Capítulo 4- O Garoto

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Quando cheguei no Porto logo vi Gennick e ao lado dele uma criança de no máximo 12 anos com cabelos lisos e escorridos cobrindo parte e seus rosto, sua pele era branca como nata, era muito magro também, seus braços eram como galhos secos de tão finos. Cheguei mais perto e vi o garoto maravilhado com Passo Negro, ele passava a mão por todo o animal até que eu desci e cumprimentei os dois.
-Olá, me chamo Maxwell, mas pode me chamar de Max. Como você se chama cavaleiro?-O garoto falou aquilo de uma forma muito natural, ele realmente estão interessado em mim. No mesmo segundo que Maxwell havia perguntado percebi que na última semana ninguém havia perguntado meu nome e nem quem eu era.
"Não sou cavaleiro garoto, sou um guerreiro. A propósito me chamo Lot."
-Bom como você já sabe você terá que levar o Max até a catedral de Amur, que fica na capital. Até lá terão que comer e dormir. Toma, isso é pra vocês-Disse Gennick esticando a mão oferecendo uma sacola com moedas. O barco de vocês sai em 5 minutos, é melhor entrar logo. Disse em mais uma vez em tom de despedida.
-Pode deixar que eu levo o seu amigo pra casa-Completou Gennick se referindo a Passo Negro.
Eu me despedi dele com muito pesar, mas acabei o deixando ir. O garoto olhava pra mim quase que com idolatria, eu não sabia o por quê então resolvi perguntar "Tem alguma coisa no meu rosto?"
-Não, senhor-Disse ele um pouco receoso.
Por mais que eu tivesse simpatizado com o garoto, não podia amolecer e nem ter qualquer tipo de relação com ele.
- Lot, você já andou de barco antes?- perguntou, Maxwell entusiasmado.
" Pra falar a verdade já até fui o timoneiro de um navio." O garoto olhava pra mim cada vez mais maravilhado.
-Eu nunca andei de barco. Será que vão deixar eu pilotar o navio?
" Com certeza não, garoto. Não é uma tarefa para crianças" Mesmo eu cortando as expectativas dele, seu rosto continuava feliz.
- Lot, você pode contar a história de quando você pilotou um navio?
" Vamos primeiro entrar, depois conversamos mais.Fui adentrando no imenso barco que nos esperava, ele nos levaria para Trinda de lá seguiríamos a pé para qualquer vila próxima da cidade pra alugarmos uma charrete e enfim ir para Gricor e deixa-lo na Catedral de Amur. O barco era bastante velho, porém resistente, tinha no mínimo 30 anos, seu casco já tinha sido remendado diversas vezes, mas eu ainda tinha esperança que os quartos eram minimamente aceitáveis. Para minha surpresa os dormitórios era relativamente grandes e confortáveis, assim que cheguei deitei em minha cama e fiquei observando Max arrumar suas coisas no quarto. "Ainda quer ouvir a história, garoto?" Ele fez que sim com a cabeça. " Eu ainda era jovem. Tinha acabado de voltar de uma missão no continente central. Quando meu barco foi atacado. Os piratas mataram quase toda a nossa tripulação. Foi uma batalha sangrenta, garoto você não gostaria de ter visto aquilo. Bom, resumindo o capitão e o timoneiro foram mortos além de uns 13 tripulantes. Ninguém sabia fazer aquele barco andar."
- Como você aprendeu a pilotar?
"Não aprendi, garoto. Na verdade aprendi na hora que comecei a pilotar. É verdade que eu bati em várias pedras, mas não tivemos outras baixas até voltarmos ao continente." Maxwell pareceu gostar bastante da história. Ele continuar arrumando suas coisas até que acabei pegando no sono. Quando acordei foi num pulo, o sol que antes entrava pelos furos causados pelo remendos do casco foi substituído pela luz da lua que preenchia todo o cômodo onde eu estava. Assim que levantei fui a procura de Max que por sinal não estava no quarto. Andei pelo barco até visualizar um certo alvoroço na cozinha. Ao chegar mais perto vi Max se contorcendo no chão enquanto algumas pessoas tentam ajuda-lo e outras rindo da situação. Eu corri em direção ao menino e segurei sua cabeça para que não batesse no chão, pedi para alguém que me trouxesse qualquer sedativo. Meu pedido foi logo atendido por uma das faxineiras que me trouxe óleo Eurux uma solução de um líquido extraído da planta Eurux que se assemelha a uma begônia e uma mistura de outras ervas. Na mesma hora fiz ele beber todo o vidrinho que tinha em mãos, depois que se acalmou o peguei no colo e fui até meu quarto para repousa-lo. Passei o resto da noite pensando o que iria acontecer comigo se algo acontecesse com Max. Já estava pensando em fugir e começar uma vida nova, mas não foi preciso, assim que amanheceu Maxwell acordou. Eu logo fui checar sua temperatura corporal que para minha felicidade aparentava estar normal. Depois de algum tempo em silêncio resolvi perguntar se aquilo acontecia sempre.
-Quando tenho as visões sim. Disse o menino inquieto.
"Visões" retruquei com medo da resposta.
-Eu estou indo para Gricor para ser treinado e quem sabe um dia virar o Sacerdote da Catedral de Amur.
Naquele momento tudo ficou mais claro para mim. Por isso ele tinha que ser escoltado, ele de fato era importante era um oráculo, assim como o meu em Yenuk. O silêncio tomou conta do quarto mais uma vez até que ouvi alguém batendo na porta. Quando abrir vi uma moça bonita com cabelos dourados, curtos e encaracolados com vestes da tripulação do navio.
-Oi, me chamo Mirian. Eu vi o que aconteceu ontem a noite com o seu filho, fiquei preocupada ele está bem?
"Ele não é meu filho "respondi de forma amigável. "Respondendo sua pergunta, ele já está bem sim".
-Posso vê-lo? Perguntou Mirian olhando para dentro do recinto.
"É claro "Respondi a ela escancarando por completo a porta para que ela pudesse entrar. Ao entrar no quarto ela a aproximou lentamente de Max, e antes que ela chagasse na cama onde ele estava, o menino soltou um berro:
-Lot, ela vai me matar!
Corri em direção a ela que nesse ponto também corria, mas em direção do futuro oráculo. Saquei minha espada antes que ela pudesse puxar sua adaga e desferi um golpe que marcou suas costas profundamente. Ela caiu no chão de imediato sem esboçar reações, chequei sei pulso que estava fraco porém com vida. Olhei para Max esperando alguma resposta do que fazer.Com minhas expectativas sendo quebradas peguei o jovem corpo de Mirian e o joguei pela janela.
-Ela já estava morta?-Disse Maxwell em um tom sereno.
"Sim, ela estava "Menti para que ele não me achasse um monstro, mas se a deixasse viva ela poderia me acusar de tentar abusa-la ou qualquer outra coisa. Não podíamos contar com a sorte naquele momento. Depois que o sangue esfriou percebi que havia um pingente no chão, provavelmente de Mirian. O pingente era feito de marfim e com o formato de coração envolvido por uma fita pintada de azul. Eu já havia visto aquele símbolo em algum lugar mas não conseguia me lembrar. Mostrei pra Max que logo se aprontou em dizer que aquele símbolo pertencia aos Fiéis dos três ciclos ou como são popularmente conhecidos: os magos de Gelo.
-Eles veneram os 3 maiores Reis que o mundo já viu. Bern o rei de Regi o continente do sul; Hen o rei do continente nortenho Vergi e Barlo o rei das terras sem dono ou as ilhas centrais Tergi. Os 3 reis iniciaram uma batalha que durou 32 anos, até que decidiram se unir pela religião. Se transformaram em santidade e selaram a paz em seguida se sacrificaram em nome da religião. Essa é a historia contada pelos fiéis, mas os mais velhos contam que na verdade Barlo convocou uma reunião em seu castelo e assassinou os dois outros reis, ele então saiu para a Ilha mais longe do arquipélago para viver o fim de seus dias lá em paz. Ele não concordava com a guerra, mas não podia simplesmente desistir dela e mostrar fraqueza. Ele não possuía filhos e ninguém poderia herdar o trono das ilhas centrais por isso hoje ela não é habitada por ninguém. A religião tem esse nome pois os fiéis acreditam que cada rei demonstra uma era. Eu não sei exatamente qual rei representa qual era, mas eu sei que elas são chamadas de "A Queda" "A reconstrução" e " A Retomada".
Fiquei impressionado com a inteligência do jovem garoto. "Como você sabe disso tudo?"
-Até meus 12 anos estudei no Colégio de Lokhold ou a escola de feitiçaria e religião como muitos dizem. Apesar da fama, lá não se ensina magia para não magos, o mago Hecgor é quem decide se você será mago ou não baseado na sua quantidade de concentração espiritual. Como eu sempre tive visões nunca tive minha total concentração.
Fiquei feliz por ele não ser um mago, se Max dissesse que é mago não sei a confiaria nele. Magos são sorrateiros e sujos, um homem sem espada que confundi a mente de outro é o maior covarde. Depois daquilo tudo resolvi dar uma olhada no barco para ver se alguém tinha sentido falta de Mirian. Ao chegar no convés avistei um grupo de pelo menos 3 pessoas com o mesmo colar que Mirian, voltei correndo para o dormitório. "Tem mais magos do gelo lá em cima. Você sabe por que ele querem te matar?"
-Não tenho certeza, mas acredito que porque acham que com a minha ida para a capital a popularidade de Amur pode voltar a crescer.

O Guerreiro de YenukOnde histórias criam vida. Descubra agora