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Depois de ter enxugado o meu cabelo e vestido uma roupa simples -jeans rasgadas e uma sweat preta com uns ténis todos pretos também- estava no carro do Jason a ir para escola. Tudo aquilo me parecia errado. Eu sabia que se continuasse tão perto dele iria acabar por me apaixonar mais e mais. Mas eu não me conseguia afastar.

Tirei os olhos da janela e olhei para ele concentrado a conduzir. As suas sobrancelhas franzidas em concentração e a sua postura direita mas ao mesmo tempo descontraída. O cabelo puxado cuidadosamente para trás como sempre e o maxilar cerrado. Dei por mim a sorrir. Ele ficava sexy assim, aliás, ele ficava sexy de qualquer maneira. O cigarro por entre os seus lábios e o ar relaxado com que soltava a fumaça fazia-me sorrir ainda mais largo. O Jason era simplesmente hot até a destruir-se por dentro. E eu começava a apaixonar-me verdadeira e gravemente por ele.

« Acho que os dois sabemos que eu não sou e eu não estou a ser um Peter. » as suas palavras voltaram a aparecer « Eu sei o que estou a fazer. »

Ele estava enganado. Até a maneira como ele fumava era como Hanna descrevia Peter. E agora comecei a perceber mais coisas sobre ele apenas a ler o livro.

Se ela quiser ter algo comigo não será mais da sua conta porque você humilhou a Nora e depois expulsou-a de casa.

Ainda nem acreditava que ele me tinha defendido da minha mãe. Como é que ele era capaz de achar que não era o melhor para mim?

"Queres ir comer qualquer coisa? Há um café aqui perto." A sua voz corta os meus pensamentos e movo o meu olhar para o tablier quando reparo que ele me viu a encará-lo. Um calor cobre-me as bochechas e sinto-me envergonhada.

"Depende," comecei e ri-me "Já fodeste com a empregada?"

Esta era a minha maneira de suavizar a situação. De fingir que não me importo e de encarar isto mais de uma maneira desportiva.

Permaneceu sério e apercebi-me que não tinha gostado da brincadeira.

"Não teve piada, Nora."

"Desculpa, só quis desanuviar o ambiente. Estas com essa cara desde a casa de banho, porque és tão bipolar?" voltei a olhar para ele "Ainda á bocado podia ter-te chamado as piores coisas e não estavas nem ai e agora digo uma simples coisa e pronto."

Respirou na procura de paciência "Eu estava com a porra de uma ereção e tu molhada á minha frente, queria lá saber a merda que dizias."

E voltamos ao mesmo, á humilhação do costume.

"Vais humilhar-me por isso?" cruzei os braços chateada "Torturar-me em cada discussão ao lembrar-me disso?"

"Eu sei que não devia ter feito isso." Um suspiro caiu dos seus lábios. Ele estava a pedir-me desculpa? Bem que devia pedir.

Dei de ombros "Esse és tu, arranjas as fraquezas das pessoas e explora-as para as deitares a baixo."

Eu sabia que ele não tinha gostado de ouvir aquilo mas por mais que gostasse dele, eu sabia que era verdade.

Suspirou, carregado de frustração e apertou o volante de tal maneira que pude notar os seus nós dos dedos ficarem brancos "Fodasse, Nora! Podemos estar bem um bocado, por favor?"

Cruzei os braços "Como queiras."

"Tu também."

Ambos sorrimos ao lembrarmo-nos daquilo que o professor de literatura disse. Depois disso decidi ler 'A Melodia do Adeus' e acabei por gostar mais do livro do que aquilo que eu pensava. O Jason fazia-me tão mal. O Jason fazia-me tão bem. Era confuso e devastador. Por vezes a sua maneira natural de ser acabava por amainar o ambiente e deixando-o de novo leve. Era agradável estar com ele desde que não começa-se a armar-se em idiota ou em durão como se nada o atingisse. O Jason era sem duvida uma das pessoas que adorava a companhia.

Criminal Life  |J.B|Onde histórias criam vida. Descubra agora