Como é que eu pude dormir até estas horas? Como pude faltar às aulas? Como? Tinha a minha cabeça à roda com tantas perguntas e eu não sabia responder a nenhuma. Tentei a todo o custo acalmar-me um pouco e pensar na noite passada, eu tinha que me conseguir lembrar do que andei a fazer.
Aos poucos várias imagens me vieram à cabeça, mas nenhuma delas fazia qualquer sentido. A minha roupa estava espalhada pelo chão e reparei rapidamente no meu telemóvel também caído no tapete, peguei nele e logo pressionei o meu dedo contra o ecrã, indo ao registo de chamadas. Mia, Mia, Mia, umas 6 chamadas para ela sem resposta e um outro número que parecia ser de um local público próximo devido ao indicativo.
Sem mais nem menos liguei para esse número para tentar formar uma ideia mais nítida do que me passou pela cabeça à algumas horas atrás. "Boa tarde, Acland Hospital, em que posso ajudar?"- uma voz que já tinha ouvido soou pelo telefone. Memórias e mais memórias começaram a aparecer à frente dos meus olhos, como se estivesses a acontecer neste preciso momento, automaticamente desliguei a chamada e deixei o telemóvel cair sobre a cama.
A saída ao bar, o acidente que levou Mia para uma cama de hospital, o Harry, o insensível do Harry, aqui nesta cama, e eu, eu.. como é que eu fui capaz de me embebedar, e pior, como é que fui capaz de ter relações com ele. Não me estava a sentir de todo bem, por uns momentos rezei para que fosse apenas um pesadelo mas haviam provas suficientes na realidade, isto era a verdade, eu não estava a conseguir lidar com ela, nem comigo própria, eu que consegui estragar a minha vida em poucas horas.
Sinto tanto nojo do Harry, mas acima de tudo, sinto nojo de mim, nojo de tudo o que permiti que ele fizesse comigo, ele tocou-me, ele viu-me, fez de mim um completo boneco para fazer o que bem entendesse, repugnante, ele é tão repugnante.
Encolhi os joelhos contra o peito, encostando-me à cabeceira da cama e tapando-me com o lençol, enterrando a minha cara contra os joelhos. A minha única conhecida aqui está no hospital, apanhei uma bebedeira, fui para a cama com uma pessoa totalmente nojenta que pensa em ir para a cama com a primeira que lhe aparece à frente.. eu estava bêbeda caramba! Pensei que lá por ele andar nessa vida de usar raparigas que ao menos tivesse alguma decência, mas ele aproveitou-se completamente do meu estado.
Levantei-me com o lençol à minha volta e com algumas lágrimas carregadas de raiva prestes a escorrer, dirigindo-me à cozinha. Abri o armário e tirei de lá um comprimido para as dores de cabeça, peguei num copo de água e enchi-o, enquanto as minhas mãos geladas tremiam contra a garrafa. Engoli um pouco de água juntamente com o comprimido. Momentos exatos e nítidos passados no meu quarto na noite anterior vaguearam pela minha cabeça fazendo com que as lágrimas caíssem sem piedade, o copo de vidro escapou de entre a minha mão, estilhaçando-se ao embater o chão frio e a restante água que lá existia se derramou por completo.
E agora eu era a nova conquista da lista extensa daquele cobarde. Com este pensamento desencosto-me da banca da cozinha e corro para a casa de banho rapidamente, ligando a água da banheira que estava a ferver. Agora eu consegui ter nojo do meu próprio corpo, o que eu fiz foi muito baixo, vergonhoso, trazê-lo para aqui, e deixei que ele me.. fizesse aquelas coisas nojentas. Estragou tudo, nunca permiti que ninguém me tocasse, isso seria apenas uma coisa reservada para um homem verdadeiro, que casasse comigo e me fizesse feliz com todas as suas forças, e não para um rapaz de bairro, sem escrúpulos, que usa uma rapariga como brinquedo para uma noite de diversão.
Olhei-me em frente ao espelho, ainda com lágrimas na cara. Estava pálida, com olheiras escuras em volta dos meus olhos e haviam marcas arroxeadas ao longo do meu pescoço e do meu peito. Já não me reconhecia, eu não sou assim, nunca quis ser, como é que eu permiti que uma coisa destas acontecesse?
Entrei na banheira, deitei-me, ficando a água a cobrir todo o meu corpo, o corpo que agora eu não queria ver. Levei as minhas mãos à cara, mais uma vez começando a chorar num acto de total desespero, mas não eram lágrimas de tristeza, era raiva de tudo à minha volta neste momento. A verdade é que o erro já foi feito, não há nada a fazer e tenho que ter força suficiente para ultrapassar tudo isto, sozinha, como sempre fiz. Para conseguir ter essa força tinha que me esforçar muito, agora o Harry está morto para mim, com algum tempo consegurei esquecer tudo o que ele me fez sofrer desde o primeiro dia.
Enquanto esfregava a minha pele com bastante força, lembrava-me dele a tocar exatamente cada centímetro do meu corpo, o meu cabelo, tudo. Com isto, estive cerca de uma hora a tomar banho, sem saber o que fazer mais, sem rumo algum.
Dirigi-me para o quarto ainda de toalha, abri o armário e tirei de lá uma camisola quente e umas calças pretas justas. Vesti-me sem me olhar ao espelho e sequei o cabelo. Comi uma peça de fruta, a fome não era muita e a cabeça já não doía como antes. Peguei nos lençóis, arrancando-os da cama e coloquei-os num saco indo em direção à porta de entrada. Saí do prédio caminhando até ao fim do quarteirão com destino aos caixotes do lixo. Atirei o saco cheio para um dos caixotes e virei costas voltando para casa novamente.
Amanhã não podia faltar às aulas, mesmo que não conseguisse dormir esta noite, não podia faltar mais, caso contrário as minhas médias das disciplinas podem baixar e isso não pode acontecer por causa de incidentes que foram da minha responsabilidade. Preparei a mala para o dia a seguir e fiz novamente a cama desta vez com lençóis limpos, os outros de algum modo estavam sujos, manchados de memórias terriveis para mim, e eu sabia que não ia conseguir deitar-me mais neles sabendo o que se passou naqueles tecidos brancos.
O meu horário desta semana dizia que a entrada era às 9 da manhã e a saída ao meio-dia, por isso da parte da tarde iria ao hospital saber se estava tudo bem com a Mia. Peguei no meu Ipod e nos phones, pondo uma música à sorte. Dos phones uma das minhas músicas preferidas soou alto, peguei no meu bloco de desenho e num lápis, e sem uma imagem prévia do que ia fazer, começei a riscar o papel.
"Alarm goes off, but you feel too weak
Your soul's too heavy for your feet
But now's the time
Open your eyes
And know you're free to come alive
You gotta live while you can
We only get one life
Look to the sky
Don't ever let it pass you by"
A música, de certo modo, fazia-me ter esperança, fazia parte de mim, muitas delas quando ouvidas cuidadosamente encaixam-se perfeitamente na situação que estamos a passar. O bico do lápis continuava a raspar no papel fazendo sombras e riscos mais profundos. No papel apenas havia uma forma de uma rapariga, escura devido à distância a que estava e bastantes gotas de chuva a cair, poças de água pelo chão na maior parte do desenho, mas num dos lados não havia chuva, nem poças, mas também não havia sol.
Novamente a minha situação fez com que descarregá-se tudo no papel apenas com riscos, a chuva ia continuar durante bastante tempo na minha vida mas há sempre uma esperança de que dias melhores virão, não necessáriamente com sol, apenas melhores. Larguei os phones e levantei-me da cama arrancando cuidadosamente o desenho do bloco, procurei na gaveta da secretária um pouco de fita-cola e colei o desenho num espaço livre na parede em frente da cama.
Olhei para a parede e dei um leve sorriso, talvez o único sorriso de hoje. Já na cozinha fiz umas simples torradas com manteiga e fui para a cama, era basicamente o meu jantar visto que já eram 8 da noite e em breve tinha que dormir para que as dores de cabeça não voltassem, era o que menos precisáva neste momento. Tirei as almofadas que tinha a mais na cama e aconcheguei-me por entre os lençóis, tentando não pensar em nada, abstrair-me completamente e tentar pensar em coisas que me trouxessem alguma alegria, embora não fossem muitas, mas rapidamente caí no sono.
(Desculpem a demora mas têm que perceber que com testes e trabalhos não dá mesmo para ser mais rápido, sabemos que estamos em risco de perder leitoras mas tentem perceber :( Bem agora está tudo mal num é? Eles deviam era estar juntos! Ahahaha pode ser que tudo melhore.. Ahh pra quem não conhece a música que está no cap. é dos Boyce Avenue- One Life, só pra saberem LYALL VOTEMM E COMENTEM!)
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New Life
Fanfiction"Cada vida é uma história. Algumas têm finais felizes, outras não são tão boas como gostávamos que fossem" Para Harry e Catty não existe um conto de fadas, mas sim uma verdadeira história de amor. Copyright © 2013 Fanfictionone Todos os direitos r...