Amar é Ser Amado

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Você cansou de lutar?

Você perdeu as esperanças?

Você quer respostas?

Você se machucou demais, por que não consegue aceitar a derrota?

Ps: Aceitar a derrota nunca é uma escolha. E nunca será uma resposta. 


Adrien estava em uma situação crítica de dor mental e, no momento, física. Com aquela busca pelo esquecimento de sua dor psicológica acabou perdendo muito sangue e só foi encontrado desmaiado quase dez minutos depois por sua cuidadora, Daniela, jogado no chão do banheiro com uma gilete na mão e a pia tingida de sangue. O médico foi chamado para realizar um transplante de sangue urgente, pois se não sua vida poderia estar em jogo novamente. Foi colocado na cama, ligado a vários aparelhos e o médico pediu a lista de saúde familiar do garoto, próximo a ele, que tenha o mesmo sangue. O tipo de sangue era raro e as únicas pessoas que teria esse sangue seria sua falecida esposa e sua mãe, porém ambas eram impossíveis de ser alcançadas no momento.

- Doutor, o que faremos com ele? - Perguntou Daniela preocupada.

- Vou ver se consigo entrar em contato com mais familiares. Cuide dele, pelo menos uma vez. Conversamos depois sobre sua falta e responsabilidade em relação a seu paciente! - Ele adverte e sai da sala.

Daniela suspira e senta na poltrona ao lado do corpo imóvel de Adrien. Parecia que eles tinham voltado à estaca zero.

- Eu sinto muito. Deveria ter cuidado de você, eu sei. Tornou-se muito mais que uma responsabilidade. Tornou-se um favor à sua esposa. Por mais que o senhor não queira sempre precisará de alguém ao seu lado daqui em diante. – Sussurrou Daniela.

Sentia-se culpada pelo que tinha acontecido. Ele estava na supervisão dela e por causa disso sua vida está em risco. Não queria que as coisas tivessem chegado aquele ponto.

- Daniela! – Gritou o médico. – Ninguém na família tem o sangue do garoto! Teremos que partir para doações públicas...

- Mas isso demoraria dias, semanas, meses! Não podemos esperar tanto tempo! – Daniela levantou-se, abismada.

- Não temos esse sangue disponível no hospital! Não temos escolha!

- Qual o tipo sanguíneo dele? – Perguntou a garota.

- É bastante raro... – O médico suspirou antes de pronunciar aquelas palavras. – O negativo.

- Mas... – A garganta da garota deu um nó. Sentiu-se tão agradecida e ao mesmo tempo confusa. Por que não perguntou antes? -... O meu sangue é O negativo!

- Você não pode doar... É uma quantidade grande... – O médico tentou argumentar, mas a teimosia da garota era maior.

- Já disse! Estou disposta a doar meu sangue para esse paciente! – Daniela saiu da sala às pressas em busca de informações.

Nunca tinha feito isso antes e estava com medo, mas era por ele e não por qualquer paciente. Ele precisava daquilo mais que ela mesma. Pelo menos, pela primeira vez naquelas semanas, sentira-se útil. Foi um sacrifício. Daniela odiava agulhas e aquele plástico apertando seu braço e a picada da agulha deixou-a agoniada. Não desistiu. Juntou forças e conseguiu doar 2 litros de sangue para o garoto.

Não desistiria de qualquer jeito. Após a doação as enfermeiras deram uma caixinha de suco para alimentá-la, restabelecendo suas forças. O médico agradeceu e fez o que era necessário.

Enquanto estava sentada na recepção com sua caixinha na mão uma leve brisa percorreu o local arrepiando sua espinha. Daniela passou a mão na nuca nervosamente, olhando para os lados. Sentiu algo se aproximar e ouviu uma voz suave contra sua orelha.

- Obrigada. – Sussurrou.

Minutos depois a presença tinha sumido. Daniela, abismada, colocou a mão contra o peito e soltou o ar preso há alguns minutos.

- Marinette? – Sussurrou a espera de uma resposta.

Nada se moveu. Tudo estava quieto demais. Fechou os olhos por um breve momento e sorriu.

Eu faria tudo novamente se fosse preciso, Mari.

Então ela se levantou caminhando lentamente até o quarto do garoto, sentando-se na poltrona ao lado da cama.

Não se aproximou dele por pena ou só para dar assistência como qualquer enfermeira faria, mas para saber mais sobre aquele menino desconhecido que sofreu um acidente um mês atrás e perdeu sua noiva. No começo era algo confuso para ela, mas depois percebeu quanto se importava com aquele garoto de olhos verdes. Não o largaria por nada nesse mundo desde já. Cuidaria dele por sua noiva.

Eu juro. Repetiu para si mesma enquanto acariciava os cabelos imóveis do garoto.

- Eu farei o que for necessário. – Sussurrou.

O médico fez os exames para ver se estava tudo bem e desapareceu pela porta novamente.

Adrien acordou meia hora depois. Daniela estava deitada com a cabeça ao lado da dele, por isso se assustou quando percebeu o cheiro que a garota emanava. Uma mistura de água e cravo. Inspirou o ar contagiante por alguns minutos, até perceber que a mesma tinha acordado de seu cochilo.

- Dan? – Sussurrou.

- Adrien. – Sussurrou espantada. Afastou-se, arrumando as mechas loiras e os óculos. – Desculpe. Eu fiquei dando auxílio desde...

- Tudo bem. – Sua voz estava rouca. Por mais estranho que seja Daniela achou linda. – Você... Precisa descansar...

- Não! Eu estou ótima. Meu dever é ficar ao seu lado, cuidando de você. Não sairei daqui. – Ela confirmou, decidida.

- Eu agradeço. – Ele sorriu. – Você...

Ele iria comentar sobre o cheiro que ainda estava invadindo suas narinas, porém afastou o comentário.

- Você precisa descansar. Feche os olhos, eu vou estar aqui. – Sussurrou Dani colocando a mão sobre seus olhos, fechando-os.

Uma música suave e calma adentrou seus ouvidos, fazendo-o automaticamente relaxar. Daniela ajeitava seus óculos nervosamente enquanto cantava e fazia carícias no cabelo do garoto, perdida em pensamentos. Olhava diretamente para o rosto do mesmo, os detalhes, as marcas, os machucados. Não importavam. Ela estava começando a achar ele a pessoa mais bonita que já vira na vida.

Ele adormeceu sobre a voz da garota que percorria não só a sala, mas como a ala de emergências inteira.


Eu Sem VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora