2. Movin' on

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E foi essa a história do meu primeiro beijo. Primeiro beijo com a garota que eu gostava de verdade, tal garota que era minha melhor amiga e iria embora na semana seguinte.

Essa semana, me lembro bem, foi muito estranha. Lauren estava lá, mas parecia que já tinha ido. Ela estava distante e não conversávamos muito. Será que tinha sido por causa do beijo? Quer dizer, muitas perguntas rondavam a minha cabeça também. Será que ela também sentia o mesmo que eu e fui tola o suficiente para não perceber? Ou será que ela viu o que eu sentia, sentia o mesmo, mas tinha medo e deixou o álcool trabalhar para poder perder a vergonha? Ou simplesmente, foi efeito do álcool e se arrependeu. E ainda, talvez... percebeu o que eu sentia e queria experimentar, mas não gostou... me senti tão idiota. Me sinto tão idiota, mesmo cinco anos tendo se passado. Ainda mais com os últimos acontecimentos.

No dia da despedida, Lo "voltou ao normal" e nós aproveitamos de verdade aquele dia. De manhã, fomos a praia de bicicleta. Em uma bicicleta. Ela guiando e eu sentada no ferrinho, entre suas pernas. Depois passamos no cinema pra ver um filme de romance, e eu chorei, como sempre.

Fomos para minha casa e comemos morango com chantilly e brigadeiro. Ela me deu na boca e eu também dei na boca dela.

- Eu não quero que você vá - as lágrimas começaram novamente.

- Não chora, my pink princess - sorrio ao ouvir o apelido que eu amava. - Um dia eu volto. E aí tudo vai voltar ao normal, e enquanto isso, não vamos esquecer uma da outra.

Nos abraçamos e ficamos assim um bom tempo, até o telefone dela tocar e a mãe dela pedir pra ela voltar, sairiam em duas horas.

Saímos juntas, de mãos dadas e fomos para a casa dela. Fiquei sozinha no quarto enquanto ela tomava banho. A vi se trocar, sim, nós não tínhamos problemas com isso.

- Fecha o sutiã pra mim, por favor - Lo pediu, segurando a pequena peça de roupa preta atrás das costas.

Lauren terminou de se arrumar, enquanto eu estava esparramada em sua cama.

Entramos todos no carro, a Família Jauregui e eu, no colo de Lauren, já que não tinha espaço.

Depois do check-in, os portões se abriram e agora é mais verdade que nunca. Lo iria embora. A abracei e ficamos em silêncio.

- Eu te amo - fui a primeira a falar. - Nunca se esqueça disso.

- Eu também te amo - ela sussurrou e sorriu contra meu ombro. Ela não me soltou, e nem eu queria solta-la também. Mas isso só tornaria tudo mais difícil.

- Vá logo, Lo. Não torne tudo mais complicado - falei já a ponto de chorar.

- Tudo bem - ela me deu um último abraço e a vi passar pelos portões.

Peguei meus fones e fui para casa, andando mesmo. Não era tão longe a ponto das pernas começarem a doer, mas também não era tão perto.

Cheguei em casa e minha mãe, Sinu, estava cozinhando e meu pai, Alejandro, a ajudava, enquanto a pequena Sofi dormia no cercadinho que eles levaram para a cozinha.

- Cheguei - informei.

- Tudo vai se acertar, filha. - pude ver pena nos olhos dela e do meu pai e senti vontade de vomitar. Eles sabiam que Lauren era minha única amiga. - A janta vai sair daqui a pouco. Posso levar no seu quarto, se quiser.

Concordei com a cabeça e corri para meu quarto. Entrei no banheiro e vomitei tudo que tinha comido durante o dia. Abaxei a tampa do vaso e me sentei nele. Agora era real, ela não estava mais aqui, não estava mais comigo. Lágrimas e mais lágrimas vieram. Chorei igual criança, e não me importava. Eu só queria tirar todo o sentimento ruim que estava dentro de mim.

