O incentivo que eu recebi por parte de algumas pessoas era eficiente, pois ele estimulava o desabrochar dos meus talentos. Uma porção importante desse incentivo veio das minhas amizades na escola, que eu só comecei a ter aos 6 anos e que, além de amizades, eram fontes de muitas confusões. Pelo que me recordo, eu tinha exatamente quatro amigos a Júlia, a Carol, o Mateus e o Lucas, a gente não se desgrudava quase nunca, Mateus era o mais levado dos quatro e quando ele se dava mal sempre fazia com que um de nós se desse mal também, inclusive para ter companhia no castigo, certa vez ele invadiu a sala dos professores para pegar as respostas da prova de matemática, e me deixou na porta, enquanto a Júlia vigiava no corredor, mal sabia ele que havia uma câmera na sala que ficava bem atrás do armário mais alto, fora da vista de qualquer invasor. Eu sabia que se pegassem ele, me pegariam e pegariam a Júlia, mas ninguém nos pegou, ao menos aparentemente, no dia da prova nosso grupinho estava confiante de que todos tirariam 10, mas aí veio o 0 para todos, o 0 que nos fez perceber que tinham pegado a gente. A nossa armação foi considerada tão bem elaborada pelos professores que tivemos que cumprir duas semanas de castigo com a limpeza da escola, resolvendo problemas no quadro e todo tipo de tarefa que nos mantesse ocupados demais para cometer outro ato de mesma espécie, quando as semanas de castigo na escola acabaram minha mãe me impôs mais duas semanas de castigo em casa para eu repensar minhas atitudes, ou seja, passei um mês terrível por aquela operação não tão secreta, apesar desta e de muitas outras confusões, minhas notas eram muito boas, eu era o nerd do grupo e acabava ajudando a todos, principalmente em ciências naturais.
Passei a contribuir com doações e projetos em instituições que eu frequentava, ter contato com pessoas especiais era ótimo, sentia que não era o único diferente e podíamos nos complementar, nos unir para sermos grandiosos.
Na natação, a escola sempre prometia colocar os separadores das raias na piscina, mas nunca as colocava, todos reclamavam que eu esbarrava muito nos outros quando tava nadando, -Não olha por onde anda?! - Não, e eu estou nadando!!!, fora isso ter contato com a água nas minhas duas dimensões, era como uma eficiente terapia para mim, deslizava dinamicamente sobre ela, com o passar dos anos ganhei várias competições.
Apesar de cada conquista da minha vida eu era recatado em casa pois as pessoas a minha volta sempre me seguiam e tentavam me ajudar, a minha casa nunca saiu de mim e eu nunca sai dela, a única viagem que eu fazia era pela minha "visão", o lugar onde eu podia ver o que no mundo real não podia, ela era constantemente invadida, tantas cores, palavras e outras coisas. A cascata de informações que chegava era grande, mas Deus estava lá pra me guiar, o braile estava lá para eu compreender, a água estava lá para me acalmar, as boas ações e talentos estavam lá para eu me sentir grande.
No meio de tanta coisa boa sempre tem um mau retido pronto para ser liberado, e esse mau foi uma reprovação que me deixou em choque, foi no sexto ano aos meu 10 anos, na maldita matemática na qual eu nunca me dei bem, realmente foi muito difícil lidar com julgamentos, perguntas e reclamações do meu pai, uma verdadeira chatice, nossa relação sempre foi um pouco conturbada e isso não melhorou com o tempo, ter que aguentar isso nem sempre era fácil.
Já mencionei meu irmão, mas nunca especifiquei nada sobre ele, resumindo ele é insuportável, amo ele, mas não sinto que sou obrigado a aguenta-lo, brigamos muito já que ele é mais novo recebe toda a atenção, todos dizem que eu preciso dar exemplo mas ninguém se preocupa em fazer isso, assim como ninguém no mundo pensa em fazer a diferença, a responsabilidade é jogada de um lado para o outro, um perfeito jogo de vôlei que assisto em minha imaginação, não deixam a bola cair de jeito nenhum por isso não tem graça, nunca tem pontos porque ninguém tem razão.
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Minha Dimensão Invisível
AléatoireA maioria das pessoas cegas tem uma "visão" diferente das demais pessoas, elas podem "enxergar" muito além do que bilhões de pessoas jamais saberão, no mundo delas, podem ser felizes e, muitas vezes, preferem estar nele do que conviver com o mundo...