No começo tudo era mais fácil. Mais ou menos, mas com certeza não era tão ruim quanto agora. Lembro muito bem da primeira vez que ela reparou em mim e eu nela, ainda sem maldade, claro. Éramos crianças ainda. Eu com 5 e ela com 6 anos.
Estávamos no parquinho da creche, eu sozinha e ela com uma outra menina. Eu no balanço e ela no escorrega. Eu estava bem no tédio mesmo, sem impulsionar muito o balanço, só deixando ele me levar. Vez ou outra empurrava o ar com o pé. Ela estava toda alegre brincando no escorrega. Não que eu estivesse a observando especialmente, mas naquela época eu gostava de fazer aquilo: sentar no balanço e ficar observando as outras crianças brincarem. Eu era bastante sozinha.
Continuando, a outra menina que estava com ela deu um empurrão mais forte e ela caiu. Lembro bem do contraste do seu choro com a risada de antes. Foi intrigante. Meu eu de 5 anos levou a mão à boca, chocada, e arregalou os olhinhos.
Corri do balanço até onde ela estava enquanto a sua amiga, acho, foi chamar alguém.
- Você está bem? - eu perguntei.
Ela parou de chorar, passou uma das mãos nos olhos, fungou e respondeu.
- Sim, e você?
Eu comecei a rir e ela pareceu ficar chateada.
- Porque você tá rindo?
- Porque a machucada aqui é você né, sua boba - dei um leve empurrão no seu braço.
- Ah, tinha esquecido.
- Vem, deixa eu te ajudar - falei e dei a mão a ela.
As pias do banheiro eram para crianças, logo eram baixas.
- Olha, minha mamãe diz que quando se machuca, tem que lavar. Pra não piorar.
- Mas vai arder - a Lauren de 6 anos fez uma careta.
- Eu prometo que vou fazer de tudo pra doer pouco.
- Você jura? Jura de mindinho? - ela estendeu o mindinho para mim.
- Claro - entrelaçamos nossos mindinhos.
- Tudo bem, então.
Ela tomou coragem e apoiou a perna na pia.
- Se segura em mim. Se doer, pode apertar.
Lauren segurou meu braço e quando eu joguei um bocadinho de água, ela o apertou. Acho que desde aquela época eu estava disposta a tomar as dores dela, obviamente não pelos mesmos motivos de hoje.
- Agora lava o rosto pra parar de chorar - ela obedeceu.
Fiquei na ponta dos pés para pegar papel para ela, é, eu ainda não dava altura.
- Toma - entreguei o papel a ela.
Quando ela colocou o papel no rosto, ele grudou todinho e a gente ficou rindo muito por causa daquilo.
O sinal tocou e uma das professoras que ficava com a gente no recreio veio nos procurar no banheiro.
- Vamos crianças - ela disse. E eu fiquei chateada. Era a primeira amizade que eu tinha começado e tinha que deixa-la ir. A primeira vez que a deixei ir.
Eu fui para minha sala e ela para a dela. Lembro que quando cheguei em casa contei toda entusiasmada para minha mãe que eu tinha feito uma amiga nova. E "com lindos olhos verdinhos". Ri da lembrança.
A amizade continuou, ela sempre um ano a frente, claro. Mas nunca nos separávamos por causa disso. Sempre dávamos um jeito de ir na casa da outra, quase todo final de semana.
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The Love Is Dangerous (CAMREN)
Fiksi PenggemarCamila sempre foi apaixonada por Lauren. Um grande problema, já que as duas eram amigas inseparáveis desde a infância, mas o tipo de problema que Camila conseguia lidar. Lauren vai embora sem explicar o motivo. Esse é o tipo de problema que Camila n...