Voltei para meu quarto e me enfiei debaixo do edredom. Não saí do meu quarto até o dia seguinte.

E permaneci ali por muito tempo.

***

As férias já estavam quase no fim, devia faltar umas três semanas para as aulas voltarem.

- Filha, já chega.

Sinu entrou no quarto como um furacão pegando roupa suja aqui e ali.

- Camila, você está nesse quarto desde que Lauren foi embora. Saindo só pra comer e quando sai. Já chega! Vou te mandar pra casa da sua tia, você fica com seus primos e ve se melhora.

- Eu não quero ir - falo arrastado.

O problema é que minha mãe achava que eu estava chorando por causa da perda de uma amiga. Mas não era só isso. Eu gostava dela. E ela ainda me deixou com o prazer da dúvida quando me beijou naquele dia. E como se não bastasse, ela não respondia minhas mensagens. Whatsapp, Twitter, Facebook, Instagram. Tentei tudo de que me lembrei.

- Pode arrumar suas coisas. Não é uma escolha filha. Vai te fazer bem.

Levantei da cama a contra gosto e arrumei uma mala pequena. Colocando apenas o realmente necessário.

- Você vai ficar um mês lá - minha mãe informou.

- Mas as aulas não voltam em três semanas?!

- Sim, mas estou te liberando disso.

O final de férias foi legal. Brinquei com meus primos e consegui tirar a Lauren da cabeça. Minha mãe me ligava todo final de dia, antes de dormir. Falava com meu pai e eles me contavam coisas de Sofi. Aquilo não me fazia muito bem e eu não conseguia dormir direito à noite, pois me lembrava de casa. E casa sem Lauren, não era a mesma coisa. Mas não falei nada a eles, não queria magoa-los.

Naquele ano, arrumei um namorado. Não durou muito, um mês talvez. E foi o suficientemente para eu ver que gostava mesmo era de garotas.

Fiquei com uma no ano seguinte e continuamos por alguns meses. Contei pra minha mãe e a reação dela foi de surpresa, mas aceitou. Meu pai também. Ele disse que me amaria independente de qualquer coisa.

Sofi crescia cada vez mais e eu ficava feliz em ver como seu sorriso ficava cada vez mais lindo. Seus primeiros dentinhos. As tentativas de primeiras palavras. Até os rabiscos que ela fazia eu achava lindo.

No outro ano, eu faria 15 anos, ou seja, 2 anos da partida de Lauren. Não é como se eu ainda remoesse aquilo, mas não tinha como deixar de pensar às vezes.

Tinha feito novas amigas naquele ano. Dinah, Normani e Ally. Ally era novata, por isso vivia sozinha e acabamos nos juntando. Dinah e Normani já eram amigas. Quando o professor passou um trabalho em quarteto, nos juntamos e foi uma das melhores coisas que aconteceu. Ally se sentia meio excluída por ser a única hétero do grupo. Na verdade, Dinah e Mani eram safadas, pegavam qualquer coisa. Mas tinham um caso, que faziam questão de não assumir.

Naquele ano, eu não namorei com ninguém. Não queria saber de namorar, só ficava com algumas garotas, nas festas que eu ia.

Mais anos se passaram. A minha amizade com Dinah, Mani e Ally só aumentava. Eu me sentia bem com elas, como me sentia com Lauren. Como não me sentia com mais ninguém desde a partida dela. Eu iria fazer 18 anos no ano seguinte. Nossa! Eu estava me sentindo velha.

O tempo passou rápido, acho que pelo fato de que agora eu finalmente tinha amigas e no final daquele ano, queriamos passar juntas.

Nossas famílias combinaram de passar juntas. Sem contar que a família da Dinah era gigantesca. Todo mundo juntou dinheiro, até nós quatro ajudamos, diminuindo nossas mesadas, e no final conseguimos alugar uma casa de dois andares. Estávamos muito animadas. Aquele final de ano seria incrível.

The Love Is Dangerous (CAMREN)Onde histórias criam vida. Descubra agora