7h45 min. Preciso ir pra sala. Ajunto minhas coisas e me esgueiro pelo corredor, onde alguns rastejam por não terem acordado direito, outros correm por coisas que deixaram pra última hora, mas nenhum para e observa.
Ninguém parou e observou.
Uma garota sentada no chão, suas coisas ao seu lado e seus olhos vidrados numa parede.
À primeira vista, aquilo era assustador, mas eu sabia como ela se sentia, e pude ter certeza disso quando vi uma lágrima escorrer pelo seu rosto.
A indiferença das pessoas com aquela jovem fez com que ela não se importasse em esconder suas lágrimas ou limpá-las assim que saíssem.
Me senti mal por ela então tentei ajudar.
- Ei, qual seu nome ?
- Amélia - ela respondeu sem me dirigir o olhar. Como se me dissesse que eu não fui a primeira à perguntar isso.
- Ei Amélia, você é da sala 2609 não é ? - perguntei, na tentativa de fazer a jovem pensar em outra coisa, mas ao mesmo tempo reconhecendo-a.
- Sou. Sou da sua turma na primeira aula de hoje. - ela respondeu incrivelmente fria e aparentemente Sã.
Ajudei ela à se levantar e a juntar suas coisas e ela continuou com o olhar vidrado enquanto eu a acompanhava até nossa sala.
Ela se sentou na cadeira ao lado da minha e eu a olhava toda hora para ver se ela estava bem, mas era sempre a mesma coisa, seus olhos grandes transbordavam de leves lágrimas que escorriam pelo seu rosto.
Eu comecei a tentar pensar o que deveria ter acontecido, não prestei muita atenção à aula durante boa parte do dia.
Amélia foi ao banheiro na segunda ou terceira aula e deixou suas coisas lá, mas estava demorando de voltar, eu estava começando à ficar preocupada.
Seu celular havia ficado em cima da mesa e vibrava vez ou outra.
Numa dessas eu não me segurei, avancei e peguei o celular, com o pensamento de que poderia ser importante ou que eu poderia ajudar.
" Acabou, já não amo mais você"
Era o que estava escrito, foi a última mensagem de um número desconhecido.
