Vai ficar tudo bem.

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- O Que. Houve. Com. Você?

Marcus disse parando em minha mesa. Eu sabia que estava péssima.  Faltei por dois dias, dias que passei deitada vegetando em meu quarto. Não queria acordar...
Tudo havia acontecido rápido demais.  E quando dei por mim estava sendo perseguida por sei lá quem.  E do nada conhecido meu avô que eu não sabia que existia.  Minha cabeça latejava só de lembrar...
- Bom dia pra você também.
Me levantei pegando minha bolsa e saindo da sala.
- Eu diria bom dia se você merecesse...
Olhei para trás enquanto ele ajeitava seu paletó.  Ele estava impecável,  seu uniforme caia perfeitamente em seu corpo. A única coisa fora do normal era seu cabelo um pouco despenteado.
- O que você quer dizer?
- Você sumiu por dois dias mocinha. Não merece um bom dia.
Ele disse com humor.
- Talvez eu tivesse um motivo para isso.
Disse me virando rápido demais e sem querer esbarrando em alguns armários.  Sinto sua mão tocar em meu braço.
- Você está bem?- sua voz estava séria.  E notei seu olhar sincero de preocupação.  Sem querer uma corrente de sentimentos me invadiu.
Sinto um peso sair do meu peito.  Por todo esse tempo sinto que era só isso que eu precisava... alguém para me perguntar se tudo estava bem. Sentindo as lágrimas encherem os meus olhos acabo abraçando Marcus. Ele ficou tenso de início,  mas logo sinto seus braços correrem pelas minhas costas. Pessoas passavam por nós e curiosas começaram a se aglomerar por perto.
- Precisamos sair daqui tudo bem?- sua voz estava em meu ouvido. Acenei com a cabeça enquanto ele gentilmente me levava para fora da escola. 
Ao invés de me deixar na entrada ele me levou até a garagem e destravou as portas de um carro chique.  Como não sabia nada sobre marcas me contentei apenas em saber que ele era preto e muito bonito. Marcus então abriu a porta para mim e logo já estávamos saindo da escola. 
Não disse nada durante o caminho,  e nem ele. Apenas por alguns minutos eu apenas me deixei levar. Após algum tempo estávamos em frente a uma casa enorme e linda.
- Caramba... Sua casa é incrível...
Ele riu enquanto estacionava o carro na garagem.
- E como sabe que é minha casa?
- Acho que ninguém gastaria tanto para um cativeiro...
Rimos e ele me acompanhou até a entrada. Era ainda mais bonita por dentro. Com certeza a família dele gastou bastante para a decoração.
- Se você puder parar de babar pela minha casa eu te levo até a cozinha.- ele levantou uma sobrancelha enquanto indicava para uma porta grande.
Assim que entrei ele puxou uma cadeira ao lado do balcão.
- Sua cara está implorando para um chá. 
Eu ri, mas não neguei. Continuei observando enquanto ele caminhava pelo espaço.  Pegando chaleira, chá e copos ele era todo movimentos articulados. Seu cabelo as vezes caía no rosto e ele apenas o assoprava para longe. De vez em quando ele me olhava com um sorriso divertido.  Seus olhos eram calorosos, mas não como os de alguém... tentei afastar ele da minha mente, mas seus olhos penetrantes já estavam me encarando em minha mente.
- Pelo visto o chá terá que ser reforçado.
Pisquei e ele estava em minha frente. Marcus estava apoiado do outro lado do balcão,  seu paletó pousava na cadeira e sua camisa estava dobrada até os cotovelos. Notei seus músculos quase definidos.
- Só estava fora de mim...
Ele riu novamente e veio se sentar ao meu lado.
- Isso eu notei já faz um tempo. Quer conversar sobre?
Fiz uma careta,  mesmo se eu quisesse não poderia colocar ele no meio dessa confusão toda.
