Capítulo 32

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Já tinha passado algum tempo e continuávamos na mesma posição e a minha mão continuava a acariciar o cabelo dela. Estava a sentir-me extremamente bem, ela já dormia e parecia um anjo, quase não conseguia ouvir a respiração dela. Estes últimos dias, dias estranhos para mim, não sei o que está a acontecer, seja o que for, não sei se quero que continuo ou se acabe agora.

"O quê me estás tu a fazer, Catty?"- sussurrei inclinando a minha cabeça para a olhar. Se à algum tempo atrás alguém me dissesse que eu iria ser tão brando com uma rapariga, te-la a dormir nas minhas pernas e simplesmente não ter quase tentação de lhe fazer nada, quando me dissessem, era nesse preciso momento que eu ia soltar uma gargalhada forte, quem iria prever? Nem eu próprio alguma vez me imaginei assim, neste estúpido desespero por esta simples rapariga.

Peguei nela e levei-a para o quarto para que ela descansasse um bocado. Ouvi o meu nome ser sussurrado por entre os lábios dela enquato a aconchegava nos lençóis. Novamente senti-me vulnerável, não diria que estava a cair aos pés dela mas a cada dia mais um bocado do meu coração ficava como, não sei, menos frio. Sentei-me na cama ao lado dela e rapidamente ela  se enroscou em mim, um sorriso escapou da minha cara, não dava para entender as atitudes dela, eram estranhas, mas eu gostava delas na maior parte das vezes.

Deitei-me ao lado dela, depois iria fazer o jantar, isto se ela não acordar primeiro. Não tencionava adormecer mas estava cheio de sono e bastante cansado, senti os meus olhos a pesar e rapidamente cai num sono profundo.

***

Acordei com barulho lá fora. Catty dormia profundamente e o despertador marcava a meia noite. Já era domingo, quem sou eu para estar aqui a dormir desde sexta à noite? Levantei-me e abri um pouco o estore para ver que o barulho vinha de um homem completamente bêbedo a bater com uma garrafa contra o poste em frente do apartamento.

Caminhei até à cozinha. Ela não tinha jantado, nem eu, por isso tinha que tentar fazer alguma coisa. Abri o frigorifico, havia muita coisa, mas eu não sei fazer nada, por isso resolvi fazer duas sandes.

Abri a porta do quarto com cuidado, acendi a luz e vi que ela já estava acordada.

"Acordada?"- o olhar dela era pensativo, como se já estivesse assim há muito tempo. Quando ela não respondeu começei a sentir que alguma coisa não estava bem.

"Senti que sais-te daqui, já estava acordada"- de certeza que eu era o culpado, não devia ter ficado aqui outra vez.

"Desculpa se fui eu que te acordei, mas não jantas-te e eu fui tentar fazer alguma coisa porque"- enquanto eu me tentava explicar ela falou também. "A culpa não é tua Harry, estava só a pensar"- senti-me muito melhor quando ela disse que a culpa nao era minha, de algum modo senti-a me culpado.

Dei-lhe a sandes e ela deu-lhe uma pequena trinca. Sentei-me no meu lado da cama e também começei a comer. "Queres falar? Já sabes, talvez nao saibas mas.. podes falar comigo" -  disse quase a sussurra, ninguem tem confiado em mim,  tambem nao faço nada para melhorar isso mas sinceramente não me interessa muito se confiam ou deixam de confiar, mas com ela é diferente.

"Talvez... possa falar contigo, mas.. eu.. eu, nunca falei disto com ninguém" - ela disse enquanto eu puxei o tabuleiro com as sandes para perto de nós. Compreendo que ela queira, do género, ganhar tempo, ou talvez não confiásse em mim. Comemos e notei que ela não parava de mexer os dedos, estava ainda mais pensativa e algumas lagrimas ameaçavam cair dos seus olhos.

 Catty's POV

 Desde que acordei não paro de pensar que, quando tenho o Harry por perto não penso nos problemas, a morte de Marlie não me atormenta, mas quando ele vai embora, tudo volta, os pesadelos voltam, estes dias com ele têm sido fantásticos para mim, apesar de todas as discussões. Não porque isto acontece, mas como se ele fosse um porto seguro para mim, um abrigo.

"Queres falar?"- ele perguntou e um arrepio percorreu todo o meu corpo, não só por não saber se estava preparada mas também porque nunca ninguém tinha perguntado, eu nunca falei disto a ninguém, todos os dias o sofrimento foi crescendo dentro de mim, e agora, alguém está minimamente importado.

"Bem Harry, isto é complicado para mim, não sei como te dizer.."- disse e cada vez mais as minhas lágrimas ameaçavam cair, tal como sempre que ele me pergunta se estou bem uma grande dor começa a formar-se no meu peito e na maior parte das vezes não a consigo suportar.

"Se não quiseres.."- não o deixei terminar porque se demorasse muito ia perder a coragem de contar tudo pela primeira vez a alguém, talvez o maior erro que esteja a cometer, mas por ele ser assim nestas alturas, sempre pronto a ajudar, como se soubesse o que estou a sentir, lembra-me que lá no fundo ele é uma boa pessoa, e faz-me querer contar-lhe tudo o que me atormenta para que ele perceba o porquê, o porquê de eu ser assim.

"Por favor Harry ouve até ao fim, depois se quiseres falas.."- dei um leve suspiro e ele fez com que eu inclina-se a minha cabeça no seu peito, talvez para eu não ter que o olhar e me sentir mais segura.

"Então.. quando eu era mais pequena, uns 6 anos, ninguém gostava de mim, excluiam-me praticamente, mas eu também nunca me importei muito até que me começei a dar com a Marlie. Ela tinha cabelo castanho claro e uns olhos verdes lindos, quase como os teus."- fiz uma pequena pausa e levantei a minha cabeça apenas para o olhar nos olhos e voltei a deitar-me no seu peito. "Tornámo-nos inseparavéis, eramos tão isoladas dos outros.. como se só existisse-mo nós sabes? Sempre foi assim até ao secundário, só nós as duas.. mas no ínicio do 10º ano ela ficou diferente."- suspirei e senti que a mão dele pousou no meu cabelo como a dar-me confiança para continuar. "Quando ela conheceu o Jerry, afastou-se completamente de mim, já só passava tempo com ele. Ele não era do ensino regular, era de um dos cursos, já tinha chumbado montes de vezes, fumava e bebia, mas todos os dias eu a avisava e ela dizia sempre que ele não era como os outros diziam. Um dia eu fiquei em casa dela a dormir, estávamos no sofá e ele apareceu lá.. e a Marlie tinha ido supostamente falar com ele ao quarto. Eu continuei no sofá mas começei a ouvir barulho e subi as escadas só para ver se tinha acontecido alguma coisa.. e.."- as lágrimas começaram a molhar o peito do Harry rapidamente e as suas mãos limparam as minhas lágrimas cuidadosamente. "Eu.. eu, abri a porta do quarto e havia sangue, muito sangue. Ele.. ele estava bêbedo, ela tinha sido violada e.. estava completamente nua no chão.. e ao lado estava uma faca no chão e haviam queimaduras na pele dela de pontas de cigarro. Todas as noites é isto que aparece na minha cabeça, repete-se uma e outra vez, não consigo confiar em ninguém, muito menos em rapazes.. e.."- senti que ele pegou em mim fazendo com que ficasse de frente para ele e mais uma vez limpou as minhas lágrimas. "Mas .. eu consigo confiar em ti, Harry"- pousou as suas mãos na minha cara e os seus lábios húmidos tocaram os meus, desesperados. Não o impedi, não me mexi, apenas correspondi, o meu coração era sempre mais forte que a minha cabeça. Acabei com o beijo e abracei-o com toda a minha força neste momento.

(Coisas fofuxas *-* é ou num é? Muito obrigadaaa mesmo!! Continuem a votar e a comentar e pricipalmente dêem as voças opiniões. LY All )

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