O estranho

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Seis horas. Acordei, ia começar tudo outra vez, levantei, tomei meu remédio e fui tomar um banho. No chão vi um dos mosquitos que estavam rodeando a lâmpada ontem, mas preferi não pensar nisso.
Enquanto a água do chuveiro descia pelo meu corpo eu resolvi deixar meus pensamentos me levarem e comecei à me perguntar se mais alguém pensava tanto assim como eu. Ás vezes acho que vou ficar louca vivendo essa rotina incessante e sendo bombardeada de pensamentos à todo momento.
Me arrumei e fui me olhar no espelho para ver se estava com a roupa adequada, eu estava bem. Na verdade minha roupa estava, eu não tinha certeza sobre meu estado psicológico.
Mas agora não era a hora de pensar nisso, eu tinha que sair. Estava atrasada, peguei minhas coisas o mais rápido que pude, corri para o portão e estava andando depressa enquanto checava minha bolsa para ver se eu não tinha esquecido de nada.
- Celular, carteira, cartão do ônibus...
Mal terminei de falar e senti meu corpo se chocar contra algo, no caso alguém. Eu bati a cabeça e rapidamente levei a mão ao local do choque, me recuperava ainda enquanto me dirigia à pessoa para me desculpar. Mas ela foi mais rápida.
- Perdão ! Foi sem querer mesmo, tá tudo bem ?
Eu não pensei por muito tempo, era um cara, fui invadida por uma estranha sensação, mas eu não me importei.
- Tá tudo bem sim, eu quem deveria olhar por onde ia e...- nessa hora eu parei, ele tinha um relógio chamativo e eu estava observando os ponteiros até que percebi.
- Meu nome é ..
- Estou atrasada ! Desculpa de novo, preciso ir !
E eu corri, corri mesmo, meu ônibus passaria à qualquer momento, um ônibus perdido e todo meu dia seria posto em risco, gostava das coisas bem planejadas, um estranho desastrado não estragaria meus planos.
Consegui, cheguei à tempo e peguei o ônibus, enfim relaxei.
Olhei ao redor e eram várias as cabeças encostadas nos vidros, eram 7 horas, as pessoas dormiam ainda. O ônibus não estava cheio, mas já era o suficiente para que os vidros se embaçassem no encontro entre as respirações e a brisa gelada lá fora.

Dois pontos passaram, eu começava a pegar no sono, até que subiram no ônibus dois estudantes, pareciam tão animados. Segui-os com os olhos até vê-los sentar juntos e começarem a cochichar e rir. Aquilo prendeu minha atenção, eu me lembrei de quando era eu quem estava naquele lugar, cochichando com amigos que hoje estão distantes. Lembrar disso me dez soltar um riso, não uma gargalhada nem nada, só um riso fechado. Esse riso foi o suficiente para que os cochichos cessassem e os olhares se dirigissem à mim, ao passo que eu virava para a janela na tentativa de disfarçar.
Enquanto observava o mundo através daquele vidro, eu deixava minha mente me levar e, acabei imaginando um corpo, não muito alto, nem muito magro, mas com um sorriso esperto. O estranho da rua. Quando me dei conta de que era ele eu logo me questionei:
- Por que ele ? Sério, o cara surgiu do nada e quase me fez perder meu dia, me atrasando. Haviam tantos melhores para pensar...
Então eu percebi, fazia tempo que eu não pensava em outra pessoa, eu me tornei solitária. Eu e meus medos.
Precisava mudar isso, então decidi que seria mais aberta, ou ao menos tentaria. Talvez isso me ajudasse. Obrigada jovens barulhentos do ônibus.

Perdida Em Mil Versões ( Em Processo)Onde histórias criam vida. Descubra agora