Capítulo 7

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Abri a torneira da banca da cozinha, molhei as mãos e passei a água gelada pela minha face, apenas me refrescou a pele pelo calor que estava a sentir, mas não me refrescou nem as ideias nem a alma.



Pergunto-me quando chegará o dia em que Marlie deixará de assombrar os meus dias, de uma forma tão intensa como o faz quase todas as noites, quase chego a ter medo de adormecer. Custa bastante perder uma das únicas pessoas que nos conhece, conhece realmente, que nos diz os defeitos na cara e nos protege e defende nas costas, custa mais ainda sabendo a maneira como os seus últimos minutos acabaram.



Estava agora com os cotovelos apoiados na banca, as mãos na cara para a tentar tapar, não queria que Harry me visse desta maneira, vulnerável, na realidade tento acreditar que sou forte, aguentei todos estes longos anos, torna-se cada vez mais díficil não ter ninguem com quem falar sobre os problemas, não ser como todas as outras raparigas da minha idade, simplesmente elas têm uma vida muito mais fácil que eu.



Não posso continuar assim, vou ultrapassar isto e apenas vão permanecer as boas memórias. Fechei os olhos, limpei as lágrimas e engoli em seco.



"Não precisas de te preocupar, nunca ninguém se preocupou e não é agora que isso vai acontecer. Tens uma manta no sofá, a casa de banho é ao fundo do corredor e há comida no frigorífico, não creio que nos vejamos hoje outra vez por isso até amanha, Harry" - nunca falei assim antes, nem com as pessoas que já me magoaram realmente, mas eu não o conheço. Gostava de o conhecer melhor, estou a viver nas ilusões talvez porque na última meia hora ele me tenha tratado bem mas não penso que isso continuará a acontecer.



"Até amanhã"- ele respondeu com baixa voz. Talvez estivesse mesmo preocupado. Mas porque estaria preocupado? Talvez ele fosse como o namorado de Marlie que fingia preocupar-se a todos os minutos e depois lhe batia e a magoava. Entrei no meu quarto e fechei a porta deixando o meu corpo cair na cama em desespero.




Harry's POV




"Até amanhã" - disse abafando a minha voz combatendo contra as minhas próprias palavras. Mas que merda é que estou a fazer neste apartamento com uma psicopata que não pára de chorar? A porta do quarto bateu com força. Podia aproveitar e ir ao quarto dela tentar fode.. não, posso apenas tentar consolá-la e obrigá-la a deixar-me ficar aqui mais um dia talvez.



Abri o frigorífico, não havia grande coisa, fiz uma sanduíche e sentei-me no sofá. Sentia-me dorido, muito mais do que quando dei entrada no hospital.



"Por tua causa estou aqui neste hospital, nem me pedis-te desculpa por teres ido contra mim, provávelmente já nem sequer te lembras." Agora lembro-me perfeitamente dos seus olhos azuis assustados e ao mesmo tempo cheios de raiva a olhar pra mim, sei que a vontade que ela tinha era de me espetar um estalo na cara, mas não o fez, eu sei que era o que mereçia mas nunca o vou admitir nem mostrar arrependimento.

Não lhe vou pedir desculpas, afinal de contas ela chamou-me idiota, não queria tê-la magoado, mas ela foi ao hospital por ter batido contra mim? Não pareceu muito de força mas à muito tempo que não sei medir a minha força, não me vou lamentar nem ficar com remorsos, esta rapariga, Catty, é apenas mais uma rapariga entre muitas.



Deitei-me no sofá e olhei o relógio que estava na parede, meia noite, tentei fechar os olhos esquecer toda a merda dos dias anteriores. Ouvi suspiros e um choro abafado, levantei-me do sofá e caminhei até à porta onde ela tinha entrado horas antes.



Não bati à porta, simplesmente entrei. Não estou preocupado, só quero consolá-la como costumo fazer com outras raparigas. Catty estava deitada de barriga para baixo, os seus cabelos loiros caídos pelas costas, a cabeça enterrada no meio de duas almofadas, a sua respiração era rápida e novamente ela estava a chorar. Mas porque raio é que ela chorava tanto? Se quer que eu tenha pena dela não é isso que vai acontecer.


Ela virou-se e ao ver-me no seu quarto ficou com um olhar assustado, sabia que essa iria ser a sua reação.



"Sai por favor"- a sua voz estava frágil e quase inaudivel.



"Não vou sair. Vou ficar aqui até parares de chorar e até me dares uma razão para estares assim. Sim, eu sei que não me conheces e sei que não sou confiável, mas estou a tentar ajudar acho"- menti.


Este não sou eu, estou atentar arrancar-lhe algumas palavras, realmente ela tem uns olhos lindos, não, não tem, os meus pensamentos dizem para acabar com a rapariga que está à minha frente, só o choro irritante dela causa-me náuseas.


"Sai Harry! Por favor!" - a voz dela estava a deixar-me preocu...  Preocupado? Mas desde quando e que isto acontece comigo?Ainda mais, por causa de uma miúda mimada!



Mas o quê que ela esconde por trás daqueles olhos azuis, tão, tão.. perfeitos, sim é isso que eles são, perfeitos, a cara dela é ... Harry! Pára! Tu não és assim! O meu subconsciente alerta-me.



"Ainda não entendes-te que não vou a lado nenhum sem me explicares porquê que estás assim, a chorar?" - disse e o seu olhar azul agora com um tom avermelhado à volta, encontra o meu com uma cara que não consegui decifrar o que expressava.



"Sai porra, tu é que não estás a entender bem, eu não te vou explicar rigorosamente nada, não te conheço, só estás aqui porque... bem porque... olha esquece, não sei porquê que estás aqui, eu não vou contar segredos meus a um rapaz que vai contra mim, vê-me no hospital e sabe que a culpa é dele, vem para minha casa e mesmo assim ainda tem a lata de continuar sem pedir desculpa!" - ela disse.

Para além de ficar sem reação, ainda fiquei com raiva de mim mesmo por não ter conseguido responder, mas porquê que eu simplesmente não lhe faço aquilo que faço às outras? Porquê que ainda estou aqui? Porque que não lhe consigo responder? Inúmeras perguntas iam aparecendo na minha cabeça, e estava cada vez mais confuso.



Ela começou a chorar ainda com mais força do que à bocado quando entrei neste quarto, e sem saber o porquê estava realmente preocupado com aquela simples e vulnerável rapariga que se encontrava a minha frente com a face afundada nos joelhos.

O meu coração mandava-me abraçá-la mas algo falava mais alto dentro da minha cabeça e dizia para não fazer aquilo.



"Catty, não vou sair!" - falei um pouco mais alto do que aquilo que pretendia - " Estou preocupado contigo! Quantas vezes vou ter que repetir?" - finalizei



"Não te tens de repetir, simplesmente sai !!" ela pareceu irritada e estava a ser mais fria e rude que nunca, abracei-a, sem pensar, e por incrível que pareça ela não protestou, melhor até, ela deixou.

Talvez fosse apenas o que ela precisava, algum consolo, eu era a pessoa certa para isso, eu surpreendi-a a ela e a mim também, mas por alma de que santo estava eu a fazer aquilo? Apenas a abracei com mais força e ficamos ali, assim, abraçados durante algum tempo.

( E agora qual será a reação de Catty??  Awwww mais de 200 leitores, obg mesmo, foi uma surpresa, continuem a votar e pfv comentem as vossas opiniões )

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