O Medo

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- Sua primeira consulta. – Daniela sorriu já afastando as cortinas deixando assim a luz entrar. – Vamos acordar pequeno.

- Só mais um pouco... – Sussurrou apertando o travesseiro contra o rosto.

- Bobo. – Daniela avançou, enchendo-o de cócegas. – Vamos acordar!

- Tudo bem! – Adrien disse entre as risadas. – Eu já estou levantando!

- Consegue andar? – Daniela se afastou, pegando as muletas ao lado da cama. – Aqui, firme-se nisso.

- Obrigado. – Ele sorriu, andando até o banheiro com ajuda dos equipamentos.

- Não vou precisar dar banho em você, não é? – Daniela brincou.

- Nunca precisou! – Gritou Adrien rindo.

Após seu banho bem tomado, colocou uma nova roupa e com ajuda de Daniela penteou os cabelos loiros, colocando-os no lugar. Fez alguns alongamentos antes de andar por uma grande distância até o consultório da psicóloga que ficava do outro lado do enorme hospital.

- Boa sorte. – Daniela beijou-o na bochecha antes de deixa-lo nas mãos do médico.

O que mantinha o garoto em pé foi o fato de que Daniela, não importa o que aconteça, estaria ali para ajuda-lo. Guiá-lo.

- Bom dia, Sr. Agreste. – Cumprimentou o médico.

- Doutor. – Ele sorriu.

- Bom, quero que conheça a Psicóloga Amylee.

- Emily? – Perguntou o garoto confuso.

- Não, Sr. Agreste. – Interviu a moça de cabelos escuros e olhos castanhos. – Bom, não importa! Pode me chamar de Amy.

- Obrigado. – O garoto sorriu desconfortável.

- Entre, nos vemos depois Doutor. – Ela sorriu e fechou a porta. – Sinta-se a vontade. Precisa de ajuda?

- Não, obrigado. – Ele rapidamente sentou-se no sofá, apoiando as muletas na parede.

- Vamos começar. Nome, por favor. Completo.

- Adrien Agreste.

- Idade?

- 22 anos.

- Porque o senhor inventou a ideia de se cortar já tendo noção das consequências? – Perguntou Amy, anotando tudo o que o garoto dizia numa prancheta.

- Porque não valia a pena lutar. Eu lutei para viver e agora me arrependo disso. Bom, arrependia.

- E porque o senhor não se arrepende mais?

- Por que... – Um nó se formou na garganta do garoto. -... Eu tenho a Daniela do meu lado para me ajudar em certos momentos. Consigo lidar com as coisas de outro modo.

- Ela é importante na sua vida? Passou a ser, quer dizer.

- Sim. – Uma resposta simples, já que era a verdade.

- Muito bem. Estudei bastante a sua história, suas informações, e o senhor poderia me dizer que dia é hoje?

-... 14 de Novembro. – Sussurrou.

- O que essa data significa para você?

- O meu aniversário. – Sussurrou.

- Por que escondeu isso de todos?

- Por que era um dia que costumava... Ser feliz. Ser alegre, ser animado, e não é mais. Não tem motivo para ser comemorado.

- A Daniela sabe disso?

- Não.

- Então... Voltando as perguntas. – Amy tossiu um pouco, logo se recompondo. – Você a amava muito, eu sei. Marinette. Mas já pensou que talvez o que ela quer de você agora seja sua felicidade?

- Já. Daniela comentou sobre isso.

A psicóloga olhou-o pelo canto do olho.

- Vocês são bem próximos, não são?

- Quem?

- Você e Daniela. São muito amigos.

- Sim. Ela está me ajudando nos últimos meses.

- Já pensou em estar nutrindo por ela algo além da amizade?

O garoto olhou diretamente para a mulher em sua frente. No fim ele estava tentando não admitir isso a si mesmo. Mas era verdade. Estava começando a nutrir sentimentos por sua cuidadora. Mesmo não querendo, ela acabou ajudando-o quando mais precisou. Isso desencadeou uma série de sentimentos, incluindo o amor.

- Não. – Mentiu.

- Muito bem. – Sussurrou anotando aquilo em sua prancheta. – O senhor sabe que o que é falado aqui fica apenas aqui, não é?

- Sim. – Sussurrou. – Não estou escondendo nada.

- O foco disso não é lembrar você de seus problemas, mas sim cura-los. E o único remédio que eu vejo está na outra sala, verificando as gravações telefônicas do balcão de atendimento ou ajudando outro paciente.

- Não estou entendendo a senhora.

- Sim, você está me entendendo. Adrien você está em uma situação muito ruim. Está se recuperando aos poucos, mas seu psicológico só poderá ser recuperado totalmente com o tempo e com o remédio na dose certa. Entenda.

- Eu sei. Já me falaram isso! – Resmungou frustrado. – Só preciso pensar. Sinto como se estivesse traindo-a.

- Não pense assim. Lembre que hoje é seu aniversário, por que não tenta transformar esse dia num dia animado e feliz? – Perguntou Amy, sorrindo. – Nada é impossível.

Os olhos do garoto arregalaram-se e novamente as memórias de anos atrás vieram para atormenta-lo. Ele tinha medo delas. Medo do que elas eram capazes de fazer.

- Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades muitos beijos na bochecha! – Gritou Marinette entrando no seu quarto e beijando o rosto todo de Adrien.

- Bom dia amor. – Ele sorriu, abraçando a mesma.

- Tenho uma surpresa.

- Sério? Qual?

- Você precisa descer para ver!

O garoto, curioso, rapidamente tomou um banho e ajeitou-se descendo as escadas e encontrando uma enorme mesa de café bem posta. Sorriu, logo sentando a mesa. Os dois comeram felizes aquela pequena refeição. Mas tarde o garoto ganhou um enorme urso de pelúcia em forma de gato preto. Marinette sabia que ele tinha uma pequena queda por gatos pretos, literalmente. E no final do dia eles jantaram num restaurante maravilhoso, dividindo o amor que existia entre si. Ao chegar à casa uma noite maravilhosa os esperavam.

Aquele foi o melhor aniversário de todos que o garoto já tivera em toda a sua vida.

Só de estar junto a ela, beijando-a, abraçando-a, recebendo o carinho que ela transmitia por um simples olhar o fazia sorrir.

Ela o fazia o feliz.



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Eu Sem VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora