A caça ao Edward Vermelho

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Carlisle se manteve perto de mim no parque, eu podia sentí-lo a menos de um pé de distância todo o tempo. Era um pouco irritante, ser observado tão de perto. Eu não me sentia assim desde que eu era... era. . . Não conseguia me lembrar. Uma criança, acho. Uma memória estava me cutucando, enquanto estava parado no parque com Carlisle, o céu era uma noite sem lua.

A memória passou num flash em minha mente, embora eu só a visse através de embaçados olhos humanos . Meus dedos percorreram teclas de marfim. Eu hesitei, atingindo uma nota forte demais "Não, " minha professora de música gritou, "agora faça novamente!" eu movi minha cabeça, tocando as notas da forma como deveriam ser tocadas. Hesitei novamente, cometendo exatamente o mesmo erro. A régra bateu em minhas mãos. A pele ardeu. "Lembre-se, " ela disse, "controle. "

Balancei minha cabeça, afastando a memória para longe. Cheiros estranhos estavam em toda minha volta. Meus novos instintos estavam borbulhando debaixo de minha pele. Para caçar, para matar. Tudo o que precisava era o menor dos incentivos. Ou isso era o que o monstro precisava. Estava ficando difícil distinguir entre o monstro em minha cabeça e eu mesmo. Éramos um só, e o mesmo, mas não exatamente.

Então ela estava lá. Arregalados olhos castanhos saturados de medo. Ela congelou de repente ao nos ver. Sorri e respirei fundo. O sangue que eu podia cheirar, pulsando em suas veias, me chamava como um doce elixir. Não tão doce como os outros aromas que cheirei antes, mas esse serviria. Este animal seria meu.

Carlisle colocou uma repressora mão em meu ombro.

"Lembre-se do que eu disse. Passos pequenos, " ele murmurou.

Então percebi nesse momento, éramos capazes de falar tão suavemente que nem um animal podia nos ouvir. Nossa presa não receberia aviso algum de sua morte iminente. O veado ficou parado, olhos bem abertos, quase como uma estátua. Apenas o movimento de seu peito traia sua quietude. A sede rasgou por entre meus pulmões, se arrebentando minha garganta, um líquido vil preencheu minha boca. Eu engoli com dificuldade.

"É veneno, " Carlisle explicou. "Paraliza nossa presa. "

Interessante. Por mais que essas novidades me assustassem, era difícil não estar maravilhado com todos os incríveis detalhes. Veneno em minha boca. Dentes afiados como lâminas. E como Carlisle havia me mostrado antes, força superior que eu tinha que manter cuidadosamente guardada. Podia quase acreditar que havia adquirido poderes de um Deus em meu obscuro novo mundo de insuportável sede e desejos selvagens.

A orelha do viado se contorceu. Ela não piscou, ela não se moveu. Mas aquele movimento era o único incentivo que eu precisava. Me posicionei de forma agachada, mais que preparado para minha presa.

"Ainda não, " Carlisle disse com uma rápida mão em meu ombro, "passos pequenos. Você precisa aprender controle. "

"Não, " vociferei, empurrando a mão de Carlisle e pulando à frente.

Edward, espere! Controle! Por favor. Oh, Deus...

Ela estava em minhas mãos antes que até pudesse pensar. Percorri meus dedos ao longo de sua coluna, procurando pelo ponto mais vulnerável em suas vértebras. Quebrei seu pescoço com um movimento de meus dedos. Rosnei com poder e forcei meus dentes em seu pêlo. Sangue deslizou em minha garganta, preenchendo-me com um prazer cegante. Então, o prazer esgotou-se rápido demais, e não havia mais sangue algum no veado. Soltei o inútil e seco corpo no chão. Tudo isso aconteceu em menos de um segundo.

Virei para Carlisle. "Mais, " eu ordenei com um rosnado. Lambi meus dentes ensanguentados. Ele cautelosamente andou até mim e se agachou.

"Não vou mentir para você, Edward. Você pode ler minha mente, então não há muita razão em fazê-lo, " ele sorriu. Virei meus olhos. "Sangue animal nunca irá satisfazê-lo completamente, mas é o suficiente. "

"Que outro sangue há?" franzi, sentindo-me desesperado. Carlisle evitou meus olhos, e olhou para o morto e mutilado animal.

"É sua escolha, " ele sussurrou. "Eu acredito que não é apenas porque fui transformado em algo, isso não significa que não posso tentar ser melhor do que aquilo me tornei. "

"Você não respondeu minha pergunta, " estreitei meus olhos, "e você está bloqueando seus pensamentos. "

Ele suspirou. "Esta é a vida que escolhi, apenas me alimentar de animais e não de humanos. "

Humanos? Ele era louco? Eu era? Os aromas que pude me lembrar de antes voltaram para mim, e minha garganta explodiu em chamas com a nova sede. Sim, humanos. Me virei, preparando-me para correr.

"Edward!" Carlisle gritou enquanto se atirou, me levando ao chão. Lutei, e por um momento parecia que eu estava ganhando. Eu era mais rápido e um melhor soldado. Eu podia acabar com ele tão facilmente.

"Pense nisso, Edward, apenas por um momento!" Carlisle me olhou, era intimidante. Quando parei de lutar, ele falou novamente. "Seu pai era um humano. Sua mãe era humana. Toda sua família era humana. Você realmente quer sugar a cada um deles até secarem?

Minha mandíbula se apertou. "Talvez eu queira. " Encarei em resposta.

"Está bem, " ele disse de forma áspera. "Vamos escavar o corpo de seu pai e deixar você beber o pouco de sangue que lhe resta. Você gostaria disso?" Estremeci com a imagem que ele estava mostrando. "Que tal deitarmos você ao lado de sua mãe morta para que assim possa sugar todo o sangue dela a noite toda, enquanto estão ambos a sete palmos debaixo do chão. É mais de sua preferência?"

Me senti doente, não fisicamente, mas mentalmente. Carlisle estava sendo impiedoso, mostrando meus pais em sua mente como bonecos zumbis. Olhe mas não toque. Então entendi o que ele estava dizendo. Qualquer humano que eu ousasse matar, seria exatamente como meus pais, porque eram humanos também. Assassinar humanos apenas me levaria para mais longe de minha humanidade perdida. De acordo com o mundo de Carlisle, ao menos. Em seu mundo, ele poderia não ser humano, mas ele sentia que era compassivo de estar perto o suficiente de possuir humanidade.

E eu não estava me comportando com qualquer traço de compaixão ou humanidade. Eu estava com fome e monstruoso e envergonhado. Emoções passavam e mudavam tão mais rápido para vampiros. Eu fui de ser um monstro para ser 'aquele garoto' que desapontou minha mãe com sonhos tolos de guerra e frustrei meu pai com rejeições constantes de garotas que ele me apresentou.

Carlisle me levantou e colocou um braço ao redor de meus ombros.

"Sinto muito, Edward. Eu sei que isso é difícil para você. "

"Você nunca bebe de humanos, então?" murmurei.

"Nunca, " ele respondeu.

"Tem algo errado comigo?" preocupei. "Sou o único que quer mais do que apenas o brando sangue de um animal?"

"Não, " ele sorriu. "Eu anseio por isso também. Mas depois de anos de prática, posso resistir, e utilizar minhas. . . habilidades para ser um médico melhor. "

Ele me deixou sem palavras. Não pude evitar de observá-lo, eu estava repleto de admiração. Jurei naquele momento em ser melhor do que eu era. Tornou-se um sonho, fazer meu novo amigo e novo pai orgulhoso de mim. Eu irei resistir. Tinha esperanças de que dessa vez, não seria um sonho tolo.

"Vamos, " ele disse, "foi o suficiente para sua primeira vez. Agora deveríamos te colocar em roupas mais apropriadas. "

Olhei para ele, confuso. Então olhei para mim mesmo. Ainda estava usando a vestimenta do hospital. Olhei para a parte de trás e sorri envergonhado.

Eu estava parado em frente a um espelho no banheiro de Carlisle. Bati no meu cabelo enquanto Carlisle observava minhas reações. Meu cabelo ficou no mesmo lugar, congelado no tempo. Parecia meio bagunçado e nem sequer um pente faria alguma diferença.

"Você transpirou muito como resultado da febre, " ele explicou, "então seu cabelo ficou assim. "

Movi meus ombros e continuei me inspecionando. O terno que ele me comprou serviu muito bem, mas ainda me sentia desconfortável. Meus sentidos aguçados podiam sentir cada fibra da roupa em minha nova pele. Ah sim, minha pele, mais pálida que o próprio branco. A luz do banheiro não ajudava muito, me perguntei como eu ficaria na luz do sol.

Mas então, havia meus olhos. E eu soube que nenhuma parte do garoto chamado Edward havia permanecido, nem mesmo sua única conexão com sua mãe. Seus olhos verdes como esmeraldas. Meus olhos eram vermelhos. O sangue vermelho de um caçador. 

Verde, Vermelho, Dourado.Onde histórias criam vida. Descubra agora