Máscaras

4.9K 435 40
                                    

Aquela resposta martelava em minha cabeça, acho que precisaria de banhos e mais banhos com água gelada para esfriar os meus pensamentos.

Como assim uma noiva, bem agora?!

Espero deixar isso de lado por pelo menos um dia.

Arrumo a gola da minha camisa e minha gravata, coloco a máscara que escolheram para mim. Uma máscara preta brilhante e decorada... Digamos peculiar, com a intenção de demonstrar o poder. Um poder de fachada.

Hoje o palácio amanheceu agitado e em clima de festa, fico com dor de cabeça só de imaginar quantas pessoas estarão presentes agora no salão.
Espero meu pai anunciar a minha entrada e então as trombetas começam a tocar e adentro ao local, estava cheio de pessoas da elite, de banquetes, de funcionários e...
Quando desvio o meu olhar para o povo, uma pessoa me chama a atenção, é claro que era ela.

Mesmo com uma máscara cobrindo-lhe o rosto, o seu cabelo suave e o seu vestido remendado, nada seria comparado com ela. Era impossível não reconhecê-la. Ela não precisa de nada material para fazê-la melhor, ela tem algo que muitas outras sempre procuram, mas não enxergam em si: um sorriso para se apaixonar.

Eu perdia o meu foco nela enquanto perdia o meu equilíbrio.

—Meu filho, Ethan II de Bates, da Casa de Rub e príncipe herdeiro do trono do reino de Valerie! – meu pai me puxa para frente de todos.

— Meu povo! É uma honra abrir mais um baile anual! – ergo a taça em direção aos nobres e reparo na quantidade de senhoritas que estavam na ponta dos pés apenas para me ver – Eu proponho um brinde, para comemorar mais um ano vitorioso! Coragem e Força! –todos bridam com suas taças de cristal, então deixo o centro das atenções. Saio procurando Aurora pelo salão. Dane-se as quinhentas mulheres que esperavam dançar comigo. Vou encontrá-la só no jardim, indo para a cozinha. – Aurora!

Ela se vira para onde eu estava e vai até mim.

— Meu vestido sujou e eu aproveitei para ver uma parte do baile! Desculpe invadir.

— Não há problema algum. – sorrio – mas... A senhorita me concederia uma volta pelas cidades?

Aurora me parece um pouco confusa.

— Você não vai ficar até o final do baile? – e também parece surpresa – meus amigos irão se apresentar...

— Eles são os músicos?

— Hm, longa história

— Você vem comigo? Eu não conheço e nem pisei nessas cidades, vou precisar de uma guia, mas entendo se preferir ficar aproveitando a festa.

— ...Eu vou com você, só preciso conversar com eles.

                                                          ***

   Sentia que ela parecia um pouco desconfortada segurando em mim, olho para ela com um sorriso na face tranquilizando-a um pouco.
Cavalgávamos ao luar, saímos do conforto de Aussie e adentrávamos  em terras desconhecidas para minha pessoa como Merces, Ébios e Harden.
  Paro Max para deixá-lo descansar e caminho com Aurora disfarçadamente. Mal sabíamos que estávamos sendo observados.

  — Você não faz jus ao príncipe de que todos falam.

  Suspiro e coloco as mãos no bolso da calça.

  — É complicado... – pensando se eu poderia confiar nela para expor a verdade. Se eu não contasse para ninguém, não suportaria mais nada. – eu não sou nada como o que dizem. Tenho essa imagem por obrigação.

  Aurora segura em minha mão incentivando-me a continuar.

  — Sou como um balão: uma pessoa começa a encher e a encher cada vez mais, todo mundo tem o seu limite, mas a pessoa continuava colocando todo o ar que conseguia dentro do balão. Ele tenta suportar o máximo que consegue, mas uma hora ele estoura.
Eu não quero estourar, Aurora. E por alguma coisa surreal que você me fez sentir... Eu sinto que estou seguro com você, para me abrir e aliviar um pouco o espaço que ainda resta em mim.

  Ela me dá um abraço e eu fico perplexo com a intimidade, logo me acostumo com isto e fico relaxado.

  — Se você contar isso para alguém, mando cortar a sua cabeça.

   Rimos juntos e seguimos com o nosso caminho pelas ruas de Merces. Ela me mostra a pobreza, mas também a beleza de que cada cidade possuía, cada forma diferente de fazer você se apaixonar.

  — Percebi que você gosta de muitos livros. Desculpe perguntar, mas como você aprendeu a ler? Uma irmã mais velha a ensinou ? – pergunto para Aurora.

  — Inacreditável, mas sou filha única. Então a minha tia que tem uma biblioteca aqui em Merces, ensinou algumas parte para mim quando eu tinha seis anos de idade.
Foi então que eu me interessei pelas cores chamativas de alguns livros e fui perguntando palavra por palavra. Às vezes ela lia para mim, mas muitas tive que me esforçar para aprender.

  — Então você aprendeu quase sozinha?!

  Estava muito surpreso, muitos de meus amigos que tinham oportunidades melhores para estudos não valorizavam tanto assim, aprendiam por aprender e não levavam os conhecimentos para a vida.

  — Podemos dizer que sim.

  Paro bruscamente em frente de um bar onde a música era alegre e inspiradora.

  — O que foi?

  — Eu te fiz perder o baile. Eu não posso te levar ao baile daqui, mas posso trazê-lo para você. Vamos dançar!

  Ela fica receosa por um momento, mas aceita o meu braço e entramos no bar e começamos a dançar.

Eu a fazia rodopiar, estávamos tão próximos um do outro que eu conseguia sentir a sua respiração.  As mãos dela em meu ombro deixavam-me tranquilo e sem preocupações. Olhava para aquele sorriso e esqueço sobre os meus deveres, outros reinos, outras pessoas. Seguro em sua cintura e a levanto para o alto.

   Nesta noite, éramos eu e ela.

A RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora