Capítulo 2

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MARINA

Estou caindo... Tento me segurar, em vão, meu corpo continua solto e caindo de modo vertiginoso... O grito não sai. O chão está cada vez mais próximo. Antes de me chocar, fecho os olhos...

Uma bela sacudida me traz de volta.

— Mari! — tenho que me concentrar para reconhecer a voz de Diana. Abro os olhos devagar e lá está minha amiga, com as mãos em meus ombros. Bia está um pouco mais atrás e arregala os olhos, como se estivesse espantada ao me ver — Foi só um pesadelo! — a voz de Diana me ajuda a me situar e, aos poucos, vou recordando o que aconteceu. A lembrança faz com que meu corpo se torne mais pesado, ou simplesmente relaxo... Só sei que, em segundos, Bia está atrás de mim, arrumando os travesseiros.

Inspiro e expiro lentamente, como se estivesse reaprendendo a respirar, sei que estou suando, porque sinto minha testa molhada. Acomodo-me nos travesseiros.

— Acho melhor chamar o médico — Bia fala para Diana, como se eu estivesse ausente. Esforço-me para mostrar que estou lá.

— Não precisa — passo a língua nos lábios, sentindo um gosto ruim — Estou bem.

Minhas amigas suspiram, ao mesmo tempo, aliviadas, como se fizessem parte de uma equipe sincronizada de qualquer coisa, porém, trocam olhares.

— Estou falando sério — tento tranquilizá-las.

— Ok, se está bem, já pode tomar bronca. Então, sua vaca, nunca mais me dê um susto desses — Bia se aproxima e sorri, seu olhar é desconfiado, como se não estivesse segura do que estou falando.

— Não está sentindo dor? — Diana é outra que ainda não está convencida.

— Algo mais como um desconforto no corpo... — faço uma careta ao me recordar do que aconteceu, a imagem do meu agressor vem à minha mente. Sinto um calafrio, passo a mão no cabelo e fecho os olhos, como se isso pudesse afastá-lo de meus pensamentos. Flagro olhares preocupados, quando volto a abri-los. Algo me incomoda: tenho a lembrança de quase tudo, menos de como cheguei até ali.

— Cara, não teria me perdoado, se não ficasse bem — o tom de voz de Bia sai engasgado, embargado, como a conheço muito bem que sei que está prestes a chorar.

— Felizmente você acordou, Mari! Ainda que tenha sido em meio a um pesadelo — Diana desvia o meu foco de Bia e, embora ela demonstre menos o que sente, consigo percebê-la bastante abalada também. Foi muito perigoso, concordo, porém, não vejo motivos para tanto, afinal estou bem.

— Antes pesadelos do que delírios — Bia comenta e Diana se vira para ela, prestes a repreendê-la.

— Do que está falando? — basta minha pergunta, para Diana olhar feio para Bia.

— Ah qual é? — Bia se defende — Sou contra esse lance de esconder as coisas. Mais cedo ou mais tarde a Mari vai saber, que seja pela gente.

— Saber o que? — novamente Diana falta fuzilar Bia com os olhos.

— Sei lá, parece que teve uma experiência espiritual, Mari, ou então, que esteve bem perto de... — engole em seco, impedindo as palavras que eu intuo — Você falou por três ou quatro vezes em Jesus...

O meu sorriso é involuntário.

— Não tive nenhuma experiência espiritual, nem de quase morte — nego com veemência — E também, duvido que tenha falado tantas vezes nele.

As duas se entreolham, percebo que agora desconfiam que eu esteja delirando de novo.

— Não sei o motivo, tenho certeza de que não é por ter me salvado... O vi rapidamente, porém, foi o suficiente e ele me lembrou da figura de Jesus Cristo naqueles filmes sobre a Bíblia, típicos de sexta-feira santa.

Um Abrigo para o Coração (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora