Reencontro

2.8K 268 14
                                    


  Olhava para o sol radiante à minha frente. Só o que importava agora era que Aurora estava segura comigo.
  Gaten estava com Tyler, muito bem preso e quieto.
Passamos pelo vilarejo de antes e os murmúrios começam. O inacreditável é que as pessoas ficam mais unidas quando falam mal de alguém.
— Olhe lá, se não é o "amado" príncipe Ethan com a tal da amiga da rainha. Como se diz? Dama? Ela está mais para um vegetal podre. Olhe só o cabelo dela, todo desarrumado. Nem parece que utiliza os produtos de melhores qualidades.
Puxo as rédeas de Max e faço-o parar no meio da estrada.
Aurora não precisa sofrer por minha causa.
— Eu sei que vocês acham que eu não mereço o mínimo de respeito por ser um príncipe que todos conhecem por ser cafajeste. Eu não sou nada disto...
Paro.
Será que sou tão corajoso assim? Acabar com esta mentira que me despedaça?
— Então a vossa alteza está falando que não é nada disso? Dizendo que é um príncipe maravilhoso? – alguns camponeses gritam.
— Não, ninguém é maravilhoso. Cometemos erros que nos ferem na alma. Esqueçam... sobre mim. Eu posso ou não, ser tudo isto que estão contando nestes boatos que circulam a nação. Mas uma coisa é certa, esta moça que está a me acompanhar é a mais atenciosa e graciosa em que todos encontrarão pelo vasto mundo. O nome dela é Aurora, o raiar do dia. Dama de companhia de minha mãe, a rainha Marise. Nós salvamo... nós a ajudamos a se libertar do cativeiro onde estava presa. Ela seria forçada a se casar com um homem que ela não ama.
— Onde a alteza quer chegar com isso?
— Quero chegar ao ponto em que eu lhes falo que não é agradável ridicularizar uma pessoa sem nem ao menos perguntar a ela o que aconteceu. O que ela passou ou está passando.
Há um silêncio devastador presente no ar. Surpreendente.
Consigo ver o sorriso estampado na cara de Tyler.
— Ethan... acho melhor irmos, todos devem estar preocupados com você... – Aurora olha para mim.
  — Tudo bem, já estamos indo. Mas antes quero avisar a estas pessoas que todos erramos, inclusive a mim ao julgar esta mulher brilhante pela primeira vez.
  Vejo uma criança se aproximar hesitante de nós. Ela está envergonhada e isto é aparente em suas bochechas coradas.
  — A a-alteza irá se casar com ela? – a criança pergunta sorrindo.
  — Venha cá Clara! Não tem medo de morrer?! Se o príncipe não gostar de você, ele pode mandar te matarem! – a mulher que estava logo atrás de Clara estava apavorada.
  — Eu não teria coragem de matar uma criança. Eu adoro elas. E... – olho para Clara sorrindo – acredito que sim.
  Aurora se agita um pouco ao meu lado e já consigo imaginar sua face neste momento.
  — Mas e a princesa de Hawell? – alguém na multidão exclama.
  — O inesperado poderá acontecer algum dia. Eu não perco a esperança.
  — Você não quer se casar com a princesa porque diminuirá suas chances com as outras mulheres! Isto é óbvio para mim – um senhor se aproxima.
  — Não. Eu não quero me casar com ela porque não a amo. Meu coração é de outra pessoa – seguro a mão de Aurora discretamente.
  — Pois então como explica todos estes boatos e seus modos? Outro dia mesmo havia uma notícia no jornal...
  — Eu sinto não poder contar o que quero a todos vocês, mas um dia a verdade virá à tona e esperarei com pleno coração que voltarão a compartilharem seus votos de amizade e confiança a mim.
  Deixamos o vilarejo com uma disputa de argumentos. Alguns eram inesperadamente favoráveis à mim e outros eram contrários. Eu sei que nunca deixarei este costume de me importar com os comentários. Sempre haverá críticas. Mas uma única aprovação é capaz de fazer você esquecer uma dúzia de desacordos.

                                                    ***

  Chegamos em casa depois de um dia e digamos que a recepção não fora calorosa.
  — Ethan Teodore Anthony Bates! – a voz do meu pai reverbera pelo salão – Por onde diabos você esteve?!
— Pai... eu fui atrás de Aurora – respondo.
  — Por que? Se ela deixou o palácio foi por escolha dela!
  — Não foi escolha dela. Ela foi sequestrada.
Ele olha para mim e logo para Aurora ao meu lado.
  — Quem faria isto? – a fúria do rei estava incontrolável – sua mãe ficou doente de preocupação. Com os dois. Está de cama durante todo este tempo.
  Fico tanto tempo discutindo com meu pai que às vezes esqueço ou deixo de perceber o amor que ele sente por minha mãe, e o dela por ele. Como pude esquecer este amor tão ardente que dura por anos?
  Pensar em minha mãe doente de novo me machuca como nunca.
Ela estava grávida de meu futuro irmão, mas teve um aborto espontâneo. Passou por uma depressão que muitos diriam que não sobreviveriam. Ela parou de comer, levantar da cama, fazer as coisas mais básicas. Ela passava todos os dias na cama. E todo dia eu lhe dava conforto e incentivo para levantar. É difícil imaginar na mulher em que se transformou no último ano. E assim os dias de glória voltaram. 
  — Onde está o meu filho?! – Alice entra no salão devastada.
  — O seu filho? – meu pai olha para Alice confuso.
  — Ele está bem aqui – Tyler diz. O olhar que Alice lança ao seu filho é cortante e esmagador. Eu não consigo imaginar como ela está se sentindo.
  — Eu posso explicar mãe... – Gaten começa a falar, mas é logo silenciado com um tapa em sua cara.
  — O que será que eu deixei de fazer por você?! O que faltou para você ser um homem bom!? Eu te dei tudo! Eu deixava de fazer e comprar coisas para poder te dar algo melhor pra sua vida. Me diga onde eu errei! – ela começa chorar rios de lágrimas – eu juro que eu fiz o melhor que pude. Eu não sei o que eu fiz de errado para ter um filho assim.
  Alice olha para Aurora como um pedido de desculpas pelo seu filho.
  — Isto não é sua culpa, Alice – Aurora a abraça – você fez e refez de tudo pelo seu filho. Sabemos disso. Você é uma mãe maravilhosa. Mas não temos controle sobre as escolhas que os nossos filhos tomam. Gaten fez a sua escolha. Isso não é sua culpa.
  Gaten apenas olha para o chão em silêncio. Depois de alguns minutos, é escoltado até a prisão.
  Meu pai chama a minha atenção e vou para perto dele.
   — Vou ver minha mãe. Eu sei que o que fiz foi errado aos seus olhos, mas você sabe que eu a resgataria a qualquer custo.
  — Aurora de Niven – meu pai suspira e parece pensativo – que garota formidável, não?
  — Sim, pai – deixo um sorriso escapar.
  — Ande logo, sua mãe está desesperada para ver você.

                                                    ***

— Ethan!!! Você voltou – minha mãe sorri para mim e vejo o quarto clarear com o seu sorriso – eu fiquei tão preocupada com você! Nunca mais faça isso!
  — Eu estava atrás da garota que eu amo – sento na cama ao lado dela, sorrio e abraço-a – Aurora está segura agora.
  Minha mãe parece muito satisfeita com o que disse.
  — EEETHAAAAANNNNN – escuto um grito que eu reconheceria em qualquer lugar. Julian pula em minhas costas e me abraça apertado.
— Eu também senti sua falta, maninho – sorrio.
Seguro a mão de minha mãe e escuto a porta se abrir e meu pai entrar, por mais ocupado ele esteja, conseguiu abrir uma exceção na sua eternidade de tarefas.
E ficamos assim por algumas horas, sorrindo um para o outro.

A RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora