Neblina

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Fiquei preocupado com a pressa de Aurora em sair do salão, parecia até que estava me evitando.
Espero que não seja esse o caso.

  O meu prato continha uma grande diversidade de frutas. As minhas preferidas são morangos silvestres colhidos logo pela manhã. Eu adoro frutas, mesmo se estivermos no inverno, como agora.

— Mamãe, você sabe por que o Ethan não está falando nada? – Julian olhava para mim com preocupação.

— Julian, ele está apenas pensativo.

— Ah – ele faz uma expressão de que entendeu tudo, talvez seja isto mesmo.

— Eu não quero me casar – pronuncio-me para que meu pai escute em bom e alto tom. Ele parece não entender – pelo menos... Até eu conhecê-la direito, só a vi em algumas ocasiões!

Se eu conseguir enrolar eles só mais um pouquinho para que não façam o contrato de casamento, poderei pensar em algo para não me casar tão cedo. Precisa ser algo bom.

— Ótimo filho, era disto mesmo que iria discutir com você. – meu pai come um pedaço da pera. – a família real de Hawell está hospedada na residência do Duque de Rise.

— O que?! – o desespero brota em minha face, isto até pode ser chamado de uma cena cômica, o modo como aparento é único.

— Sim Ethan, pensei que você queria conhecê-la. Prepare-se. Ela pode ser um pouco... Exigente demais.

Levo as mãos à cabeça, como quando as pessoas ficam com dor de cabeça, ou febre, ou algo do tipo.
Ethan, fique calmo.

— Não se preocupe com sua privacidade, mas terá de levá-la em passeios.
  — Não pode ser, o Duque, tio da princesa? – pergunto confuso, isso só pode ser uma obra maléfica deste ser imprestável. – é mais uma razão para eu querer adiar o contrato.

— Bom, tenho mais negócios a fazer, vou conversar com Oswald para ver como está a situação nas ruas das cidades...

— Pai, garanto-lhe que estão péssimas. Estatísticas e gráficos não te proporcionam a dor. Uma pessoa especial me contou isso.

Ele assente e vai para o seu escritório.

— Ethan, querido. Sei que não é fácil compreender a situação do seu pai, mas continue se esforçando só por mais um tempo. Até conseguirem voltar com os as relíquias roubadas.

— Eu farei o possível.

Tenho a certeza de que as relíquias nunca mais voltarão, foram roubadas a alguns anos atrás e sem pistas de onde poderiam estar. Todas elas, conquistadas no reinado dos Neils e agora pertencentes aos Bates. Valem uma fortuna incontável e muito importante para a economia e a cultura do reino. Uma perda destas seria facilmente notada se não fosse pela distração de que o meu pai e o Conselho criaram. Todos adoram um pouco de entretenimento, o povo é fissurado nisto. Intrometerem-se em outra vida.

                  

— Filho, que tal passearmos pelo castelo? Tenho assuntos para falar contigo.

  — Sim, claro mãe.

  Espero ela terminar sua refeição e logo levantamos e saímos do salão, Julian tenta nos acompanhar sorrateiramente.

  — Julian, eu estou te vendo. – rio e ele fica com a cara fechada.

  — Deixe-me participar da conversa!

  — Tudo bem, Lian, só desta vez. – minha mãe fala a ele.

  — Não me chame assim mamãe! Eu já sou um homem crescido. – Julian faz uma careta.

  — Sei...  Então Ethan, o que está acontecendo entre você e aquela criada...? Qual o nome dela?

  — Aurora. – olho para ela um pouco confuso perguntando-me onde ela queria chegar. – Pode até parecer estranho, mas somos amigos.

  — Ethan, eu tenho olhos por todos os lados. Você não é de ter tantos amigos, principalmente entre os criados. O que te chamou a atenção? Sou sua rainha, mas também sou sua mãe.

  Eu não conseguia contar para a minha mãe porque nem mesmo eu entendia os meus sentimentos.

Abaixo a cabeça e fico quieto.

  — Lalala, Ethan gosta de uma garota . – Julian cantava sozinho. É, talvez isso tenha uma ponta de verdade.

  — Quando eu e seu pai nos conhecemos, não nos demos muito bem. Ele era grosseiro e eu não aguentava nem de ficar perto dele. Mas quando fomos conhecendo melhor uns aos outros... Foi fantástico. – ela olha para mim e acaricia o meu rosto – Sinto que ele foi muito precipitado arranjando uma noiva para você.

  — Ainda bem que não sou o único. – abro um sorriso quase imperceptível. – Mãe, ajude-me a convencer o pai de que não estou preparado, por favor.

  — Se estivesse falando com o seu pai, ele teria dito que um futuro rei nunca diria "por favor". Vai ser difícil convencê-lo, ainda mais com a pressão do Conselho.

  Agora olhava para Julian se equilibrando nas linhas do azulejo do chão. Dava até saudades... Uma vida sem preocupações maiores do que pensar no que está pisando ou de sair no horário certo das aulas de literatura para conseguir ver as borboletas azuis a tempo no jardim.

  Mas quando se cresce e o mundo muda em sua volta, as coisas insignificantes parecem as mais difíceis.

  Ou seriam as pessoas que são mudadas pelo mundo?

   — Mas se você falasse para ele, contasse o que sente em uma só frase... ele mudaria de ideia na mesma hora.

   — O problema é: qual frase?

   — Com o tempo, irá descobrir por si próprio.

A RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora