Enquanto eu estava tentando sobreviver a uma reprovação, a parte mais difícil era ter que conviver com uma turma nova e nada agradável. O que vou dizer agora será interpretado como a fragilidade de uma amizade de infância, mas estar em uma nova turma me desconectou completamente dos meus amigos, ainda nos falavamos pelos corredores mas não era a mesma coisa.
Minha tia avó lutou muito para cortar as correntes de cumplicidade que a prendiam a mim para se libertar e se fazer presente onde precisavam mais dela, indo morar no Haiti com vários missionários, realizando projetos e cumprindo propostas que implantavam sorrisos nos rostos e amor nos corações da população castigada pela miséria, esse distanciamento me fez mal mas o fato dela espalhar seu amor por outros lugares me consolava. A adaptação foi um pouco dura pois tinhamos muita convivência antes, agora só me comunicava com ela através da tela de um computador ou celular, ainda assim sentia seu carinho mesmo de longe e isso foi direto para minha dimensão, passaram-se os tristes anos conforme a idade aumentava ia sendo cada vez mais inversamente proporcional à minha alegria, que ia se perdendo por acontecimentos em cadeia.
Após três anos se passarem, em 12 de janeiro de 2010, eu liguei a televisão para ouvir o que estava passando, até ouvir algo perturbador, após todos esse anos que a terra haitiana estava adormecida ela finalmente revoltou-se contra seus habitantes em forma de uma onda terremotos, eu não pude crer, me belisquei bastante, porque aquilo não parava? Será possível eu não estar sonhando? Ou melhor tendo um pesadelo? Peguei o telefone que escorregava no suor frio de minha mão, minha tia chegou a atender mas silenciou-se rapidamente, quando a poeira baixou, resgastes aconteceram aos montes, os dias que se passaram foram cruéis pois estávamos as cegas sem saber de notícias dela, até que no quinto dia ela conseguiu fazer contato e disse que ela e toda a equipe estavam bem, apenas um mês depois ela conseguiu retornar ao Brasil com ferimentos leves, ela teve que morar aqui em casa, por causa da falsidade de outros parentes ou até mesmo indisponibilidade.
Quando minha tia chegou, a princípio fiquei feliz, mas a felicidade passou tão rápido quanto um flash, pois eu teria que dividir o quarto com meu irmão e isso foi a gota d'água, não queria aquela maldição na minha vida, alguém para me humilhar constantemente, mas que não era melhor do que eu, nossos princípios entre irmãos nunca foram baseados em escrúpulos, a gente exagerava um com o outro sempre, esborrando as barreiras da moral, exageros que geralmente não vinham de mim. A definição real do meu irmão por si só é um exagero que extravasa qualquer fio de ética, fazendo uma pequena análise sem xingamentos, ele é uma pessoa sem respeito e sem empatia que contamina os outros rapidamente, eu fugia bastante desse processo porque é irreversível, até a aparência dele era ruim, só sei disso através dos comentários maldosos e provavelmente verdadeiros de pessoas fúteis que insistem em nos rodear e falar futilidades, agora como notaram estou aproveitado para detalhar esse cara, já que é parte importante da história.
A minha adolescência tá chegando na mente, porque no corpo já havia chegado a tempos, minha dimensão estava louca, cheia de mutantes derivados de tantos pensamentos errados e irresponsáveis que eu tinha, só eu estava correto, o neurotransmissor mais liberado era a adrenalina, eu tinha emoções loucas, inseguranças, desejos e sensação de superioridade, mas isso é assunto para o nosso próprio encontro, um tema complexo o suficiente para tem um tempinho reservado só para ele.
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Minha Dimensão Invisível
RandomA maioria das pessoas cegas tem uma "visão" diferente das demais pessoas, elas podem "enxergar" muito além do que bilhões de pessoas jamais saberão, no mundo delas, podem ser felizes e, muitas vezes, preferem estar nele do que conviver com o mundo...