Capítulo 41

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O pouco tempo que esperei do lado de fora da porta foi um inferno mas não tardou a que a porta fosse aberta por ela. As feições à minha frente pareceram perder todo o sangue que corria pelas veias das bochechas, a sua face ficou pálida de repente e os olhos estavam completamente fixos em mim como se estivesse a certificar-se de que era mesmo eu, enquanto as suas mãos trémulas e delicadas tocavam ligeiramente a moldura da porta.

"Mas.. o quê que.." - a cara dela estava tão aterrorizada comigo ali que decidi que tinha de dizer tudo o que tinha a dizer o mais rápido possível, mas nada me saía nada de momento. Ela engoliu em seco e abriu a boca para terminar a frase que tinha começado. "Podes ir embora Harry, eu não te quero ouvir!"- ela disse rispidamente afastando-se da porta. Nesse preciso momento uma onda de raiva consumiu-me completamente e senti que se não fala-se agora também não ia tentar nunca mais.

"Tu até podes não me querer ouvir, mas eu vou falar na mesma! A culpa não foi só minha, fodasse Catty tu sabes disso! Eu tentei parar, eu tentei! Tu também não ajudavas, tu pedias por mais! Mas provavelmente tu só te lembras-te das coisa que te convêm para tua defesa! Como querias que eu parasse? Eu sou um homem não sou um rato! Eu não posso ter culpa sozinho!" - disse enquanto ela olhava para mim como se eu estivesse a dizer uma grande barbaridade, que era a verdade pura. Mas, claro, eu nunca tenho direito a opinião, para quê? Tal como ela me disse uma das vezes que tentei resolver as coisas "Tudo o que vem de ti é lixo Harry", isto vindo espontaneamente dela. Mas à um mês atrás, quando esteve na cama comigo, não foi isso que deu a entender, que eu era "lixo", porque apesar de estar bêbeda, sentia.

"Estás a dizer que a culpa é minha? Ahaha deixa me rir Harry"- aquele riso sarcástico causou-me tremores que se espalharam ao longo do meu corpo rapidamente. Eu sei que a culpa não foi só dela, é dos dois, e já fiz isso bem claro, mas ela parece continuar a ignorar tudo o que eu digo.

Ao principio, pensei mesmo que ela não fosse assim, parecia tão introvertida, não abria o bico para nada, e agora é assim, condena-me por uma asneira que ambos provocámos. Esta merda está a dar cabo de mim.

"Catty! Fodasse! Pára e pensa! Estás a ser tão injusta, nós nem chegámos a fazer mesmo sexo eu parei antes disso acontecer, mas não foi por tua vontade, porque parecias querer tanto como eu!" - eu já não sabia o que estava a dizer, mas eu queria aquilo na altura, era verdade. Mas eu não posso continuar assim, como um miserável a tentar pedir misericórdia à menina que não o quer, nem sequer quero voltar a casa, está toda fodida, e por alguma razão não consigo estar mal com ela, e aguentei um mês assim, um mês.

Há um Harry aqui dentro,  que quer resolver as coisas da melhor forma possível e não quer desistir, mas o outro que está no exterior não quer continuar a pedir perdão. O certo é que nem sei para que quero o perdão dela, este Harry não é homem de uma só mulher, nem eu quero isso para a minha vida, não está definitivamente nos meus planos, se é que existem planos.

"Sai da minha casa! Eu não quero falar contigo, eu não quero!"- ela sussurrou, de maneira a que eu ouvisse, mas não, eu não ia fazer o que ela estava a dizer, eu tinha de dizer tudo. Ela não pode continuar a ignorar-me como se não se tivesse passado nada, como se nunca tivessemos falado.

"Não, estás muito enganada se achas que eu vou sair sem mais nem menos, e sabes porquê? Porque tu não podes simplesmente fugir disto! Não podes passar o resto do tempo a ignorar-me!"- reparei que continuávamos à porta de casa e de certeza que os vizinhos dela se devem estar a passar. Até acho que já tive uma noite bem divertida aqui em casa de uma rapariga, sinceramente nem me lembro do nome dela.. mas isso também não é importante agora.

Ela entrou em casa e eu apressei-me a segui-la e a fechar a porta, rapidamente entrámos na cozinha, e enquanto ela pegou num copo de água, eu sentei me num dos bancos do balcão. "Sim Harry podes entrar e sentar-te" - ela disse ironicamente, agora com uma voz mais autoritária, sentando-se também à minha frente. Estava um silêncio desconfortável naquele pequeno compartimento, e na minha cabeça passavam todas as maneiras de dizer tudo o que tenho para lhe dizer.  "Ca.."- no momento em que ganhei coragem, ou lá o que ganhei que não consigo ainda distinguir, ela interrompeu-me.

"Não eu não quero que tu digas nada, quero que vás embora e nunca mais me procures, tu não és do género de pessoas com quem me costumo dar e eu não quero ter nada a ver contigo, tu mudaste-me, não consigo estar contigo sem ficar desorientada, bloqueias-me nunca sei o que dizer e eu acho que.. não, eu não vou dizer isto porque nós dentro de alguns minutos já não vamos ter nada a ver um com o outro e tu irias gozar-me até ao fim da minha vida, e tal como tu dizes eu estraguei a tua vida, por isso apaga tudo o que sabes de mim! Apaga! Não deve ser muito difícil. Tu sabes tanto de mim, coisas que ninguém sabe e eu confiei em ti, e cheguei a uma conclusão. Para que?- uma expressão angustiada substitui a de raiva anterior que estava refletida nos olhos que antes me pareciam inocentes.

"Afinal tu só querias levar-me para a cama contigo, e parabéns, conseguiste! Podes acrescentar mais uma na tua lista, tu conseguiste fazer com que me sentisse suja, com que tivesse nojo de mim, conseguiste tirar-me a minha dignidade! Agora se fazes favor,  vai embora"- eu sabia que isto ia acontecer, que ela me ia mandar embora outra vez, mais uma vez, mas já não houveram gritos durante a conversa, mas isso não ia durar por muito tempo, porque eu não ia deixar as coisas assim. Esquecer tudo o que partilhámos? O que ela me contou nas noites em que chorou pelo passado, e quando eu estive lá para a tentar recomfortar? 

Não quero esquecer.

"Não, eu não vou! Eu não queria fazer aquilo, aliás eu não queria que te sentisses assim"- fiz uma longa pausa tentando entender exatamente como ela se estava a sentir, mas continuei a falar. "Desculpa. Eu não te quero como mais uma na minha lista, sim é verdade que também não quero nenhum outro tipo de relacionamento, mas sei lá és diferente"- as palavras saíram de algum lado, não sei de onde. O contraste do meu tom de voz com o de à minutos a trás foi bastante notável, e de vez em quando, muito raramente, isto acontece-me, não lhe chamo de bipolaridade, mas quase que se parece, num momento consigo estar tão focado em magoar uma pessoa mas depois já posso querer consertá-la. Pensando bem, não me aconteceu muito até agora. 

Ela continuava calada, com a cabeça apoiada nas mão e a piscar os olhos lentamente. Não me mandou embora agora. Mas também não disse que podia continuar aqui sentado. Agora nunca encontro o meu cérebro ordenado, está sempre em constante movimentação de pensamentos, e é horrivel, posso dizer.

A sua mão esquerda afastou ligeiramente o cabelo para trás e agora ela olhava para mim, mas com incerteza, penso que não sabia o que haveria de dizer. "Harry.."- o som saíu um pouco abafado devido às mãos que quase lhe tapavam a boca, como se não quisesse falar.

"Catty, eu não quero esquecer"- as palavras saíram calmas por entre os meus lábios e o olhar azul dela começou a fitar o meu.

(150 votos para o próximo! Vamos lá! Desculpem imenso a demora mas o capitulo já estava escrito à alguns dias e depois apagou-se :( tivemos que escrever tudo de novo.. Obrigada por tudo! Continuem a comentar porque gostamos de ler todos os comentários e ler as vossas opiniões! <3 <3 <3)

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