Capítulo 2

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- Beleza, então! - falei erguendo as mãos, já estávamos na cozinha - Eu vou para o acampamento e vocês vão ficar aqui sozinhos. Toma essa, Kevin Levin! - é assim que o chamo quando fico zangada e quero provoca-lo.

- Bem, Sarah, eu não diria isso - meu pai segurou o ombro de Kevin - Para comemorar a entrada de Kevin à Harvard, enquanto você estiver se divertindo - revirei os olhos e bebi um copo d'Água - Eu e ele vamos viajar para o Havaí.

Arregalei os olhos e cuspi a água na cara de Kevin, ele estava sorrindo e secou o rosto com a mão. Meu pai dei de ombros, isso é normal para ele. É bem normal alguém cuspir na cara do outro.

- Como assim pro Havaí? A gente mora em Miami, a praia é tipo, atravessando a rua! Literalmente! - apontei para a porta da frente e entreguei uma toalha para meu irmão. - Beleza, tudo bem, eu aceito o desafio! Também amo vocês. Que dia eu vou pra essa droga de acampamento, doutor Baker?

- Depois de amanhã. Ah, e vai arrumar esse cabelo - meu pai respondeu com a maior calma do mundo. Eu teria cuspido de novo, só que não tinha mais nada na minha boca. A única coisa que fiz foi dar de ombros e dizer ríspida:

- TÁ! - na verdade, foi como um jdocnedidjfjidnehd... Tá.

***

Dois dias depois, eu estava no carro, em rumo ao acampamento, apoiada no vidro da janela e ouvindo Bad (achei bem apropriado para a situação). Só faltava ser tudo em preto e branco e a chuva para parecer um clipe da MTV.

O acampamento ficava à alguns quilômetros de Miami, o que significa sem praia, sem surfe, sem vida e alegria para mim.

Assim que chegamos lá, foi só ver vários carros estacionados, ônibus escolares e jovens da minha idade se despedindo dos pais que segurei bem forte o banco do carro.

A entrada era um enorme arco de pedra escrito "Acampamento para Jovens Problemáticos & CO". O papai disse que era um acampamento comum, fui enganada de novo. Argh! Só faltou uma tatuagem na minha testa escrito "Trouxa".

A coisa tava séria, tinha até uma limousine estacionada. Antes de puder ver quem saía de lá, alguém abriu a porta e quase caí de cara no chão.

- Vem, Sarah - papai insistiu me oferecendo a mão. Neguei com a cabeça.

- Mas nem pensar, eu fiz um escândalo só para entrar no carro, acha que eu vou sair e entrar lá?

É sério, para poder entrar, Kevin teve que me empurrar para dentro. Eu fiquei gritando e a vizinha quase chamou a polícia, mas ela é doida mesmo, daquelas que te observam o dia inteiro. Macumbeira, certeza.

- Por favor, eu faço o que você quiser - insisti e fiz carinha do gato de botas.

- Quero que saia do carro.

- Argh! - gritei e papai me puxou, eu tentei ser mais forte, só que pareço um palito. Kevin já estava colocando as malas para fora, eu não podia sair!

Papai me puxou e me tirou de dentro do carro, me recusei a ficar de pé e arrastei a terra com o solado do tênis.

- Não! Eu sou muito nova para morrer! Não fiz nada de errado! Tenho meus contatos! Quero meu advogado!

- Eu sou seu advogado.

- Ah, é mesmo. Merda! - tentei me soltar, as pessoas já estavam me olhando. - Vou te processar, eu exijo outro advogado!

- Cala a boca e sai logo, garota - dessa vez foi Kevin.

Papai me largou e caí de bunda no chão, quase dei uma cambalhota de costas, me sujando toda de terra, me ajeitei, não tinha saída, nem mesmo ir até Timbuktu ou roubar o carro, quem sabe ir de penatra na mala do Kevin.

SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora