Capítulo 18

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Ficar acordada até tarde e ter que acordar cedo é uma droga. Eu estava melhor que os outros, mas me peguei perto da floresta, depois do almoço, sentada na grama e olhando duas formigas.
A formiga ia, voltava, andava em círculos, dava um beijinho na outra, rolou no chão...

- Saraaaahh!!! - alguém gritou, era Luke e ele vinha correndo até mim.

- O queeeeee??

- Você... - ele parou para descansar e me mostrou dois cupcakes coloridos - Achei eles... a tia resolveu fazer eles assim hoje. Vermelho ou azul?

- Depende.

- Do que?

- O vermelho é de morango ou cereja?

- Morango.

- Tanto faz, eu queria o azul mesmo - ele me entregou e mordi um pedaço.

- Todo mundo vai ir jogar vôlei. Você quer ir?

- Não, valeu - dei de ombros - A bola sempre bate na minha cabeça.

- Ah, tudo bem. Mas caso você queira ir, sempre tem um lugar no time.

- Valeu - sorri.

Ele assentiu com a cabeça e saiu. Tentei voltar a ver as formigas mas elas tinham sumido. Só sei que fiquei olhando o céu por um longo tempo.

Me virei para frente e Dan estava lá longe, mas me olhando surpreso.

- Sarah? - ele disse alto e se aproximou. Como eu saio dessa? Enterrando a cabeça no chão que não vai ser!

- O que? Quem é Sarah? Não conheço ninguém com esse nome!

Quanto mais ele andava, mais eu recuava. Ficamos nesse jogo até pararmos nessa floresta (por que sempre tem que ser aqui?).

- Qual é, Sarah!

- Meu nome não é Sarah, meu jovem! Me deixa em paz! Meu pai é advogado! Meu nome é Pepita!! - atirei o cupcake nele e fiquei atrás da árvore. Deu até pena dispersar comida.

Sabe quando você brinca de pique-pega e você mais outra pessoas estão entre alguma coisa, tipo uma mesa, e um não pode ser pego aí você fica correndo com cara de "Você nunca vai conseguir!"? Era exatamente assim.

Só que eu nunca fui boa nesse jogo (não sou boa em nenhum jogo, aliás).

Dan pegou meu braço e pude ver ele de perto. Tenho que admitir, ele estava bem mais bonito do que a última vez que o vi. Não sei como explicar. Era o cabelo encaracolado e preto ou um rosto mais definido... Não sou boa em explicações.

- Sarah.

- Dan - ergo uma sobrancelha. Ah, mas eu queria bater nele várias vezes só de ódio por esse menino. Poderia bater até com um quadro! Se bem que o quadro ia rasgar, Sarah. Mas foda-se, o que importa é que eu ainda vou socar a cara dele. - Me solta. Agora.

- Então você não esqueceu, não é? - ele me largou no mesmo instante - Desde aquela noite eu nunca mais te vi!

- É. Como você está? Seus testículos ainda doem? - pergunto irônica e ele ergue a sobrancelha. - Pobre Dan, não vai poder ter filhos. Você me agarrou, quase me agrediu, sei lá! Aquilo foi abuso!

- Me desculpa! Era isso que eu tentei explicar, mas você não queria falar comigo... Eu tive que fazer aquilo porque meu pai estava lá vendo tudo.

- Ainda não entendi o que uma coisa tem a ver com a outra. Por acaso tinha vergonha de mim? - gaguejei e tentei não reparar em como ele estava diferente. Se vocês pudessem ver os olhos dele. Estavam brilhando! Parecia um cachorrinho abandonado!

- ... Eu também não tenho certeza - Espera, buguei - Mas... Quero ter certeza agora. Sarah, você quer me beijar?

Quê? Claro que não!

- Sim. Quer dizer, não! Voceeloucomasporqueiatebeijareuquero... Depende. Acho que me enrolei com as palavras.

- Só um pouquinho - ele ri e me puxa para um beijo. Isso tá muito estranho, sério! Parece que se passaram alguns segundos e PAH! Mas tenho que admitir: foi bom. Muito. Lembrei daquela vez em que ele tentou me puxar e eu o empurrei (mesmo não adiantando, já que eu sou um humano com força de palito) e ele me olhou com desprezo. E se fizesse isso de novo?

Ele me largou rápido. Só deve ter durado uns cinco segundos.

- Não dá, cara - falei e me afastei - Eu não consigo esquecer. Não vai rolar. É impossível!

- Para mim também - ele passou a mão pela nuca e fiquei com cara de "masoq?". - Obrigado. Agora eu tenho certeza.

- Minha mente já estava toda embaralhada, agora aumentou. O que você tá dizendo? Andou arranjando umas drogas com o Eric, né? Cara, você só pode estar doidão. Não use maconha, use Crack que é mais light!

- Sarah, eu não consigo te beijar mas... Não sei.

- Ai meu Deus. Você é gay, agora? Sem preconceito e tal, mas... Cara, olha pra você, um cara gostoso desses!

- Ainda não sei, Sarah! - ele ficou gaguejando e se sentou apoiado na árvore - Estou indeciso.

- Então você é bissexual, né - dei de ombros e me sentei ao seu lado - Não entendo muito dessas coisas. Foi por isso que me beijou?

Estou prestes a ter um amigo gay. Nunca tive um. Deve ser estranha a sensação de esconder os sentimentos por tanto tempo e ter medo de que as pessoas te julguem pelo seu gosto.

Isso é errado! Não vejo nenhum problema. Todo mundo é igual.

- Não quis te magoar. Nem hoje, nem naquela noite.

- Hoje até que foi bom... Mas nunca vou esquecer o que você fez comigo! Existem pessoas que passam por algo muito pior é não podem se defender ou fazer nada, Dan! É horrível.

- Muito. Mas, poxa, eu te procurei, pedi perdão, tô aqui me abrindo pra você! Por favor, eu só quero ser seu amigo. Nunca contei isso pra ninguém, você é a única conhecida minha por aqui e me arrependo do que fiz. Preciso de ajuda!

Nos olhamos de novo e vi que ele estava diferente. Sabe quando você fica muito tempo sem ver uma pessoa e depois vê que ela mudou de verdade? Acho que acabou de acontecer com o Dan.

- Trégua? - ele estendeu a mão.

- Trégua - sorri e apertei sua mão. - Mas se acontecer alguma coisa, eu chuto seu saco de novo!

- Tudo bem! - ergueu os braços em forma de rendição e riu. - Finalmente estou em paz com Sarah Baker. Mais ou menos.

- É Pepita Baker, para você.

SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora