New Life

Capítulo 47

"Sai! Larga-me!"- balbucio por entre o choro abafado. "Harry! Larga-me, por favor.."- ele continua a agarrar-me os braços contra a colcha da cama. Não consigo libertar-me.

"O que te faz pensar que te vou largar? Achavas que eu era como?"- faz mais força nos meus braços já doridos e beija-me à força." Está quieta! Deixa de ser uma menina mimada! Devias ter vergonha!"

"Harry.. não! Por favor!"

***

Não consigo controlar a minha respiração. O suor escorre-me pela testa e os meus dedos gelados mexem-se freneticamente entrelaçando-se uns nos outros. Na minha cabeça repete-se tudo outra vez. Foi só um pesadelo. Foi só um pesadelo. Mas não era bem assim. Era o medo. Agora, a ideia de estar num espaço fechado com Harry era arrepiante. E sentia-me a pior pessoa do mundo por estar a pensar nele daquela forma, e depois de a minha mente ter fabricado um medo que eu nunca imaginaria na realidade, a única coisa que consegui fazer foi precisamente entrar em pânico. E tenho a certeza de que me perceberiam se estivessem na mesma situação.

Sábado aproximava-se novamente. Tinham passado apenas seis dias desde a tarde em que Harry me levou a passear, mas a nossa maneira de comunicar um com o outro melhorou significativamente, quero dizer, pelo menos no meu ponto de vista. Nunca há muito tempo durante a semana, entre aulas, estudar, tratar da casa, e depois de tudo não sobra muito tempo, mas nos meros momentos em que nos cruzámos no corredor, ou na aula conjunta que temos, notei que tinha mudado qualquer coisa. Não tem que haver uma conversa concreta entre nós, nem sequer precisa de fazer sentido, apenas diálogo, há sempre alguma coisa a falar, e acho isso maravilhoso.

E Harry nem sequer me preciona para que eu mostre algum gesto de afeto por ele, como um simples beijo, mas ultimamente tenho-o feito por vontade própria. Por vezes ainda me pergunto porque que um beijo nos lábios é um gesto de afeto, quero dizer, quem teve a ideia de o inventar? Por vezes nem sequer faz sentido para mim, mas não sei ao certo o porquê.

Nessa sexta-feira, ao caminhar como habitual para a universidade, avistei Harry também no seu local habitual logo pela manhã. Disse-me que ficava sempre lá por um tempo porque gostava de observar as coisas, como as folhas das árvores, ou a algazarra de buzinas na estrada mesmo em frente, ou apenas sentir o vento, por mais frio que estivesse.

E gostava realmente de o fazer, e era fascinante. Mas naquele momento estava apreensiva. E o pesadelo continuava a inundar a minha mente. Mas disse-lhe bom dia e fiz o melhor para tentar encobrir as mãos a tremer, pousando-as no seu pescoço e dando-lhe apenas um leve beijo. E senti a sua mão pousar levemente na minha cintura, e instintivamente afastei-me. Eu lembrava-me, era exatamente naquele ponto que me tocava no pesadelo.

E senti a minha pele a arder no sítio onde me tocou, como se me tivesse queimado. Engoli em seco e continuei a dar passos para trás. Ele olhava-me com a expressão mais confusa e magoada que alguma vez tinha visto. Senti-me parada no tempo, sem conseguir pensar corretamente, sem conseguir pronunciar uma única palavra.

"Catty?"- disse caminhando na minha direção e pousando as mãos na minha face, acariciando-me com os pulgares. Por uns momentos não senti medo, não senti nada, e ao olhar os seus olhos verdes soube que não era o mesmo Harry do pesadelo, não tinha os olhos escuros e não era assustador.

Mas mesmo depois disso, tudo aquilo com que sonhei não me saía da cabeça. Sei que não é justo para ele eu fazer isto, mas o meu corpo não reage de outra maneira, sentia-me a tremer por inteiro e sabia que se ele me tocasse nas mãos o iria sentir, por isso manti a distância e colei as mãos as pernas para que elas não tremessem.

Não fazia ideia de quanto tempo havia passado desde que Harry disse o meu nome mas não conseguia responder "Catty, fala para mim! O que aconteceu?" - ele disse por fim.