- Estou naquele momento da vida que tudo acontece rápido demais.  E sem aviso prévio...
Ele concordou e olhou para o chão.
- Todos passamos por isso...
Olhei para ele e seus olhos encontraram o meu. Era estranho... um garoto bobo que eu nunca conversei na vida estava me ajudando a tirar um enorme peso de mim. Notei compreensão em seus olhos e isso foi o bastante.
- Se continuar me olhando assim vou ser obrigado a te mostrar o meu quarto.
Meu rosto corou enquanto ele gargalhava. Bati em seu braço e logo também estava rindo junto com ele.
- Você devia ter visto a sua cara. Foi impagável.
- Você me paga!
Rimos por mais um tempo até a chaleira apitar me fazendo pular da cadeira.
- Ei calma... vou preparar o seu chá.
Acalmei meu coração quando uma questão veio em minha cabeça.
- Onde estão os seus pais?
Notei seu corpo ficar tenso. E ele não respondeu até voltar com as xícaras.
- Digamos que eles estão mais ocupados em viajar pelo mundo e fingir que tem classe.
Ele riu, mas notei dor em seus olhos.
- Os pais perfeitos...
Disse e ele riu. Funcionou.
- E o seus pais Eveline?
Olhei para ele. Era estranho ouvir meu nome sair de sua boca.
- Eles... Não estão mais aqui...
- Nossa... perdão eu não quis ser indelicado.
- E não foi. Eles se foram e já faz muito tempo. É  a vida.
- Você mora com quem?
Ele voltou a sentar ao meu lado enquanto eu tomava um gole do chá de camomila.
- Com o meu tio Max. Ele vive trabalhando, mas é o melhor que posso ter.
Sinto um aperto no peito ao lembrar da falta que ele fazia... Queria que ele voltasse logo.
- Que coisa... eu vivo sozinho e não posso reclamar.
Ele disse cruzando os braços atrás da cabeça.
Aproveitei a deixa para fazer cócegas nele.
- Ei sua maluca!- Disse entre gargalhadas- Pare isso é terrível!
Continuei até ele me puxar e os dois cairem no chão.  Ele veio pra cima de mim e logo eu estava sofrendo com as cócegas.
- Você me paga!
Então ele parou e deitou ao meu lado e ficamos os dois olhando para o teto.
- Obrigado.
Ele disse por fim. Olhei para ele sem entender, mas seus olhos estavam longe.
- O que você quer dizer?
- Nunca ri tanto na minha vida...
Ele sorriu para mim me contagiando com seus olhos.
- Eu que agradeço Marcus. Você nem me conhecia e ainda assim me ajudou mais do que imagina. Vou ser sempre grata por isso.
Sinto sua mão colocar meu cabelo atrás da orelha e um frio na barriga me percorrer.
- Você pode sempre contar comigo.
Sorri com sinceridade e segurei sua mão.
- Obrigada.
Ele permaneceu me olhando, enquanto nossas mãos pousavam em meu rosto. Logo ele pareceu voltar ao normal.
- Vamos mocinha. Como um bom homem que sou vou te levar para casa antes de anoitecer ou que eu seja obrigado a te mostrar meu quarto.
Ele se levantou e mesmo rindo me senti meio melancólica por partir.
Saímos sem dizer nada e logo estávamos na frente da minha casa.
- Quem precisa de GPS quando se tem Eveline do lado.
Ele riu e foi abrir a porta para mim. Com certeza ele era um cavalheiro.
- Obrigada Marcus...
- Não há de que Eveline...
Nos abraçamos e ele enfim voltou ao seu carro, logo já estava longe da minha vista.
- Até logo bobão...
Fiquei sorrindo enquanto olhava a estrada já vazia.

- Falando sozinha agora Eve?
Sinto um frio na barriga ao ouvir a voz atrás de mim. Mas assim que me viro não consigo segurar a emoção.  Tudo a minha volta pareceu voltar ao eixo apenas por olhar seus olhos azuis. Corri até seus braços não me importando com tudo que havia acontecido. Ele estava aqui agora.  E eu sabia que tudo ia ficar bem.

- Senti tanto sua falta tio Max...

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