Capítulo 48

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Harry's POV

A cada segundo que passava não conseguia evitar olhar para o relógio. A cabeça doía-me e a minha concentração na aula já tinha desaparecido há bastante tempo. As mesmas vozes que não sei de onde vêm continuam a gritar-me, e é impossível não as ouvir, são fortes e horríveis. Não dizem sempre o mesmo mas há sempre uma em comum, não sou ninguém, não vou ser ninguém, e por isso também não mereço nem vou ter ninguém. Obrigo-me a mim mesmo a acreditar porque nunca desaparecem, mas não quero que seja verdade, eu sou alguém.

E naquela aula, simplesmente não consegui aguentar mais. A raiva consumiu-me mais uma vez. Quando as lágrimas começaram a deslizar pela minha cara, dei um soco forte na mesa, levantei-me e dei um pontapé na mesma, atirando-a bastantes centímetros para a frente. Em poucos segundos todos estavam com o olhar fixo em mim o que ainda me causou mais raiva. E por fim fui expulso da aula. Depois de apanhar as minhas coisas do chão rapidamente, saí porta fora com desprezo. Sei que fui expulso porque têm medo do que possa fazer, porque sabem que sou maluco, mas não mo dizem na cara porque, claro, uma afirmação dessas podia levar-me ao delírio total e a fazer sabe-se lá o quê. Cobardes.

Mas têm razão na maior parte das coisas. Tecnicamente eu queria poder fazer-lhes algo de mal, mas não vale a pena. Talvez eu não valha mesmo nada. E para quê? Para quê estar à face da terra quando não se têm objetivos? É inútil viver com o sofrimento, um desperdício de tempo. Talvez ele possa ser minimizado de alguma forma, uma forma que eu ainda não consegui perceber. A verdade é que cada um tem o seu tipo de sofrimento presente, e com a nossa breve estadia nesta vida, creio que haja mais sofrimento do que propriamente alegrias, porque sempre foi assim. E por isso não sei se me devo queixar da minha vida, de como foi ou como poderia ter sido, mesmo não conseguindo imaginar outro desfecho senão a passar a infância num orfanato com consultas inúteis todas as semanas. Desculpem, não considerei aquilo infância. Afinal que criança é que fica feliz ao saber que dezenas de casais o rejeitaram para adoção porque queriam uma criança normal? Não são memórias que goste de recordar mas elas de vez em quando aparecem na minha cabeça como se se repetissem uma e outra vez, como um lembrete permanente.

Ultimamente tenho também pensado bastante se estou a fazer a coisa certa ao deixar Catty ajudar-me. Gosto do facto de ela se estar a preocupar, e me querer acompanhar mesmo no pior dos meus estados, mas não consigo deixar de me preocupar mais com ela do que comigo próprio. É estranho ter alguém que me rodeia quando choro. Não é desconfortável ou assim, é só diferente, e também embaraçoso, quero dizer, chorar descontroladamente em frente de pessoas é desagradável, e não conseguir parar é ainda pior. Só não quero magoá-la, outra vez.

O que eu lhe fiz foi horrível, só não me apercebi no momento em que o fiz. Mas não aguentaria a culpa de a magoar novamente, e na minha cabeça já a magoei por não ser como ela desejava, embora ela continue a dizer-me que sou exatamente a pessoa que era para ela antes, mas suspeito que o diga apenas para me fazer sentir bem.

Gostava que ela me dissesse como fazer as coisas da melhor forma, mas não o faz porque diz que eu sei descobrir uma forma de as fazer da melhor maneira. Temos tentado ajudar-nos um ao outro da maneira que conseguimos. Catty pede muitas vezes que fique com ela durante a noite, quase sempre acorda com pesadelos, e eu tento consolá-la da melhor forma que sei, e sinceramente gosto de a ter aconchegada nos meus braços, e por vezes sinto que finalmente sou útil para alguém.

Custa-me imenso vê-la em pânico quando acorda a meio da noite, como se estivesse fechada num lugar sem saída e não conseguisse respirar, e logo depois começa a chorar, tal como me acontece a mim em momentos de pânico. No fundo não somos muito diferentes. A escuridão encontrou-nos aos dois.

Catty's POV

"Boa tarde! Em que posso ser útil?"- perguntou-me uma senhora que aparentava ser bastante amigável e já não muito nova, que envergava uma bata tal como as educadoras de infância. No fundo penso que a sua profissão era mesmo essa.

"Boa tarde, será que me pode dar algumas informações?"- tentei fazer um sorriso largo talvez na esperança de que a mulher me compreende-se. Não disse nada por isso suspeitei que não responde-se, apenas olhou para mim como se estivesse a tentar reconhecer-me.

"Que tipo de informações procura?"- tento acalmar o nervosismo, a minha ânsia por respostas era horrível, querer de alguma maneira ajudar Harry mas não saber ao certo como.

"Queria saber informações sobre um rapaz que deixou este orfanato à cerca de dois anos. Só queria esclarecer umas coisas e eu sei que você não me pode fornecer certas informações mas por favor eu preciso mesmo que me ajude"- a mulher mostrou um pouco de desprezo ao ouvir as minhas palavras.

"Quem é o rapaz?" - ela perguntou e por momentos todo o meu corpo relaxou. Ía poder ajudar o rapaz que me roubou o coração, ía ficar bem.

"Harry, Harry Styles" - digo e a senhora levanta a cabeça com feições um pouco espantadas e talvez tristes.

"Oh.. você conhece-o? Ele foi o meu menino em tempos... chegou cá muito pequenino e andava sempre comigo."- dá um leve suspiro e vira-se ligeiramente. "Tenho muita pena mas não vou poder ajudá-la, não posso dar nenhum detalhe dos processos das crianças"- a mulher já estava a caminhar em direção ao interior da primeira porta, mas eu não podia deixá-la dar nem mais um passo, ela tinha acabado de me dizer que tinha sido a pessoa mais próxima de Harry, tinha todas as respostas de que eu precisava.

"Por favor!- quase gritei. "Eu preciso que fale comigo sobre ele! Você sabe que ele é.. doente não sabe?"- a mulher acena com a cabeça e logo de seguida baixa-a. "Ele está cada vez pior, e eu não sei como o ajudar, eu prometi que o ajudava!"- tapei a cara com as mãos e senti que ela se aproximou e depois senti uma mão leve no meu ombro.

"Sabes? Senti que ele foi o meu segundo filho, e eu perdoei-o antes de ele se ir embora. Perdoei-o e nunca mais me veio ver."- havia mágoa na voz da pequena mulher, que ao reparar na sua bata aparentava chamar-se Carol.

"Perdoou-o?"- perguntei devido à quantidade de dúvidas que estavam a surgir na minha cabeça naquele momento. Carol parecia triste ao falar para mim, e de uma maneira tinha dito que Harry a abandonou. Eu nem sequer sabia que Harry tinha lá alguém que realmente gostava dele. Havia-me dito que aquele lugar só lhe trazia más recordações.

Bem desculpem a demora meninas! Exames, exames e mais exames! Pra quem gosta de associar musicas a fic's cá está a primeira musica do "soundtrack":

Cold Coffee - Ed Sheeran (se gostam desta ideia digam nos comentários pls)

Voltamos a dizer que somos DUAS a escrever porque há bastantes fâs da fic que acham que é só uma, e não é justo os "créditos" irem só para uma. Mais uma vez mt obg pelo vosso apoio! 

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