Olhos vermelhos

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Passei meses calmamente contemplando uma explicação racional para a minha rejeição a Tanya. Então ela veio: eu era egoísta – até o fundo. Tudo com o que me preocupava eram as minhas próprias ambições, o que não deixava nenhum espaço em minha vida para uma companheira. Eu não pensava mal de minhas ações então, era para o melhor. Ninguém deveria estar envolvido com uma criatura tão egoísta como eu.

Tão egoísta eu era, que discuti com Carlisle sobre a nossa seguinte locação. Eu queria voltar a Hoquiam, ou algum lugar na Península de Olympic. Ele sentia que era muito cedo desde a nossa última estadia. Ele tinha razão, é claro. E o mais importante, ele estava mantendo os meus melhores interesses em mente. Ele e Esme tinham encontrado uma casa localizada entre Lebanon e Enfield, em New Hampshire. Estava convenientemente perto de Dartmouth, o lugar perfeito para mim, para que eu atendesse a faculdade de medicina.

Por mais agradecido que eu estivesse com o cuidado dos meus pais, sentia mais culpa do que gratidão. E Rosalie muitas vezes me lembrava daquela culpa através de seus pensamentos, me acusando de ser uma criança mimada. Jurei de provar que ela estava errada, comprovar o meu valor.

Todos os dias ia para a faculdade escola pontualmente. Era o melhor aluno e os professores adoravam o meu trabalho. Realmente não era tanto um desafio. Já naquele tempo, eu estava acostumado ao tédio da faculdade e aturava silenciosamente. O meu único alívio era o tempo que passava no fim do dia de faculdade com Carlisle, compartilhando o meu conhecimento recentemente adquirido.

"Como vocês podem ver deste corpo, " o meu professor falou de forma monótona, "o fígado foi pesadamente danificado. " Ele cutucou o órgão morto e sangue escoou. Olhei para longe, cortando o ar nos meus pulmões. Os meus colegas de classe estavam fazendo o mesmo, por outras razões. Um colega correu da sala em velocidade humana máxima. Podia ouvi-lo vomitando no corredor. Tive de zombar. Eles pensam que náusea é um fardo terrível... eles não tinham nenhuma idéia.

E assim foi, dia após dia após dia. Tolerando o cheiro enlouquecedor de sangue humano, os meus olhos eram preto como carvão quase todo o tempo. Minha família me tratava como uma dinamite ambulante. Eu estava mal-humorado e propenso à explodir sem motivo. Só Carlisle entendia o meu sacrifício.

"Faz dois anos desde que comecei a faculdade de medicina, " sentei-me no escritório de Carlisle, os outros tinham ido caçar.

"Você não está sob nenhuma obrigação, Edward, " ele disse amavelmente. "Você não tem de fazer isso. "

"Mas eu quero, " objetei. "Posso fazer isso, posso terminar a faculdade, posso... "

Ele ergueu suas mãos. "Mas você não tem obrigação. "

Suspirei. "Como você conseguiu terminar a faculdade de medicina?"

"Pela maior parte estudei de longe, " ele sorriu timidamente. "Claro, agora venho praticando sem uma licença legal. "

Rimos. Cada vez que nos mudávamos não só tínhamos de forjar certidões de nascimento, como também tínhamos de forjar uma licença médica para Carlisle.

"Memorizei milhares de livros, " ele explicou. Você poderia fazer o mesmo, Edward, não pensarei menos de você.

Eu franzi. "E sua resistência a sangue?"

"Anos e anos de prática, " ele sorriu.

"Depois que o topo do crânio é cortado, " o meu professor ainda falava monotonamente, "separamos o cérebro da caixa craniana com muito cuidado. " Ele enfiou um escalpelo dentro do crânio aberto. "Ah... droga, " ele resmungou enquanto sangue jorrava na sua roupa. Os meus colegas de classe riram. Eu não podia me mover, não podia fazer algum som. Sangue gotejava pela frente do jaleco do meu professor. A minha garganta queimou e meu estômago se retorceu em nós dolorosos.

Dia após dia após dia...

Fiquei surpreso ao encontrar a casa vazia um dia, depois de voltar da faculdade. Eu sabia que Carlisle ainda estava no hospital. Lembrei que Esme e Rosalie falavam sobre uma viagem de compras. Mas onde estava Emmett? Oh Deus... Emmett...

Eles irão me odiar... eles irão me jogar para fora da família... eles nunca irão me perdoar...

Andei cuidadosamente escada acima e para dentro do banheiro que Emmett e Rosalie dividiam. Lentamente deslizei as cortinas do chuveiro. Encontrei Emmett lá, sentado embaixo da água corrente, os seus joelhos erguidos até o seu peito, seu rosto enterrado nas suas pernas. Sua roupa ensopada com a água, parecia que ele esteve sentado lá há algum tempo. Ele se balançava para frente e para trás enquanto continuava sua lamentação mental.

Rose irá me deixar... Perderei o meu doce anjo... Carlisle irá me matar... e Edward... Oh Deus Edward me ajude!

Agachei-me e coloquei uma mão no seu ombro, na esperanças de confortá-lo. Ele se quebrou em soluços. Então ele olhou para cima e me olhou. Prendi minha respiração e o encarei em choque. Seus olhos eram vermelho brilhante. Retirei minha mão.

"O que você fez?" Exigi em um áspero sussurro.

"Não pude parar, " ele chorou, "tive de fazer, não pude me fazer parar, eu nem queria parar!"

Franzi a testa. "Quantos?"

"Dois... ou três, " ele sussurrou. Talvez quatro.

"Talvez?!" Gritei. Ele se jogou em mim e agarrou o colarinho da minha camisa com ambas as mãos. Seu rosto estava selvagem pelo medo.

"Por favor, Edward, me ajude, " ele suplicou. "Juro que nunca acontecerá novamente. Havia dois deles, uma fêmea e sua mãe. O cheiro era forte demais. Não pude parar em somente dois. Sinto tanto! Por favor! Nunca mais acontecerá novamente!" O meu colarinho começou a rasgar na costura.

"Tudo bem, " eu disse lentamente, colocando minhas mãos nos seus ombros. "Não é o minha área. Você deve falar com Carlisle sobre iisso. Ele saberá o que fazer. "

Ele baixou a cabeça em vergonha. "Ele irá me perdoar?"

"Bem... ele suportou o meu comportamento rebelde. Ele me perdoou no segundo que voltei. Tenho certeza que você ficará bem. " Ele sorriu tristemente.

"Eu a amo tanto. Eu a desapontei, " ele sussurrou.

"Rosalie precisa de você tanto quanto você precisa dela. Ela te perdoará também. Nós todos iremos. "

"O que fazemos agora?" Suas sobrancelhas juntas com preocupação.

Pensei rapidamente. "Teremos de nos mudar, começar tudo novamente. " Ele concordou com sua cabeça, ainda tremendo pelo o que passou.

Era um pouco irônico. Aqui estávamos, nos preocupando com minhas próprias experiências com a faculdade de medicina, Emmett sendo aquele que precisava de nossa atenção. A ironia parecia ser um tema recorrente na minha existência. Ou talvez, essa é somente a natureza de um vampiro.

Verdade seja dita, o deslize de Emmett era uma desculpa conveniente. Eu não podia lidar mais com a faculdade de medicina, e essa era a oportunidade ideal de escapar de todo os cadáveres sangrentos. Poderíamos ter ficado, limpar a desordem que ele deixou para trás, ninguém saberia. Mas incitei a família a se mudar para uma locação diferente por um tempo. Por que? Porque eu era egoísta. E ser egoísta era muito mais fácil do que admitir a minha fraqueza.

Verde, Vermelho, Dourado.Onde histórias criam vida. Descubra agora