Reino de Hawell

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Hoje será a apresentação de Aurora como dama de companhia de minha mãe e infelizmente, minha futura esposa comparecerá também.
Como esperado, minhas tentativas de adiar esta catástrofe não estavam adiantando, até estavam definindo a data!
Minha mãe tentava me acalmar contando que o contrato não seria o fim do mundo, mas mesmo assim eu não queria aceitar.
  Passei por dois criados que cochichavam e apontavam para mim, como se eu não estivesse ouvindo. Tyler vem logo atrás de mim trazendo uma lista do que terei de fazer quando a princesa Harley e sua família chegarem.
  — Reservar uma cadeira para o cachorrinho dela se sentar?! Eu li direito?
  — Pelo jeito, sim Ethan – ele ri e pousa a mão em meu ombro consolando-me – já percebi que será difícil esta noite.
  — Pelo menos terei a companhia de uma amiga e de minha prima. – deixo a lista em uma mesa e continuo caminhando com Tyler ao meu lado. Um homem que vestia as roupas da cozinha passa por nós dois esbarrando em mim, era o filho da chefe Alice.
  — Não irá pedir desculpas para o príncipe? – Tyler se adianta?
  Gaten para e então se vira e faz um cumprimento um tanto apressado. Ao se curvar, pede o meu perdão.
  — Isto não é necessário. Está tudo bem. – digo, então ele volta para sua posição e me encara por um momento. – Gaten, sua mãe me fala sobre você.
  — E o que ela falaria de bom de mim para o príncipe herdeiro? Ela por acaso quer que eu tenha um lugar no exército? Eu já falei para ela não decidir a minha vida... – ele começava a ficar vermelho de raiva.
  — Não me lembro de ela pedir nada disso, não acuse sua mãe assim. Ela só falava que você estava indo bem com o seu aprendizado em mecânica.
Gaten suaviza a expressão enquanto Tyler permanecia quieto.
— Isso... sim, estou indo bem, alteza. Eu... preciso levar estes cachos de uva para o Grande Salão.
— Pode ir, foi bom conversar contigo.
Gaten faz outra reverência e vai para o Grande Salão.
— Cara esquisito, falando assim da própria mãe... – Tyler fala balançando a cabeça.
— Er... vamos, está chegando a hora.
Tyler me escolta até o meu quarto e fica do lado de fora. Eu entro e me sento em uma poltrona encapada por um tecido azul escuro, estava apenas esperando os vários estilistas que chegariam em pouco tempo.
Três...dois...um.
Chegaram.
Começa um barulho insuportável, várias vozes perguntando de uma só vez.
Experimento a minha roupa: um terno cinza com uma gravata preta e uma camisa da cor vinho. Legal, combinou com o meu cabelo. Rio e uma garota começa a pentear ele.
— Ele é ruivo... eu sei, muito lindo! Imagina se ele gostasse de nós? – alguém fala baixinho, mas eu escuto.
No final, deixaram o meu cabelo de um jeito meio de lado.
  Eu só queria sair dali.
  Já eram 21h e teria de encontrar com os meus pais para iniciarmos mais um baile.
  Minha mãe estava usando um vestido verde jade, seguindo as cores de Valerie e meu pai ao seu lado a acalmando para enfrentar  convidados presentes com a elegância de sempre.
  O sino toca e minha mãe começa a discursar.
  — Sejam muito bem-vindos para a abertura de mais um baile! Temos boas novas e estamos muito gratos com a chegada de uma dama de companhia. Lady Aurora de Niven.
   Estava concentrado no rosto do Duque de Rise que instantaneamente começou a borbulhar de raiva e ter a indignação aparente. Todos os convidados viram suas cabeças para o centro das atenções, como na primeira festa do ano, quando minha mãe tinha melhorado da doença, quando todos repararam nela. Aurora estava deslumbrante e inesquecível.
Meu queixo cai completamente.
Aurora fica ao lado de minha mãe e se apresenta timidamente ao público que ali estava.
Um grito vem da mesa do Duque de Rise, vindos provavelmente daquela moça em um vestido rosa e de cabelos castanhos e encaracolados, que tinha um cachorrinho que mais parecia um floco de neve ao seu lado sentado em uma cadeira e com as patinhas na mesa indicavam que ela só poderia ser a princesa com quem eu estaria destinado a me casar e não questionar para o resto da minha vida.
  — Mas que ridícula! – gritava de inveja por ficar tão bonita quanto Aurora – ela ofendeu o meu tio e ganha o lugar de dama da rainha?! Esses vermes que ficam pedindo esmola... deveriam estar todos mortos!
Vejo a angústia que surgia na face de Aurora, ela não aguenta e rebate.
— Deveríamos enxergar melhor as pessoas invisíveis, os que necessitam de ajuda, os quebrados, os partidos. Deveríamos dar mais valor à vida e aos presentes nela.
Porque a vida, é a metáfora mais maravilhosa que alguém já inventou e ninguém mudará isto. Nem mesmo uma princesa. – todos no salão ficam calados. Eu sorrio.
  — Logo, você será a rainha. – o Duque de Rise fala para ela não se importando se outras pessoas escutavam.
  — E eu vou torná-la uma criada imprestável novamente – ela sorria como uma criança mimada e sua voz era a das mais agudas possíveis. Ótimo.
  — Nobres deste baile, espero que todos estejam felizes ao conhecer a POSSÍVEL esposa de meu querido filho Ethan, a princesa Harley de Hawell, que acabou de gritar – minha mãe fala a última frase com mais ênfase, notavelmente não gostando do gênio desta futura nora.
  Harley sorri e acena aos convidados.
  Olho para Aurora que estava concentrada na comida. Com esse olhar, parecia que ela queria, com toda a sua força, mover a mesa que sustentava todos aqueles banquetes e atacar Harley e depois, lógico, comer toda aquela comida.
  — Hora da dança!
  — PRÍNCIPE ETHAN! – alguém grita, muito melancólico viro-me para quem havia me chamado. Harley. – Dance comigo!
  Não queria, não queria mesmo, eu preferia me matar.
  Vou até ela e seguro em sua mão, eu sorria forçado e nos dirigimos para o centro do Grande Salão. Seguro em sua cintura e começamos a dançar uma música lenta enquanto ela pisava com seu salto alto nos meus pobres pés.
  A noite seria maravilhosa.

A RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora