3 - Algo de errado

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Ele caminhou até seu carro e saiu, eu estava me sentindo esquisita, seu perfume ainda estava no ar e minha pele ainda arrepiada por seu toque, me lembrava do beijo que ocorreu a semanas atrás, mas seu cuidado comigo era melhor que qualquer noitada.

-Você não devia ter dito aquilo, Lucas! - me viro e ele me encarava encostado no batente da porta, seu olhar continuava a tentar me decifrar.

-Eu disse alguma mentira? - caminhei devagar para dentro passando por ele.

-Sim! - seus olhos se arregalam e vi que seus músculos se relaxaram.

-Então o que faria com ele lá em cima? - ele aponta para o andar acima com um olhar de confusão.

-Eu não sei... - caminho até o sofá de costas para a porta e me jogo ali. -Mas uma coisa tenho certeza... - consigo ouvir seus pensamentos de dúvida. -Eu não transaria com ele! - ele balança a cabeça não acreditando.

-Okay! - o ouço fechar a porta e caminha até parar a minha frente. -Mas nesse momento não me importo muito, pois quero dormir... - me sinto horrível por ouvir esse comentário dele, pois percebeu e foi aparente sua vontade para eu me sentir daquela maneira, mesmo que me apoiasse em tudo. -Vai precisar de algo, Eloah? - nego. -Ótimo, vou voltar para a minha cama!

Me afundo mais no sofá ao vê-lo se afastar subindo a escada em direção ao seu quarto, e coloco as pernas em cima da mesa de centro, fitei o grande quadro de navio que estava na parede da escada e comecei a perceber cada detalhe e a me lembrar como adquiri aquela obra.

Em Paris, em uma das grandes galerias, me apaixonei pela maneira que o artista pintava e não pensei muito para trazer para casa. Sendo dona das empresas Milok, meu tio havia deixado tudo para mim, principalmente depois de seu falecimento, fui a herdeira majoritária de oitenta por cento das ações, eu tinha tudo na minha vida, pelo menos, tudo o que os outros queriam.

Ao me lembrar do passado, algo surgiu em minha mente, principalmente um quadro que estava na minha salinha dos fundos perto da cozinha, observei a obra a parede e dei um leve sorriso de lado, se era para voltar as origens, aquele quadro guardado, seria meu ponta pé inicial.  

Então caminhei até lá devagar e sentindo o piso gelado abaixo de mim, abri a porta e o cheiro de poeira era forte me fazendo coçar os olhos e tapar o nariz. Procurei o interruptor com as mãos na parede e achei rapidamente me mostrando claramente a obra coberta por um pano marrom com teias bem grandes e me fazendo lembrar a razão de nunca ter me desfeito dele.

Respirei fundo, fazia tempo que eu não olhava de perto aquela obra e sabia que minhas lembranças iriam me atingir com tudo. Agarrei em uma das pontas do tecido e puxei com força fazendo uma nuvem de poeira subir e eu ter que abanar a mão para afastar o incomodo em meus olhos.

O quadro estava virado para a parede não me deixando visualizar a imagem, me dando uma leve frustração ao me recordar que sempre o via na sala quando era menor, puxei o quadro para fora e o virei colocando encostado na parede e a imagem para mim.

-Quanto tempo! - me sentei ao chão fitando a gravura ao dizer meus pensamentos em voz alta. -Mamãe ficaria brava comigo se visse onde parou depois de sua morte! - acabei rindo da situação, eu estava falando com um quadro, eu devia estar ficando maluca.

A imagem de Jesus Cristo no Getsêmani, olhando para o céu e com as mãos juntas em cima de uma raiz a mostra de árvore, orando. Fazia tempo que eu não me ajoelhava para orar, aquela gravura era uma das minhas preferidas, significava a Expiação do Salvador por nós e seu sacrifício pelos pecados do mundo, me dando um leve aperto conhecido por mim por saber que ele sofre por cada um de nós.

Gostava de olhar aquela cena mesmo pelo incômodo de saber a verdade e querer negar pois sabia que se eu precisasse dele, ele sempre estaria olhando por mim. Acabei sorrindo, eu não sabia o que havia acontecido para finalmente tirar aquele quadro do pó depois de tantos anos, e me peguei fitando a grande obra sorrindo. Fazia tempo que eu não tinha aquele sentimento de paz e calma de espírito, pensar no que eu aprendi na primária era raro, mesmo que fosse pouco meu conhecimento sobre o evangelho, aquilo já me mantinha satisfeita, mas algo estava me fazendo querer voltar a ouvir e sentir o evangelho.

Minha BênçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora