observando , protegendo e cuidando mesmo que indiretamente.
Suspirou, era um demônio , ou como os humanos apelidavam sua espécie "sanguessugas" , que era perdidamente e desesperadamente apaixonado por um anjo puro e inocente que por sua culpa sofria.

-Harry- sorriu , ele também controlava seus sonhos, apenas não gostava de vê-la agitada durante o sono, e sim ele também criou seu mundo "fictício", que em parte não era tão fictício, criou uma fuga pra que ela não sofresse tanto.

-Durma anjo, eu sempre estarei aqui pra você. - quase que no mesmo instante Emily fechou os olhos voltando a dormir, Harry suspirou, no dia seguinte isso seria apenas seu sonho.

Antes de sair se olhou no espelho vendo que agora os olhos vermelhos haviam se convertido para um verde esmeralda, a cor de verdade dos seus olhos, sorriu internamente somente com ela seus olhos voltavam a cor natural sem ter que fazer esforço, somente ela conseguia acalma-lo, só ela conseguia faze-lo se sentir humano.

Emily Grace era sua fraqueza e mataria qualquer um que ousasse entrar em seu caminho.

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