Capítulo 2

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***

Já tinham passado quatro horas desde que estava à espera. Catty não estava, penso eu, pela quantidade incerta de vezes que toquei na campainha. Estava farto, tinha fome, tinha sono. Arrastei o meu saco com roupa para junto da quilha da parede que dava às escadas do prédio e encostei-me a ele. Apenas conseguia imaginar histórias e mais histórias, o que Catty fez na minha ausência, o que aconteceu, tudo o que eu perdi desnecessariamente, o porquê de Catty não estar em casa no período de férias da universidade, estará com alguém? Alguém para além de mim? Não, ela não faria isso!

Aquele sítio era tão isolado de tudo! Quando deixei de ter a minha visita semanal senti-me tão desesperado, sem ter nada que me motivasse, mas eu sei que teve que haver uma razão. Eu estava longe daqui, não me deixavam falar com ninguém, e se tentásse falar comigo próprio ainda podiam aumentar o meu diagnóstico e com sorte ainda ficava lá por mais uns anos. A minha esperanças foi diminuindo a cada dia de via passar, mas eu sabia que Catty me amava, que estava algures à minha espera, e eu tinha que ficar bem, para poder ficar com ela. Ela sempre disse que podia viver com o meu problema, mas eu próprio não queria viver com ele, nunca pedi para ser como sou, como era, nem sequer sei se estou realmente curado.

Encostei a cabeça à parede fria enquanto fechei brevemente os olhos. E nesse momento vivi tudo novamente, desde o exato minuto em que "atropelei" Catty neste mesmo corredor. Senti todos os toques, ouvi todas as palavras e choros, e era tão bom saber que tudo aquilo aconteceu.

Catty irá chegar em breve e eu estarei à espera, sempre estarei à espera.

Catty's POV

(...)

E tinha acabado mesmo agora de fechar a loja, mais um dia cansativo, mais um dia diferente de tudo, mais um dia 'afastada' do meu mundo. Caminho rápido para o supermercado mais próximo de maneira a fazer umas compras, nada de mais apenas umas coisas que fazem falta em casa, não tenho feito nada elaborado para comer porque a maioria das vezes apenas aqueço um bocado de leite e já dá para mim.

Junto tudo o que escolhi em sacos e faço o meu caminho para casa. A minha patroa deu-me o dia de amanhã livre, segundo ela como recompensa ao meu esforço pela loja desde que lá estou. Abro a porta da entrada e forço as minhas pernas cansadas, de estar maior parte do dia de pé, a subir as escadas até ao meu andar, e destruída nos meus pensamentos reparei que estava alguém a dormir encostado à parede. Corri rapidamente em seu auxílio e vi, vi o meu Harry, eu vi-o adormecido no chão. Ele estava de volta a mim.

"Harry.. Harry acorda"- chamei baixo aos seus ouvidos.

"Harry.... huum Harry?"- repeti um pouco mais alto de modo a captar a sua atenção.

"Catty? Catty és tu?" - ouvi a sua voz e todo o meu corpo estremeceu dando vida a tudo o que se havia perdido desde que mo tiraram, mas eu não posso estar assim, eu matei um filho que também era dele, senti o meu corpo embater contra algo e reparei que estava no colo do Harry e ele tinha os seus braços em volta da minha cintura. Eu não sentia o toque dele à tanto tempo.

"Oh meu Deus Catty, eu tinha tantas saudades.. Tu .. Huum tu esperaste... huum tu ainda me ..amas? Catty por favor diz a verdade, não me mintas"- todo o meu corpo treme, é claro que eu não segui com a minha vida, não sem ele, é claro que eu o amo, ele foi sempre a pessoa que amei.

"Huumm ..."- não consegui terminar porque fui interrompida por ele.

"Sim, pronto eu já sei, tu seguiste com a tua vida"- disse engolindo em seco.

"Oh não, é claro que não! Eu amo-te Harry!" - digo fazendo aparecer o seu sorriso e rapidamente os seus lábios encontram os meus e não sei mais o que pensar, tinha tantas saudades dele, dos seus lábios dos seus braços. De tudo.

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