Bom dia!

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Cheguei em casa faltando poucas horas pro trabalho, mas dormir não era uma opção. Ainda que tivesse tempo, minha mente estava completamente acordada e não conseguia parar de reviver cada minuto que passei ao lado dela. Seu cheiro, seu toque, sua voz, tudo dela estava impregnado em mim e não queria deixar essa sensação ir embora. Já foi muito difícil me despedir ainda a pouco na frente do seu prédio, e mesmo o fato de saber que logo estaríamos juntos, não afastava o vazio que me invadiu no momento em que ela desceu do carro. 

Eu estava ferrado, definitivamente, muito ferrado. 

Ana Rita despertava em mim sentimentos que há muito não sentia, como ciumes, por exemlo. Do nada me pego querendo esganar uma pessoa só por que ela fez um elogio a Ana. Sim, Fábio, seu colega de apartamento, a quem tento fazer minha mente se convencer de que é apenas um amigo, mas que no momento em que ele chegou perto dela só conseguir sentir um aperto no peito e uma raiva que não sei de onde veio. Isso era ridículo. Tinha necessidade de saber sobre  a vida dela, seus interesses, suas relações, como era possível uma mulher como ela estar sozinha, como era possível uma mulher como ela se interessar por um alguém como eu? e no entanto, ela fez de mim o mais feliz dos homens na noite anterior. Ela parecia verdadeiramente entregue, feliz, eu não poderia me enganar tanto sobre alguém. 

Mas minha mente reclamava: ~como se não já tivesse me enganado antes, Carlos!~ Os fantasmas do meu passado que sempre me atormentam voltam a repetir incessantemente na minha ~tudo já pareceu ser de verdade outrora~.Tentava me convencer que dessa vez seria diferente, era diferente, Ana Rita é uma mulher intensa, verdadeira, não tinha motivos de me enganar, fingir. Mas por que a desconfiança estava sempre presente em minha vida? nunca conseguindo me envolver por mais que sentisse necessidade disso? eu sabia a resposta, sempre soube, aquelas palavras sempre estariam gravadas em minha mente e em meu coração, pois no fundo eu sabia que eram verdadeiras.

~

-Acha mesmo que você seria capaz de despertar amor em mim? AMOR? por deus, Carlos, você é uma pedra fria, que não desperta nem pena que dirá amor! - falava em meio ao choro e a sua gargalhada satírica de sempre.

- Você está descontrolada, fora de si, nós temos uma vida! - tentava argumentar desesperado enquanto via incrédulo ela jogar as roupas de qualquer jeito na mala.

-Vida? que vida!! eu vivo num inferno ao seu lado você não percebe? você não foi capaz de perceber o que estava diante do seu nariz o tempo todo? eu nunca te amei, eu nunca se quer gostei de você, seu toque me dá nojo. Você não serve pra mim nem pra mulher alguma! E sabe do que mais, você deveria se tratar!

-Você que deveria se tratar, nós temos um filho, um filho!! por Deus!! - tentei por fim meu ultimo recurso, mas nem isso foi suficiente.

-Sim, nos temos um filho - ela ponderou mais calma - um filho que infelizmente atrapalha meus planos. Mas você é o pai, não é mesmo? - me perguntou com aquele sorriso irônico nos olhos - então você vai saber cuidar dele pra mim.

Fechando a mala e determinada a deixar nossa casa e nossa vida para trás ela saiu pela porta, mas não sem antes eu chamá-la uma ultima vez.

-Por que, Catarina, se você sentia tudo isso então por que?

Ela sorriu enquanto secava uma lagrima vazia de sentimento - por que você foi útil, meu bem!

~

Suas palavras e suas expressões me atormentaram desde então, e se eu não era tudo que ela me disse, talvez tenha me tornado ao longo do tempo. Vazio, duro, distante, desconfiado, impassível. Teria tudo isso mudado agora? Eu estava apaixonado por Ana Rita, não era mais capaz de negar, mas seria esse sentimento mais forte que a desconfiança que mora no meu coração desde que Catarina passou por aquela porta? 

Segundas-feiras e Outros DesastresOnde histórias criam vida. Descubra agora