Bom dia!

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Não sou de ficar indecisa sobre o que vestir, ou deixar de dormir por causa de um trabalho, só que esse é realmente algo importante, grande sabe? Mas como tudo que faço na vida precisa ter paixão e dificuldade pra me fazer correr atrás, então nada melhor que esse friozinho na barriga pra fazer meu sangue circular mais rápido. Comi como louca no café da manhã, exagerei talvez. Repassei as informações que o Rogério me passou quando assinamos o contrato de consultoria, teríamos uma equipe de juristas, economistas, contadores e relações públicas. Ele, o Rogério, seria o líder do nosso grupo, que seria formado por mim, responsável por verificar os dados da regulamentação bancaria no país, junto com meus sócios, e outros dois economistas, responsáveis pela regulamentação internacional, pois ao que tudo indicava se tratava de um esquema de lavagem de dinheiro gigantesco.

Organizei tudo em minha mente direitinho e chamei um taxi, era chegada a hora! Entrei no andar da reunião 10 minutos antes do horário combinado. Por mais que estivesse nervosa não deixaria transparecer (sou profissional, já fiz isso mil vezes). Me dirigi à recepcionista, que me indicou a sala de reuniões, cheguei, dei bom dia aos presentes, um senhor de mais ou menos 60 anos e outro mais jovem de uns 35 anos eu acho, ambos sérios, responderam meu bom dia sem me olhar. Sentei, abri meu notebook, olhei as mensagens do celular, e os dois continuavam lá, o mais novo parecia impaciente olhando a todo momento para o relógio.

Eu também estava começando a ficar agoniada com o silêncio, mas eis que o Rogério chega e consigo ficar mais tranquila.

- Bom dia a todos! Olá Ana Rita, bom dia! Que bom que chegou! Pensei que fosse me atrasar mas consegui chegar bem no horário.

- Bom dia Rogério, como vai?

Nesse momento o homem mais novo levanta a cabeça e em uma carranca fala com o Rogério. – Bem, eu já estou esperando há mais de 15 minutos, e além de nós não consigo ver sinal do restante da equipe que deve ser de 16 pessoas, meu tempo é muito caro pra ficar aqui esperando um bando de irresponsáveis se atrasarem para a primeira reunião de um caso tão importante. Começamos mal!

Nossa, se já começa o dia assim! Penso. Rogério no entanto, parece que nem o escuta e vira para mim. – Ana Rita, você já conhece esses distintos senhores?

- Não. Respondo seca. O homem me fita pela primeira vez, e percebo que também eu não o tinha encarado ainda, ele é bem jovem relativamente ao outro, com um olhar de cansaço e ao mesmo tempo de altiva determinação, cara de inteligente, talvez um pouco soberbo.. ai, o que eu tô fazendo? Logo eu que condeno tanto pré julgamentos! Mas uma coisa definitivamente ele era, atraente como o diabo..

- Deixe-me fazer as honras, esse é o Dr. João Campos – apontando para o mais velho, advogado responsável pela divisão econômica da investigação, e esse, apontando para o mais novo, é o Dr. Carlos Oliveira, o juiz da força tarefa. Senhores, esta é Ana Rita, consultora econômica da "FAMetrich".

Cumprimento os dois com um aceno de cabeça, nem um dos dois merecia o meu aperto de mão depois de mal terem respondido o meu bom dia. Percebo no tal João o olhar de estranhamento usual, aquele, que começa no meu black e termina na minha carranca de "sim, é isso mesmo!" tsc.. O outro, Carlos, me olha firme, devolve o aceno com a cabeça e continua me encarando com uma expressão estranha por um tempo que julguei maior que o necessário. Mas só o fato de não ter me comido com os olhos já é um avanço.

Nesse momento, chegam cinco pessoas de uma vez e o Juíz gato/irritadinho começa a reunião. Inicia com a tediosidade jurídica, percebo que ele conhece bem o caso e realmente está empenhado em fazer as investigações darem resultado. Enfatiza que o departamento está passando por um momento difícil e que foi quase um milagre conseguir financiar uma força tarefa que envolva entre os funcionários do ministério público consultores externos, e que precisaríamos nos empenhar ao máximo para fazer a operação dar resultado no menor tempo possível. Ele fala essa última parte olhando para mim, e me pergunto se ele acha que eu e meus sócios fazemos corpo mole. 

Segundas-feiras e Outros DesastresOnde histórias criam vida. Descubra agora