Todo mundo espera alguma coisa...

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Aquela primeira semana transcorreu melhor do que o primeiro dia, continuei chegando mais cedo, os colegas começaram a ficar mais atentos depois de uns dois ou três chiliques do chefe, e eu comecei a perceber que subestimei a quantidade de coisas que tinha pra fazer. Não é que o trabalho fosse nada de novo, mas nunca pensei que bancos de dados de instituições importantes pudessem ser tão desorganizados. Eu e os meninos passávamos mais tempo limpando os dados que propriamente analisando-os. Isso fez com que quase não visse o pessoal das outras áreas, passava o dia numa sala fechada com a cara enfiada no computador.

O único momento mais tranquilo era quando saía pra almoçar com a Nice, uma cada vez menos assustada Nice. Cuidava das relações públicas e tinha mais contato com a galera do jurídico. Contou sobre como estava organizando um cerimonial pra apresentar a força tarefa, que eram convidados figurões da política e do empresariado.

-Mas ainda não é muito cedo? – pergunto

-É protocolo, tudo que fazemos ou decidimos fazer tem que ser apresentado à sociedade ~leia-se, figurões da sociedade~. Enfim, órgão público é assim, ainda mais por que se trata de uma operação extraoficial.

-Mas não deveria ser extraoficial, um trabalho como o que estamos fazendo é muito importante!

-Eu sei, mas o caso é que muitos dos que tem o poder de barrar ou autorizar uma força tarefa como essa podem ser afetados por ela, não é suficiente ser o correto, precisa convencer a maioria dos que estão lá em cima, os que realmente tomam as decisões. É um embate de forças.

-Nem precisa me explicar, sei muito bem. Já trabalhei pro governo uma outra vez, caso bem menor, mas tinha dessas coisas..

-Quem não está nada feliz com isso é o Dr. Oliveira.

-É? Conta esse babado..

-Ele pensa meio que como vc. Além do mais, gastar dinheiro com um cerimonial burocrático quando se tem tanto trabalho a ser feito. Ainda mais pq vc viu né, ele n tem muita paciência, a secretária dele me contou que ele não suporta tapinha nas costas, fazer média, nada disso, acho que o que mais cansa ele é essa parte do trabalho de ser chefe de divisão, a maioria dos juízes passa o trabalho aos subordinados e fica só com a parte política, pelo jeito ele faria o contrário.

-Menina, essa secretária dele é bocuda né?

-e eu nada curiosa, juntou a fome com a vontade de comer.

Rio - mas não posso negar que tbm sou curiosa - uma curiosidade específica num certo juiz, penso-, conta mais...

-É isso, ele tá irritado por ter que fazer média com político e tal.. parece que ele já foi delegado, esse povo é muito prático né, não curte enrolação.

-Quê? Delegado? (tô no chão!)

-É, menina, por isso é daquele jeito  ~birrentão~. Enfim, tenho que ir, fiquei de fazer uns telefonemas ainda no horário de almoço.

-Tchau, gata.. manda um whats dos babados.

Nice volta pro prédio e fico pensando na novidade, Dr Oliveira.. delegado.. aff. Não posso deixar de pensar na fantasia maravilhosa que é um homem gato, marrento e dalegado, ainda por cima quando me identifico com o fato dele não gostar de fazer média com ninguém! ~cai na real, Ana, um homem desse deve ser casado~. Ao pensar em homem bonito lembro do colega grandão do primeiro dia, nunca mais o tinha visto, deve está mais atolado de trabalho do que eu.

Sem muitos planos pro fim de semana, vou ao salão no sábado à tarde e à noite planejo revisar um material que ainda não tinha visto. Ledo engano! um sábado à noite numa casa cheia de meninos conseguir ficar trabalhando? Nem pensar!

Segundas-feiras e Outros DesastresOnde histórias criam vida. Descubra agora