Capítulo 24

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Naquela mesma noite, minha mãe foi embora de novo. Tentei ao máximo ser gentil e não ficar com raiva, ela é minha mãe! Por mais que eu tenha raiva, ela teve que me aturar na barriga por nove meses, isso já é muito!

"- Ela que deu a ideia pro seu nome - meu pai disse uma vez, quando os dois se divorciaram - Significa 'princesa'". Acho que fui uma em outra vida, porque nessa com certeza não!

Já de tarde, peguei um pote de sorvete da cozinha torcendo pra que não fosse feijão. E não era ainda bem. Eita sorte do caramba, isso nunca aconteceu! Só falta chover chiclete. Andei até a sala e parei na escada quando papai apareceu descendo as escadas.

- Aonde vai? - pergunto lhe oferecendo uma colher e ele aceita.

- Supermercado - ele diz e dou risada, essa palavra sempre me pareceu engraçada. Sou doida.

- Por que não vai me levar? Sabe que eu adoro! Dá pra ver as revistas, comprar coisas que nunca vou precisar e fazer um moonwalk nos corredores!

- Hoje não. Você tem amigos aqui, esqueceu? Vou demorar muito - ele pega a chave do carro e pisca - Amo você.

- Eu também.

Ele fecha a porta e olho para o sofá. Kevin está lá, como sempre. Outro livro está no seu colo e ele se mexe desesperado enquanto dorme. Acho que é um pesadelo.

Outra forma de me divertir. Saboreio o sorvete enquanto vejo ele gritar e se mexer de medo. Quando o sorvete acaba, decido acordá-lo.

- Ei, narceja, ei! Kevin! EEEEIIIIIIIII!

- Ai! - ele grita e olha ao redor. - Eu tive um pesadelo.

- Eu sei - dou de ombros - Cara, estou olhando você gritar fazem uns dez minutos.

- Por que não me acordou?! Minha irmã é demoníaca.

- Não tinha nada na TV.

- ah, sua filha da... - a campainha toca e dou um sorriso travesso. Me levanto do sofá e abro a porta. - Sarah, você comeu meu sorvete!

- Eu sei! - cantarolo e vejo Luke - Oi! Não quero ser chata, mas você não devia estar com a sua mãe?

- Oi! Na verdade, ela teve que sair. Disse que ia demorar e me mandou vir pra cá.

- Ah, tá!

- Como é que vocês se aguentam? - Kevin pergunta lentamente, com a cara no livro. - Não precisam ter medo de mim, eu não digo nada pro papai. Têm preservativos lá em cima na gaveta...

- Falou o cara que já pegou todas.

- Tanto faz. Ei, sua amiga tá batendo na janela - ele se vira e acena - Acho que ela vai quebrar o vidro se não forem agora... Gente, ELA TÁ PEGANDO UMA PEDRA!

Saio de casa com Luke e vamos mais para o quintal. Audrey está sentada em um banco e acena para mim desesperada. Nos sentamos no banco e consegui ver um pouco da praia. Pena que está muito frio pra nadar e o sol quase não aparece.

- Que foi?

- Tem três pessoas maravilhosas que querem falar com vocês.

Audrey mostra um tablet que ainda não tinha visto. Ela estava falando com Gaia, Alex e Max por vídeo.

- Oi, gente!

- Oi! - Gaia e Alex dizem.

- E aí, tampinha! - Max diz se referindo a Luke, que rola os olhos. Depois olha para mim - E aí, gatinha?

- Max. - Dou um sorriso e fecho a cara - Não sou sua gata.

- Tudo bem, eu entendo. Saquei. Não preciso de você mesmo, já tenho outra pessoa.

- Vocês são muito esquisitos - Alex diz - Somos um grupo de amigos que parecem irmãos, mas todo mundo se pega nesse negócio.

- Tá, mas eu nunca beijei o Max - falei.

- Ainda - ele diz e ri depois se vira para o irmão. - Sabe, eu pensei que você não queria falar com o pessoal, mano. Seu rosto fica horrível nos vídeos.

- Max, vocês dois tem o mesmo rosto - Gaia diz.

- Ah, é. Mas eu sou mais bonito.

- Vamos mudar de assunto? Vamos! - Alex grita - Como vocês estão aí?

- Aqui tá meio normal - Gaia diz rolando os olhos. - Só esse frio que eu detesto. Minha voz fica meio rouca e não posso cantar.

- Pois eu ouso dizer que aqui tá um frio do cacete! - Max diz e mostra o pano de um casaco.

- Credo, parece que só eu gosto de frio - falo e Luke ergue a mão. Fazemos um high-five. - Aqui passamos calor o ano inteiro. Não aguento suar tanto. Fica parecendo àquelas pizzas no...

- Poupe os detalhes - Audrey e Alex dizem alertando.

- Aliás, Sarah, quando nós vamos ao shopping? - ela pergunta.

- Quem foi que te disse isso? Nós só vamos se o Kevin deixar a gente, o que não vai acontecer.

- Eu ouvi isso! - meu irmão grita da sala - E você está assustadoramente certa! - Audrey fecha a cara.

- Sarah, eu preciso de roupas de frio!

Todos gargalharam, até o pessoal do outro lado da tela. É divertido saber que até em Nova Iorque estão rindo dela.

- Desde quando você precisa de roupas? - Luke pergunta, já que foi o primeiro a se controlar. Concordo com a cabeça, ainda tentando recuperar o fôlego me encostando em seu ombro.

- Audrey já tem fogo, ela não precisa - Gaia diz rindo.

- Só se for de vela, né.

- Há. Há. Há. - Ela revira os olhos - Não vejo a hora de voltar pro acampamento. Vocês só sabem me zoar aqui.

- Na verdade, é você que faz isso com a gente - falo e ponho a mão no seu ombro - Nós vamos voltar amanhã mesmo e vai poder tirar sarro das minhas roupas o tempo que quiser.

- Maravilha! - ela exclama, olhando para o céu. Uma gaivota quase passou perto de nós, essas aves me odeiam. Olhei para o lado e a vizinha/macumbeira/bruxa do 71 me olhava fixamente. Eu, ein. Sangue de Jesus tem podeeer.

- ALEXANDREEEEE! - alguém gritou no vídeo - VEM CÁ, GAROTO!

- Já vou, mãe! - Alex gritou e se virou para Max - Você pode fingir ser eu?

- Devo parecer com você que se parece comigo e não pode ser eu?

- Exatamente.

- Não.

- Por quê?

- Eu não sei fazer nada!

- Por favor, Maxell! Vamos, temos que ir! Tchau, pessoal! - Alex diz empurrando Max, eles brigam tentando pegar o tablet e acabam desligando. Deve ter caído no chão e os dois vão quebrar a qualquer momento.

- Eu também preciso ir - Gaia diz acenando e damos um tchau.

Pelo menos vou ver eles amanhã.

SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora