Para sua segurança.

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Sonho com uma floresta vazia e negra, apenas eu iluminava meu caminho, corria sem sentido algum e cada passo o barulho aumentava. Era um barulho irritante de batida, passos e gritos. Eu comecei a me sentir enjoada e acordei. Mas algo me fez pensar que o barulho não vinha do meu sonho...

Levou alguns minutos para os acontecimentos da noite anterior me atingirem, tudo veio de uma vez só e por um momento deixei as lágrimas caírem sobre meu rosto, só um minuto de fraqueza... Por um momento me permiti deixar ser como alguém normal... Eu não podia voltar para casa... Sei que foi apenas uma coisa sem fundamento o que eu ouvi da criatura, mas eu senti! Senti que havia verdade ali...
Oh Deus eu não podia ficar aqui também... outro baque me fez notar que o barulho realmente não vinha do meu sonho.
Senti meu peso em dobro ao levantar e meu passo vacilava a cada passo, minha cabeça já não girava mais, mas meu corpo parecia não pertencer a mim. Eu me sentia enjoada, cansada, tonta e exausta.
O corredor estava vazio e escuro, devo ter dormido por muito tempo já que novamente estava escurecendo o dia.
Ando lentamente até a escada me apoiando nas paredes para não cair. O barulho já tinha parado, mas ainda assim eu podia ouvir passos pela sala. Me escondo ao notar um homem com roupas engraçadas no centro da sala, muitos manequins e roupas de bonecas estavam jogados pelo chão.

- Eu sei que esta ai querida...

Eu congelo e dou um passo para trás, ele se vira e sorri para mim.

- Ora criança venha cá, deixe-me te mostrar algo...

Continuo parada enquanto ele vasculha as roupas jogadas no chão.

- Mas aonde será eu que deixei... Estava logo ali... Ou será que... Achei!

Ele levanta um pequeno vestido preto, o tecido era grosso e brilhante, notei quando a luz bateu nele e pequenos focos de brilho se iluminaram, fui me aproximando lentamente notando cada detalhe daquele belo vestido.

- Foi... foi você que fez?- não pude me conter e logo já estava com ele em minhas mãos, o tecido era macio contradizendo os meus pensamentos, coloquei ele de frente ao meu corpo e ele desceu até um pouco abaixo dos meus joelhos, a saia era rodada e marcada na cintura, um tipico vestido de boneca...

- A moça gosta?- ele parecia eufórico, como um artista que aprecia sua arte em uma exposição.

- Ele é lindo...- eu disse enquanto olhava cada detalhe dele.

Com uma habilidade quase não humana ele passou o vestido sobre minha cabeça e com a outra mão cortou minha velha camisola, assim que fechou os botões do vestido o outro caiu no chão sem vida, quase em humilhação a bela obra de arte que eu vestia agora, ele parecia brilhar mais em meu corpo.

- Ótimo só falta alguns detalhes...

Ele continuou seu trabalho agora concertando alguns botões e apertando um pouco mais o vestido, ele era tão rápido que e poucos minutos já havia terminado.

- Olhe só para você...- disse me virando com cuidado, tome isto acho que ficará perfeito.

Eram duas sapatilhas da mesma cor do vestido com pequenos saltos, eu me senti como uma verdadeira...

- Boneca...

- O que disse?- ele pareceu envergonhado, mas logo voltou a olhar para mim.

- Combinou perfeitamente com a senhorita... Ontem você estava tão acabada... desculpe se te ofendeu, mas para me desculpar pelo susto eu achei que o melhor seria te fazer algum agrado...- seu sorriso era fofo e seu jeito envergonhado me fez querer cuidar dele...

- Eu não tenho como agradecer senhor...

- Jason! Me chamo Jason o fabricante de bonecas.- o nome me causou um certo desconforto, mas tratei de ignorar.

- Muito obrigada Jason, pode me chamar de Eve...

- Espero que tenha gostado Eve. Ele realmente combinou com seus olhos.

Dizendo isso meus olhos subiram aos dele, e notei que um de seus olhos era mais claro que o outro e quase não se movia, em um lado se sua boca haviam alguns pontos de custura.

- Oh meu Deus você está bem?

Ele virou o rosto novamente e se afastou, começou a pegar suas roupas e sem dizer mais nada saiu da sala, droga... aposto que foi algum acidente grave e eu aqui sendo grosseira.

Mas com o silencio notei novamente que estava sozinha na sala, um calafrio percorreu minhas costas agora mais expostas pelo corte do vestido, onde eu estava? Precisava ir para casa isso sim, mas preferi me sentar no velho sofá enquanto um barulho irritante voltava a se instalar em minha cabeça.

- Que bom que já está acordada Eveline.

Uma voz fria veio em minha direção me tirando de meus devaneios, me levantei na mesma hora e corri meus olhos pela sala, mas não vi ninguém.

- Quem esta ai? Jason?

Comecei e me sentir com medo.

- Olhe só para você... Acordou muito bem.- De repente notei alguém saindo das sombras, era ele... O homem de terno que vi outro dia no meu quintal, ele não tinha rosto! Eu estava certa... dei alguns passos para trás tentando me afastar.

- O que é você?

Ele pareceu continuar calmo, mantendo a distância entre nós, notei que ele não estava com os tentáculos como da ultima vez.

- Sou alguém que veio para te ajudar, calma criança aqui você estará segura.

Sem querer deixei uma risada irônica escapar.

- Aqui é tudo, menos seguro...- me virei para direção da porta, se ele ainda não me atacou com certeza não iria me obrigar a ficar.

- Então acha mesmo que estará segura com Max?

Eu parei em panico, como ele sabia? Como ele conhecia Max? Me virei em direção a ele.

- Como você sabe o nome dele?

- Você ouviu não ouviu? Elas te alertaram na noite anterior... você sabe que não estou mentindo.- disse ele ou o que quer que seja aquela coisa ignorando minha pergunta.

- Como você sabe disso tudo?

- Eu sei de tudo criança.- ele mantinha uma calma quase intacta.

Sua voz não tinha sentimentos, notei que ele falava sério, não estava segura em lugar algum...

- A escolha é sua, aqui ninguém irá te tocar sem minha autorização, mais fácil ter assassinos em sua proteção do que contra você, pense nisso criança.- Dizendo isso ele passou por mim me deixando sozinha novamente naquela sala.

Aquilo me atingiu como uma ameaça, amargo e sem vida, eu me sentia fraca novamente, sem ar, sem vida, sem emoção. Tudo o que passei uma vida fugindo estava voltando agora para me assombrar. Eu não tinha para onde ir... Só havia um lugar... Não, afastei esse pensamento da minha cabeça. Esse problema era meu, e eu teria que arcar com ele sozinha...

Sai pela porta sem rumo, precisava descansar, sei que Max não estaria em casa. Era o horário em que ele trabalhava, eu estava com fome e só queria descansar, precisava voltar a minha vida normal.

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