Incoerências

354 51 1
                                    

Chegar aos 36 anos me descobrindo um homem incoerente é de fato uma surpresa. Eu não tenho mais idade de agir por impulso por causa de uma mulher e, no entanto, pra ficar literalmente de quatro por Ana Rita eu só precisaria colocar as mãos no chão, pois de joelhos eu já estava (e Deus sabe como poderia ter ficado horas naquele mesmo lugar!).

Sentir Ana Rita gemendo de prazer a ponto de se contorcer em minha boca foi a experiência mais sexy de toda a minha vida. E claro, mais que o suficiente para me fazer esquecer toda a preparação mental da semana inteira. Eu bem que tentei falar com ela, dizer que nosso beijo foi um erro e que nunca mais aconteceria de novo, mas foi só ela se virar e me olhar daquele jeito que eu esqueci toda a fala ensaiada. Quando ela falou comigo com sua voz rouca, já foi! Tudo estava completamente apagado e só conseguia me concentrar no seu cheiro e naqueles olhos expressivos me olhando com curiosidade e malícia. 

Antes de mais nada o que me atraía nela era a atitude, seu jeito decidido de ser, de falar o que pensa e não ter vergonha de mostrar o que quer, ao contrário de mim, que profissionalmente parto pra cima, tomo as rédias da situação, mas em minhas relações pessoais sou um fraco. Ela parece dominar bem todas as áreas. É isso! mais que tesão tenho por ela uma admiração sem tamanho. 

Quando ela estremeceu e gemeu desordenadamente, claramente se desmanchando num orgasmo que adorei saborear, Ana Rita me puxou para um abraço, me pegando completamente desprevenido. Ficamos ali abraçados e ofegantes por um tempo que não soube calcular. Depois, levantei sua meia calça com cuidado e a ajudei a colocar sua saia no lugar, evitando olhá-la nos olhos.

 -Então, isso também não vai mais acontecer, hã? - Fala com um sorriso brincalhão nos lábios. 

-Desculpa, mas eu... - começo a falar e ela me interrompe. 

-Pensei que havíamos superado a parte das desculpas. 

Sorrio, concordando com a cabeça. 

-Você sabe que o que estamos fazendo é muito errado, ainda mais aqui, isto realmente não deveria ter acontecido e você deve concordar comigo. 

-Mas aconteceu.

-Sim, aconteceu. E não sou mais ingênuo ao ponto de dizer que não quero que aconteça de novo...

-E de novo e de novo... - ela fala se aproximando e me abraçando, como uma feiticeira que tem o poder de fazer meus pensamentos se desordenarem de uma só vez. 

-E de novo... - só consigo concordar antes de puxá-la para mais um beijo. 

 -Quero te ver nesse final de semana - digo quando consigo finalmente soltá-la. 

-Hum...- ela parece ponderar.

-O que você gosta de fazer além de correr na praia às seis da manhã? - ela sorri ao perceber que me refiro ao dia em que nos encontramos na praia. 

-Gosto de fazer muitas coisas, muito mais do que gosto de correr às seis acredite. 

-Difícil acreditar quando vi você correndo parecendo que treinava para uma maratona. 

-Heei - ela da um pequeno tapa em meu braço - não ria da minha corrida! 

-Falo sério! - Mas é impossível não sorrir e ela ri junto comigo, e acabo descobrindo que mais do que seu jeito obstinado, sou completamente fascinado pelo seu sorriso. 

-Bem, nesse sábado a orquestra sinfônica do estado irá se apresentar no teatro municipal, tenho entradas, se você gostar e quiser me acompanhar, podemos sair para comer alguma coisa depois. O que acha?

Ela faz uma cara de surpresa com a minha proposta que reconheço ser muito clichê, mas o que posso fazer se não consigo pensar em nada mais original e estou desesperado para conseguir que ela diga sim?

-Olha, você não é obrigado a nada, ok? a gente pode simplesmente continuar nossas vidas normalmente. Sou madura o suficiente para seguir com o meu trabalho como se nada disso tivesse acontecido. Eu realmente não quero que fique parecendo que estou insistindo em nada, eu...

-Não estou entendendo...você pode dizer não se não quiser - respondo sem entender a reação dela.

-Não quero causar problemas no seu trabalho, você está certo a gente não devia ter feito isso. Eu deveria estar mais focada e não ficar por aí te provocando - Ela fala sem me olhar me deixando completamente confuso. O que aconteceu com a mulher de cinco minutos atrás?

-Ana Rita... eu... por favor... - me pego implorando ~Mas o que...?~

Ela me olha como se esperando para que eu terminasse a frase, mas a verdade é que não sei se queria terminar. E se isso tudo fosse um erro? e se fosse um equívoco o rumo que as coisas estavam tomando?

-Acho que devemos pensar sobre isto melhor - digo por fim.

-Sim - ela responde após alguns momentos - boa noite, Carlos!

-Boa noite, Ana Rita!


~


Fico observando ela se afastar na calçada ainda movimentada e só consigo pensar em uma coisa: como fui burro, meu Deus! Não sei qual foi o motivo para ela agir daquela forma, mas o fato é que me arrependi no mesmo instante de ter dito aquelas palavras "acho melhor pensarmos sobre iss" ahh, pelo amor de Deus! eu queria estar com ela, como fui covarde ao ponto de não deixar isso suficientemente claro?

Vou para casa tentando tirar aqueles pensamentos da cabeça, mas não consigo, simplesmente não consigo. Acabo por me convencer de que, mesmo não sabendo seu endereço ou seu número de telefone, não vou terminar esse final de semana sem procurá-la outra vez. 



Segundas-feiras e Outros DesastresOnde histórias criam vida. Descubra agora