Sangrento

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Emmett estava escutando o álbum mais recente do Michael Jackson em alto volume. Tive que sacudir a cabeça para isso, era impressionante. O grito agudo no meio da musica, a dança absurda sem razão aparente, Emmett estava me dando nos nervos.

Eu tinha gostado de alguns aspectos da musica nos anos 80, parecidos com o que eu gostei no início dos anos 60... antes que os humanos começassem a consumir grandes quantidades de LSD. A partir daí tudo foi ladeira abaixo. Nos anos 80, no entanto, houve alguns artistas interessantes, como Fleetwood Max e U2. Embora eu tivesse dificuldade em entender as baladas românticas do U2. Como era possível amar alguém com ou sem a pessoa? Humanos podiam ser tão confusos.

"Vamos caçar." Rosalie anunciou da porta do meu quarto.

Ergui uma sobrancelha para ela. "Nisso?" eu apontei ao seu vestuário. Ela estava usando uma jaqueta branca de couro com babados.

Ela revirou os olhos. "Claro que vou me trocar. Você vem conosco?"

Suspirei e desviei meus olhos. "Não, obrigado."

Tantos anos haviam passado, nossa família havia crescido para três casais. Eu tinha feito tanto esforço para bloquear os pensamentos deles e respeitar suas privacidades. E mesmo assim ninguém respeitava a minha. Parecia que eles achavam que eu não tinha nenhum senso de privacidade, já que podia ouvir os pensamentos de todos. Afinal, eu era nada mais do que uma ferramenta útil na fachada humana que mantínhamos pelo bem da obsessão médica do Carlisle. Talvez as fêmeas humanas estavam corretas em suas impressões sobre mim, eu não era nada além de "uma coisinha".

Eu comecei a caçar muito mais do que antes. Mesmo quando eu estava com a minha família, em casa ou na escola, eu não estava realmente com eles. Minha mente estava a milhões de quilômetros de distancia, fantasiando com um lugar onde eu não poderia ser invadido pelos pensamentos de outros. É claro, não havia lugar assim para mim. Eu não tinha nem o direito de tal paz. Eu tinha obrigações a fazer e pecados a serem perdoados.

Quanto mais tempo eu passava sozinho, mais eu pensava sobre minhas ações passadas. E mais distante eu fiquei de qualquer tipo de resolução. Por mais divertida que essa família tenha sido, eu ainda estava condenado e sem alma.

Nós estávamos sentados na cafeteria, no começo de outro longo e tedioso ano escolar. Eu encarava sem interesse as rachaduras no teto da escola Rawling, em Wyoming.

Entediado, Edward?, Alice pensou.

Olhei para as rachaduras, para cima e então para baixo. Lá por 1987, Alice e eu tínhamos aperfeiçoado nossa forma silenciosa de comunicação.

Não se preocupe, vamos nos divertir bastante na aula de biologia hoje.

Eu levantei uma sobrancelha e disse, "E o que, por favor me diga, há na agenda?"

Vamos dissecar fetos de porcos. Não está animado?

Eu olhei para seu sorriso. "Oh, eu não sei," eu disse com uma tristeza de zombação. "Não sei se eu posso resistir a gloriosa atração dos... fetos de porcos." Minha família riu com o meu sarcasmo.

Eu tinha sorte de ter a Alice como parceira de biologia esse ano. Fazia com que lidar com o tédio fosse um pouco mais fácil. Em outros anos, eu simplesmente trabalhava sozinho. Os humanos me temiam e os professores não faziam objeções. Todos me deixavam em paz.

"Hoje, turma," o Sr. Shwartz, professor de bilogia, disse num tom monótono, "Eu decidi fazer as coisas de um jeito diferente. Vocês vão se juntar com parceiros diferentes."

"E você não viu isto?" Sibilei para Alice, baixinho.

"Decisão de último minuto." Ela murmurou.

"Lisa," o Sr. Shwartz continuou, "Você fará par com o Edward. Alice, com o Dave." Alice foi pulando feliz até o alto jogador de futebol. Lisa, uma pequena e loira, se aproximou à minha mesa timidamente.

Está tudo bem, Lisa, ela dizia a si mesma, Sim, ele é inacreditavelmente lindo, mas não é como se ele fosse me morder ou algo assim...

Me tomou um pouco de esforço para esconder meu sorriso. Bem, se ela me achava atraente, eu melhor usar isso em minha vantagem. Eu me inclinei e sussurrei no ouvido dela.

"Se você preferir, eu posso fazer todo o trabalho. Não me incomodo." Eu dei a ela meu sorriso mais doce. A respiração da Lisa ficou muito falhado. Fácil demais, eu pensei presunçoso.

Edward, seja bonzinho, Alice atirou através da sala. Eu pisquei rapidamente em sua direção.

"Agora, cortem um pequeno X abaixo do esterno," Sr. Shwartz ensinou. Sei bem disso, Sr. Shwartz, eu pensei a mim mesmo. Eu tinha dois diplomas de medicina, já havia trabalhado em humanos crescidos. Lidar com um feto de porco era apenas um insulto a minha inteligência. Por que eles tinham que contratar os professores mais banais para o colegial? Os humanos realmente se importavam tão pouco nada com a educação de suas crianças?

Um bebê se contorceu nas mãos do médico, chorando e coberto com os remanescentes do parto...

Eu olhei para Alice com olhos arregalados. Ela me olhou de volta com a mesma expressão. Depois que a aula monótona finalmente terminou, me aproximei da minha irmã.

"Essa foi sem dúvida a imagem mais repulsiva que eu já vi." Eu murmurei.

"Foi só um porquinho, Edward, não é tanta coisa assim."

"Não foi a isso que eu estava me referindo."

"Oh, aquilo." Ela disse baixinho.

"Sim, aquilo." Eu disse com severidade. "Por que diabos você está tendo visões de reprodução humana?"

"Eu não sei," ela franziu seu rosto. E então, abruptamente sorriu. "Mas o que sei é que é uma menina!"

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