Rotina

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Estava anoitecendo, as luzes da cidade começavam à brilhar, junto com a lua que começava seu turno para o sol descansar.
Faltava apenas uma esquina para que eu chegasse em casa e finalmente pudesse me sentir melhor.
Eu sinceramente não sabia direito do que me aliviaria, não pela falta de motivos, mas pela imensa quantidade deles. Eram tantos que me sentia sufocada às vezes.
Eu sentia medo, não um medo qualquer, era algo pavoroso, tinha o tempo todo a sensação de estar sendo observada. Nada sobrenatural ou algo assim, era uma coisa mais normal, era alguém.
Todos os dias eu me sentia assim, todos desde aquele em que tudo isso começou, foi um pesadelo pra mim. Mesmo não precisando de reais esforços pra me lembrar de como foi, eu prefiro não voltar àquele momento.
Fico imaginando se alguém ali se sente assim, ou se já passou por isso, as expressões vazias poderiam esconder um sentimento em comum.
Passei minhas reflexões no momento em que meu coração sentiu um pequeno pulso de alívio, estava já na frente de casa. Na verdade continuei a sentir essas coisas, mas esqueci por um momento, a chave enroscou na fechadura.
Mesmo fazendo força a chave não se movia, então coloquei minhas coisas no chão, suspirei e tentei novamente. Minha ânsia por entrar era tamanha que foquei a visão dentro da garagem, onde avistei um objeto estranho, um envelope prateado, uma coisa um tanto quanto incomum.
Nessa hora as coisas realmente pareceram predestinadas e cronometradas, quando foquei no envelope, o portão soltou a chave e eu consegui destrancar.
Entrei, estava em casa, a sensação de segurança invadiu meu corpo, coloquei minhas coisas no sofá, peguei meu celular e fui tomar um banho.
Deixei a banheira enchendo enquanto atualizava minhas mensagens, era o básico, grupos de família, da faculdade e do serviço. Eu não era uma pessoa antisocial, mas no momento não tinha muita paciência pra conversas que não valessem realmente a pena. Peguei a toalha, desliguei a água, me despi e entrei. A luz calma e o barulho dos últimos carros de família chegando em casa, soaram como uma canção de ninar que me acalmou, mas não dormi.

Perdida Em Mil Versões ( Em Processo)Onde histórias criam vida. Descubra agora