No dia seguinte, já era a Ação de Graças. Luke e sua mãe, Melissa, chegaram e trouxeram uma espécie de pavê, não sei. Melissa é muito legal, ela anda rindo o tempo inteiro e é muito gentil.
Fiquei conversando com Audrey no meu quarto e ela observando todo o meu guarda-roupa.
- Nós vamos ao shopping amanhã?
- Não. - Respondo passando a agulha pelo pano da minha saia. - Ao menos que você tenha trazido sua carteira... Não trouxe né?
- Não... - ela falha na voz e vou até ela.
- Mãos pra cima! - ela obedeceu e passei minhas mãos pelos bolsos do seu vestido. Achei uma carteira e vi um cartão de crédito, mas foi só abrir a carteira inteira e 400 cartões caíram no chão e repreendo - Audrey!
- Desculpe!
Alguém bateu na porta, ela disse que podia entrar. Era Luke.
- Então... - passou os olhos pela carteira e balançou a cabeça.
- Melhor nem perguntar.
- Sua tia está lá embaixo... Maluca. Ela não consegue fazer a sobremesa.
- Tudo bem - dei de ombros e desci as escadas, fui até a cozinha. Kelly estava mexendo na panela e o lugar estava todo bagunçado. Arregalei os olhos e ela me viu.
- Creindeuspai, Sarah. Sei que você é boa nessas coisas, me ajuda aqui? A Melissa já fez algumas coisas.
- Algumas já estão na geladeira - Melissa diz sorrindo, não pude deixar de notar que seus olhos são idênticos aos de Luke: nunca dá pra saber a cor.
A campainha tocou. Olhei para Kevin no sofá, lendo um livro.
- Você não vai lá atender, Narceja?
- Não. - Ele sorriu, parece que só eu faço trabalho nessa casa. Revirei os olhos, corri até a porta e a abri. Arregalei os olhos quando vi a pessoa que estava do outro lado.
- Filha! - minha mãe diz animada.
Dois anos.
Fecho a porta com força e saio como se nada tivesse acontecido.
- Sarah, quem era? - Kevin pergunta.
- Ninguém.
- Tem certeza?
- Tenho. Aposto que foi só o gato da nossa vizinha macumbeira. Ou aquele carinha que toca a campainha e sai correndo. - Kevin revira os olhos e se levanta para abrir a porta. Corro disparado até a cozinha fingindo que não aconteceu nada e mexo a panela.
- Quem foi que chegou? - meu pai aparece na cozinha e o olho com raiva.
- Você sabe muito bem que foi. Aposto que você a chamou aqui!
Tia Kelly se aproxima de mim quando minha mãe aparece na cozinha com Kevin. Não faço nada.
- Joanne! Meu pai exclama e dá um abraço nela. Kevin apenas sorri, alegre por vê-la. - Como está? Pensei que não viria!
- O voo atrasou um pouco. - Ela sorri, eu sabia que o papai estava escondendo algo de mim. Ele a apresenta à Melissa, nem parece que os dois são divorciados e mamãe vive viajando, sem nem dar notícias.
- Eu trouxe presentes! - minha mãe diz indo até a sala. Ela mostra algumas sacolas. É claro que trouxe.
- Eu ouvi presentes? - Audrey diz sorrindo da escada, acompanhada por Luke. - Olá!
- Audrey, Luke... Essa é minha mãe. Mãe, esses são meus amigos - semicerro os olhos quando vejo Luke, eu não sei qual a definição exata dele. Minha mãe fica surpresa ao vê-los e sorri mais ainda. - Aliás, veio só para passar o feriado, né, mãe?
- É. Ainda tenho muita coisa para resolver... Sarah, você está grande! Já tem...
- Dezesseis - falo ríspida.
- Ok... Pegue, eu trouxe para você - ela me entrega uma sacola enorme e branca. Tem algumas roupas e caixas de sapato. Ela sussurra - Prometa que vai usar, por favor!
- Tá, eu uso.
- Ai, me deixa ver primeiro! - Audrey toma a sacola da minha mão e arregala os olhos de felicidade.
- Gente! O almoço vai sair logo! - Kelly berra lá da cozinha. Antes de subir para o quarto, digo:
- Bem-vinda a Miami.
. . .
- Ela parece com você - Luke diz - Quero dizer, na aparência, sabe? O cabelo e um pouco do nariz.
- Sei. A gente nunca se falou muito - dou de ombros enquanto enrolo uma linha da saia em meu dedo. - Quase nunca. Ela não sabe nada da minha vida. Pouca coisa...
Desvio o olhar para Audrey, que se admira no espelho do quarto, usando uma das roupas que minha mãe deu.
- Tá chateada? - ele pergunta depois de rolar na cama e desenrolar o fio. Não digo nada. - Não fica assim, é normal. Eu também não falo com o meu pai, só às vezes. É...
- Complicado.
- Beleza, chega desse papo meio bad. - Audrey diz - Todos nesse quarto têm alguém da família que não é presente. Todo mundo tem uma família complicada! Só vamos torcer pra não dar merda! O que com certeza vai acontecer!
- TÁ NA MESAAAAAAAAA! - Kelly grita lá debaixo e dou uma risada.
Audrey desde as escadas tão rápido que mal vejo. Assim que saio da cama, uma dúvida vem na minha cabeça.
- Luke?
- Sim, eu caso com você - ele diz parado na porta e dou outra risada.
- Não era isso, não agora - atiro Michael Bob na sua cabeça e ele ri - Qual a cor dos seus olhos?
- Não faço ideia. Eu e minha mãe temos heterocromia ocular.
- Que? Como assim?
- É uma doença genética. Nunca me causaram nenhum problema, só alguns na minha mãe - ele dá de ombros meio desconfortável - Não sei explicar bem, depois você pesquisa no Google. Por que a pergunta? - semicerro os olhos e dou outro sorriso.
- Porque eles são lindos.
. . .
O almoço foi baseado em conversas engraçadas com a tia Kelly, eu jogando arroz no cabelo do meu irmão. O vovô quase dormiu na comida, mas minha avó o chutou no tornozelo, como sempre. Nossa aqui devem ter várias pessoas... Eu, Audrey, Luke, meu pai, minha mãe, Kevin, meus avós, Melissa, Kelly... Dez pessoas! Se não contar com a vizinha que de dez em dez minutos olhava pra cá. Sangue de Jesus tem poder!
- A sobremesa! - meu pai exclama. Olho diretamente para Kevin ao meu lado e semicerramos os olhos.
- Eu pego! - dissemos ao mesmo tempo. Coloco o pé na frente da cadeira e ele cai no chão. Corro até a cozinha e abro a geladeira, pegando a sobremesa.
- Deixa que eu levo - ele diz e recuo - Não vai querer ter a sua cara na sobremesa que nem no ano passado, vai?
- Não. Deixa que eu levo. Eu fiz essa coisa.
- Sou o mais velho.
- Mas eu sou mulher, isso é machismo.
- Mas eu vou embora pra faculdade.
- Deixa que eu levo essa bagaça - meu pai pega a sobremesa da minha mão e leva para a cozinha. - Há!

VOCÊ ESTÁ LENDO
Sarah
Teen FictionSarah Baker se considera uma adolescente normal, exceto por sua dislexia e grande falta de controle emocional, ou seja, ela não é. Ela é apenas ela. Tudo muda quando nas férias de fim de ano, o seu pai a manda para o Acampamento para Jovens Problemá...