7o Capítulo - Na colônia escola

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-Não sei quanto tempo se passou. Felipe veio buscar-me. Emocionado, despedi-me de todos.


Miriam e Rosa abraçaram-me numa sincera demonstração de carinho.


Partimos... Felipe segurou-me pela mão. Subimos pela encosta do vale até uma planície onde um


veículo nos esperava. Entramos. Logo em seguida, o veículo começou a deslizar ou voar, não sei ao


certo, o que sei realmente é que chegamos a um lugar que parecia uma cidade. Havia prédios,


jardins, pessoas andando pelas ruas e alamedas. Desembarcamos e começamos a caminhar. As


pessoas passavam por nós, cumprimentavam-nos como se nos conhecessem. Curioso, perguntei:


-Estamos na Terra?


-Não da forma como você imagina. estamos em uma cidade espiritual, em um lugar próximo da


crosta terrestre. Na verdade, ela toda é uma colônia escola.


-Não entendi! Uma Colônia Escola?


-Sim! O que aqui se aprende transcende ao que aprendemos nas academias da Terra.


Entramos em um prédio de dois andares. Caminhamos pelo corredor térreo e paramos frente ao


número dezesseis.


-Este é o apartamento onde vai ficar. - afirmou Felipe.
Era um quarto com uma cama, uma estante cheia de livros e uma sala pequena com um sofá e duas


poltronas, iguais as que todos conhecemos na Terra. Ia perguntar do banheiro, mas calei-me, afinal


agora era um espírito, com certeza não precisava mais atender às necessidades fisiológicas. Felipe,


dando a entender que leu os meus pensamentos, sorriu, balançou a cabeça e partiu.


Fui para o quarto e abri a janela. estava anoitecendo, contemplei o céu. A beleza era tanta que tive a


sensação de estar no portal da eternidade. Tomado por forte emoção, senti-me voltando no tempo, o


lugar onde fui parar...Era ali mesmo! Estava rodeado de amigos, era uma festa de despedida, eu ia


partir, ia retornar à Terra. Alguém que eu senti que amava muito aproximou-se de mim e disse:


-Vá, tenha fé! Propague a sabedoria Divina! Não deixe a indisciplina vencê-lo, lute com todas as


suas forças.


Meu Deus, foi daqui que eu parti para a Terra. Tentei lembrar-me de mais alguma coisa mas não


consegui. Fechei a janela e deitei-me para raciocinar melhor. Comecei a conjecturar:


-Talvez seja por isso que Felipe me trouxe para cá. Quem sabe é aqui que eu tenho que prestar


contas dos compromissos assumidos antes de reencarnar...


Depois de muitas conjecturações, resolvi distrair-me lendo um livro. Levantei e peguei um deles na


estante. Quando eu vi a capa e o título, estremeci, tive a sensação de que já havia passado por


aquele momento. Não agüentei a curiosidade; deitei-me novamente e, recostado na cabeceira da


cama, comecei a lê-lo. Era incrível! A cada página eu reconhecia aquela obra. O livro tratava de uma


técnica de se introduzir a Filosofia na Arte.


Agora tinha a certeza de que já estivera ali, naquele mesmo quarto. Estava divagando quando a


porta se abriu e entrou uma mulher aparentando uns trinta anos, vestindo um longo vestido azul


claro. Quando eu a vi e olhei em seus olhos esverdeados e brilhantes, senti uma emoção tão grande


que comecei a chorar. Ela correu para mim e apertou-me em seus braços. Por alguns instantes


tornamo-nos um só. Essa foi a impressão que eu tive naquele momento. Desejei que ficássemos


assim para sempre.


-Zílio, meu irmão! Fiz de tudo para que não enveredasse pelos caminhos da revolta, mas, pelo que


eu vejo, ainda é um sentimento muito forte em você.


Quando ela chamou-me de Zílio, senti aflorar em minha mente vagas recordações. A emoção de tais


lembranças embargava-me a voz. Com muito esforço consegui falar o nome que surgiu na minha


mente:


- Helena! Helena! Era você o anjo bom que eu procurava nas minhas alucinações.


-Zílio, graças a Deus você voltou à consciência!


-Sinto que fracassei novamente.


-Não se deixe abater, afinal, você conseguiu pelo menos se desvincular de alguns espíritos que o


alienaram durante séculos a compromissos inferiores.
- Espero que você esteja certa; esta etapa da minha existência foi muito tumultuada; não sei onde


venci ou fracassei.


-Por mais tumultuadas que sejam nossas experiências na Terra, sempre trazemos algum


aproveitamento; muitas vezes, apenas uma atitude feliz que praticamos passa a nos render frutos


eternamente. Ao longo das suas encarnações, você acumulou muitas atitudes felizes e foram elas


que lhe facultaram retornar a este lugar tão importante para a sua evolução. Breve nos reuniremos


com nossos amigos. Agora devo ir. Descanse, amanhã nos veremos novamente.


Realmente eu precisava descansar, sentia-me bem, mas havia desprendido muita energia ao viver


tantas emoções em tão pouco tempo. Deixe-me e adormeci.

Um roqueiro no AlémOnde histórias criam vida. Descubra agora