081

45 1 0
                                    


Não me conseguia mexer. Sentia os meus braços e pernas de tal maneira congelados que nem conseguia abanar o Jason ou chamar por ele porque a minha boca estava seca como se não bebesse água há dois dias.

Quase que o consegui sentir com um sorriso malicioso quando se afastou e pôs a arma no cós das calças. Não se virou de costas, em vez disso caminhou em marcha atrás e senti o meu estômago contorcer.

O que me assustava não era o facto de ter uma apontada a mim mas sim o que aquilo significava efetivamente «A próxima serás tu». Agarrei-me ao Jason como se estivesse a tentar salvar-me de um penhasco ou as minhas pernas não aguentassem o meu peso e ele segurou-me, percebendo que eu não estava bem. Os seus olhos preocupados observavam todo o meu corpo como que para se certificar de que eu não tinha sido atingida e eu agarrei o colarinho da sua camisa.

Depois os meus olhos moveram-se para o corpo no chão, a Leah ajoelhada de um lado, o John a tentar estancar o sangue. Cai de joelhos no chão e caminhei até perto da Emma, observando o seu rosto inerte e cada vez mais branco. Apertei a sua mão e encostei a minha testa a esta, deixando agora as lágrimas caírem.

"Desculpa." Solucei "Desculpa não te ter conseguido proteger."

Tinha plena noção que estava a falar apenas para mim devido ao facto de o barulho à volta ser muito superior ao da minha voz.

Apertei os olhos com força e o meu corpo tremeu com um soluço forte.

A Emma ajudou-me imenso a ultrapassar uma das piores fases da minha vida e eu não fui capaz de protegê-la. Tirei-a do perigo para depois fazer com que fosse assassinada em pleno fim de ano, numa rua apinhada de gente enquanto ela celebrava a vida, o amor e a amizade.

-

"O café deve de estar a escaldar." A sua voz fez-se ouvir à medida que se sentava aos meus pés no sofá da sala.

Os meus olhos estavam fixos no chão brilhante da sala e o único movimento que faziam era para fechar. Movi-o lentamente para a mulher de cabelos curtos à minha frente, que esperava pacientemente para que eu recupera-se e pudéssemos ir para o velório.

"Obrigada." Disse, finalmente.

Um suspiro caiu dos seus lábios e apertou-me os pés por cima da manta, algo que costumava fazer quando eu era mais pequena e estava triste com coisas como «perdi o meu carro de brincar favorito». Mal sabia eu que a dor de perder alguém –especialmente se a culpa for nossa – é muito mas muito superior.

"Não precisas de ir, se achares que te vai fazer pior."

Abanei negativamente a cabeça "Eu tenho de ir mãe. Ela ajudou-me muito e foi culp-"

Interrompeu-me com um olhar severo e uma voz firme "Não te atrevas a dizer que a culpa foi tua, Nora Montgomery! Não foste tu que a tiraste deste mundo, foi aquele monstro!"

Mordi o lábio inferior numa tentativa de controlar o choro.

Depois de tanto tempo a chorar antes de dormir nem sei como ainda conseguia ter lágrimas para deitar fora.

"Se eu a tivesse conseguido proteger..."

A caneca foi-me tirada das mãos e pousada na mesa de centro da sala. A minha mãe agarrou-me nas mãos e encarou-me "Se não a tivesses salvado naquele dia, se calhar ela nunca teria tido um pouco de felicidade e acabaria por morrer na mesma, querida. Ele era um monstro e se não a matasse por isso, seria por outra coisa qualquer. Tu deixas-me orgulhosa com as coisas que fazes e esta foi uma delas! Sei que és uma menina forte e que consegues ultrapassar isto por isso dá luta a essa tua mágoa, não a deixes vencer."

Criminal Life  |J.B|Onde histórias criam vida. Descubra agora