Capítulo 12

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MARINA

Pelo ponto eletrônico, peço para interromper o teste e minha assistente o faz imediatamente.

— Meia hora de descanso! — avisa e, enquanto os quatro atores suspiram aliviados, por causa da quantidade de vez que eles já repetiram a mesma fala, vem ao meu encontro. Estou diante dos monitores e o técnico consegue voltar um a um todos os testes, deixando-me com mais certeza do que vou dizer — Pronto, Mari — Carlinha se senta ao meu lado e começa a assistir os monitores — O que há?

Penso nas especificações do cliente, um fabricante de barras de cereais, antes de responder.

— A segunda dupla é a melhor. No entanto, algo ainda não está funcionando. Quem escolheu o — procuro o nome do ator na prancheta — Róger?

— Foi o Daniel — responde, informando o nome do outro assistente de produção que selecionara os atores para aquele teste — Segundo ele, o rapaz tem o biotipo que o cliente pediu.

— Sim, até concordo que o look é bem parecido ao que foi pedido, mas o cara não está segurando o texto — demonstro minha preocupação — Não está rolando. Nosso prazo está apertado, entretanto não tem como apresentarmos a peça final com esse ator.

— Entendi e o que devo fazer?

— Peça para trocarem os papéis? o cara mais magro vai passar as falas principais. Acho que se mantivermos o outro ator no comercial, falando menos, talvez não precisemos dispensá-lo.

— Não acha que o outro ator destoe muito do perfil atlético que o cliente pediu? – Carlinha questiona interessada, já que, apesar da última palavra ser minha, sempre conversamos muito sobre as decisões.

— Sinceramente não. É magro, mas não é esquelético, e tem mais carisma que nosso querido ator ali que está falando das barras com a animação de quem vai ao dentista.

— Se quiser, podemos pedir para repetir, com mais vigor — Carlinha propõe.

— Passamos a manhã toda nisso, Carla. Por mais bonito que ele seja, não convenceria ninguém a comprar — balanço a cabeça, cansada de insistir em alguém que esteticamente é perfeito, mas que não vende o produto. Tenho que seguir a minha intuição, já que foi ela quem me trouxe até aqui.

Na Gemini, após batermos o martelo quanto ao elenco, eles partem para a gravação da peça publicitária, com outra equipe. Quando trabalhava como assistente já vi acontecer da equipe responsável pela gravação do comercial pedir outro ator, ou atriz; não por serem errados para o papel, mas por terem deixado o papel subir-lhes à cabeça, aparecendo no estúdio cheios de exigência, mesmo que não fossem assim tão conhecidos.

— Pode deixar, Mari — olha no relógio — Eles têm ainda alguns minutos de descanso, assim que voltarem, faço o que pediu. Vou aproveitar para fumar um pouco.

— Você e os cigarros! — se existe um tom de reprovação condescendente é o que acabo de usar, antes dela sair. Viro para o técnico e dou uma piscada —Valeu, Fê. Também vou aproveitar e esticar as pernas.

Esticar as pernas para mim significa dar uma volta pela Gemini e combinar o almoço com a Bia e com a Di. Ao não encontrar a primeira em sua sala, imagino com quem esteja. Tenho mais sorte com a Diana.

— Humm, qual o motivo do sorriso? — questiona, assim que entro em sua sala.

— Não encontrei a Bia em lugar nenhum... — respondo maliciosa.

— Aquela ali teria que ser estudada — Diana sorri — Só espero que acabe bem essa aventura.

— Eu também — falo puxando a cadeira para me sentar — Como foi sua manhã?

Um Abrigo para o Coração (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora