Perdas

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  Os próximos momentos se passam muito rápido.
Ou muito lentos, dependendo da perspectiva.

  Tyler vem ao meu encontro com as provas que encontramos contra o Duque e é claro que ele nega seu envolvimento com o furto do tesouro do reino. Mas nada irá me impedir de colocá-lo em seu devido lugar — na prisão.
  — O que está acontecendo?! Isto... isto só pode ser uma obra daquela imprestável! Onde ela está?! Onde está aquela peste, a qual possui o nome Aurora?! — Harley estava completamente perdida e prestes a desabar em prantos.
  — Estou bem aqui. — Aurora se aproxima do altar lentamente.
  — Você... Agora que é algo mais do que um lixo descartável, quer roubar a minha coroa?
  — Não estou roubando nada de você, estou aqui para...
  — Pare de falar! Está me dando dor de cabeça todas estas desculpas, você nunca terá a minha coroa
  — Se você parasse pelo menos de falar e me escutasse um pouco, entenderia que eu não quero roubar a sua coroa. Quero que entenda que eu nunca precisei de uma coroa para ser melhor do que alguém, e nem você precisa.
  Percebo a inquietação em Tyler e isto me desconcentra da discussão.
  — O que foi? — pergunto para ele.
  — Em minha pesquisa, encontrei com o mensageiro da família real de Hawell. Isto pode mudar algumas coisas.
  — Como...?
  — O reino de Hawell enviou o Duque de Rise como infiltrado na corte valerienesa para acabar com o nosso reino.
  — Mas a filha deles iria se casar comigo.
  — Sim, ela seria bem-vinda ao reino dela, mas não você. —
eles iriam encontrar algum meio de te dar um fim lamentável, com direito a rios de lágrimas das boas damas e uma encenação dramaticamente teatral de Vossas Majestades do reino de Hawell.
  — Mas por que iriam querer isto? Não entendo.
  — O Reino de Hawell está praticamente acabado, há uma grande disputa de poder e novos grupos opositores ao reinado do rei Willian e da rainha Lúcia. Eles roubaram o tesouro para melhorar o próprio reino e para tomar o nosso.

  Após Tyler explicar todos os fatos detalhadamente, chamo a atenção dos convidados do casamento e anuncio o plano dos monárquicos de Hawell.
  Há uma avalanche de "oohhh"s e "aaaah"s, seguidos de guardas com as mãos nos punhais, prestes a desembainharem as espadas.
  O rei Willian interfere:
  — Isto é um tremendo absurdo! Não posso acreditar na blasfêmia que este jovem está pronunciando! Controle o seu filho, Robert, ou este casamento irá se tornar um pouco sangrento.
  — Temo que esteja errado, Willian, você é quem está blasfemando. Este não é qualquer jovem, é meu filho, e ele nunca iria acusar alguém sem provas. Guardas! Prendam a família real de Hawell!
  Os guardas valerieanos avançam enquanto os hawellinos defendem seus soberanos. Seguro na mão de Aurora e nos afastamos da luta. Conseguimos escutar espadas se chocando e o início de uma futura guerra.
  — Onde estamos indo?! E o seu pai? — ela pergunta.
  — Para um lugar seguro. Onde ninguém irá te machucar. — beijo sua testa e entramos na passagem secreta de um outro salão. — Fique aqui até eu voltar. Estará segura.
  — Achas mesmo que ficarei aqui enquanto estão lutando lá fora? Achas mesmo que ficarei calada enquanto escuto gritos de sofrimento, homens caindo e corações se partindo?
  — Você permanecerá aqui até que eu volte. Esta ordem não irá mudar.
  Olho no fundo de seus olhos violetas, estavam severos com o meu comportamento, mas não ligo, não posso perde-la de jeito algum.
  — Você me subestima demais, Ethan Teodore Anthony Bates. Posso não saber como manejar uma espada, mas poderia ser útil em salvar vidas.
  — E assim perder a sua? Não. Por favor Aurora, eu posso lhe pedir de joelhos, mas não saia daqui. Não arrisque a sua vida, porque se você a perder, eu também irei perder a minha.
  Sinto o meu rosto queimar, e minha testa encostar na sua. Logo, nossos lábios estão juntos novamente e a beijo como nunca a beijei antes. Talvez um adeus.
  — Se algo acontecer e... nunca a ver de novo, lembre-se que te amo.

  Saio do esconderijo e olho uma última vez para o seu rosto em lágrimas antes de me voltar para a batalha.
  As únicas coisas em meu campo de visão são duas figuras caídas no altar ensanguentado. Meus pais.

                                                                                              ***

  Sou tomado pelo choque, minhas pernas fraquejam e caio ao seu lado deles como em uma obra de arte medieval. Tyler me defendia. Uma luta às minhas costas, mas as únicas pessoas importantes para mim à minha frente.
  — Ethan, meu filho...
  — Não se esforce, pai... vai ficar tudo bem — digo em soluços e lágrimas. Eu sabia que não era verdade e ele também. Sua ferida era enorme e o sangue jorrava como os rios que se formavam pela minha face.
  — Sua mãe... ela se foi. Não está tudo bem.
  — Por que você confiou plenamente em mim? — seguro em sua mão.
  — Eu sabia... que você estava dizendo a verdade... porque... — ele respira com dificuldade, sua pegada na mão estava se esvaindo. — porque você disse que a ama. — e então eu vejo o brilho de seus olhos acabar e sua mão enfim relaxar.

Existem mais duas pessoas com quem eu mais me preocupo, além de todos os valerieanos. Uma está a salvo, talvez me odiando. O outro, pequenino, talvez esteja me esperando.

A RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora